O Parlamento egípcio aprovou uma extensão do mandato presidencial e reforço dos poderes do actual líder Abdel-Fattah al-Sisi. Para que estas medidas entrem em vigor só falta agora a sua votação no referendo popular.
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No Egito, o Parlamento aprovou nesta terça-feira (16.04.) por larga maioria um pacote legislativo que garante o prolongamento do mandato presidencial de quatro para seis anos e também a possibilidade de o Presidente concorrer a um terceiro mandato, permitindo que Abdel-Fattah al-Sisi permaneça no poder até 2030. Agora as emendas constitucionais serão submetidas a um referendo nacional para legitimar a sua implementação.
O Presidente do Parlamento, Ali Abdel Aal, foi informado dos resultados da votação deste pacote legislativo e divulgou os resultados. "Fui informado pela Secretaria Geral que o resultado da votação foi o seguinte: 554 membros participaram 531 votaram a favor, 22 contra e um membro absteve-se. Portanto, atingiram-se os dois terços da maioria necessária para a aprovação das emendas constitucionais."
Foi este o resultado da votação das reformas constitucionais. Uma sessão na qual não foi permitida a presença de jornalistas estrangeiros. A grande maioria do Parlamento, que possui 596 deputados, votou a favor das mudanças que ampliam o poder e o mandato de Abdel-Fattah al-Sisi. Uma vitória previsível, já que a maior parte dos parlamentares são apoiantes do Presidente.O deputado Rashad Shukri justificou o resultado da reiterando o seguinte. "Temos total confiança na liderança política e em termos do que foi alcançado no terreno para estabilidade, segurança e proteção, por isso aprovamos as emendas constitucionais."
Poderes presidenciais alargados
Além do prolongamento do mandato presidencial de quatro para seis anos e a possibilidade de um terceiro mandato, os parlamentares também aprovaram uma emenda que permite que o chefe de Estado possa designar os responsáveis pelas instituições da justiça e chefiar um conselho judicial superior. A reforma constitucional também dá maior protagonismo ao exército.
A oposição, que controla apenas 10% do parlamento, condenou as emendas aprovadas pela maioria parlamentar, classificando-as como "desgraça", segundo a imprensa local.
Grupos ligados aos direitos humanos criticaram o pacote legislativo aprovado pelo parlamento afirmando que estas emendas minam a democracia no Egito ao colocar muito poder nas mãos do Presidente e ameaçando a independência do poder judicial. Também criticam o facto de as reformas serem propostas apenas cinco anos depois de a atual Carta Magna ter entrado em vigor no país. Várias organizações não governamentais lamentaram ainda o facto de o prolongamento do mandato presidencial ir contra o espírito da Constituição anterior, que visava aumentar a alternância do poder no país.
Egito: Parlamento aprova possível extensão de mandato presidencial de Al-Sisi até 2030
Referendo nacional
Agora, as mudanças na Constituição votadas pelo Parlamento deverão ser aprovadas num referendo nacional, que deve ser realizado antes do mês sagrado do Ramadão, programado para começar no início de maio. No Cairo, grandes cartazes já podem ser vistos por toda a cidade, incentivando as pessoas a votarem a favor das mudanças.
O líder parlamentar Abdelhadi Alkasaby garante que será feita a vontade popular. "No final, o que permanece é a decisão daqueles que possuem a soberania, o povo egípcio."
Abdel-Fattah al-Sissi assumiu o cargo em 2014, um ano depois de liderar a saída do Presidente Mohammed Morsi, após protestos em massa contra o Governo. No ano passado, al-Sisi foi reeleito com 97% dos votos em uma eleição na qual enfrentou apenas um adversário pouco conhecido.
Entretanto, organizações da sociedade civil acusam o Governo de al-Sisi de reprimir os direitos humanos no país, com milhares de opositores atrás das grades. O Presidente defende-se dizendo que o país está em guerra contra o terrorismo.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.