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Egito sob pressão com ataques dos Houthi no Mar Vermelho

Kersten Knipp | Mahmoud Hussein
26 de janeiro de 2024

Os ataques das milícias Houthi à navegação no Mar Vermelho estão a tornar-se um grande problema para o Egito. Muitas embarcações evitam agora as rotas do Mar Vermelho e o Canal do Suez, colocando o Cairo num dilema.

Navios no Canal do Suez
Navios no Canal do SuezFoto: U.S. Navy/abaca/picture alliance

Os ataques das milícias iemenitas Houthi contra a navegação internacional no Mar Vemelho têm tido um grande impacto na economia do Egito. O país do Nilo está a perder um montante considerável em taxas de trânsito por causa dos muitos navios que passaram a evitar o estreito entre a Península Arábica e o nordeste de África - e, portanto, também a passagem pelo Canal do Suez.

Entre 2022 e 2023, o canal garantiu ao Egito cerca de 9 mil milhões de dólares norte-americanos (cerca de 8 mil milhões de euros) em taxas de trânsito. Agora, há indicações de que este ano o valor deverá ser consideravelmente inferior.

Osama Rabie, diretor da Autoridade do Canal do Suez, afirmou num canal de televisão egípcio que as receitas caíram 40%, em comparação com o ano passado e que o fluxo de navios entre 1 e 11 de janeiro desceu 30% em comparação com 2023.

Segundo a agência noticiosa Reuters, em vez dos 777 navios que navegaram no canal no ano passado, apenas 544 fizeram a viagem no início de 2024. Ao mesmo tempo, o tráfego em torno do Corno de África aumentou pelo menos 67%, de acordo com a Plataforma PortWatch, do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O Egito reagiu rapidamente à nova situação de segurança, aumentando as taxas de navegação entre 5% e 15% para atenuar as perdas. A aplicação da nova tabela entrou em vigor em janeiro.

Fotografia fornecida pelo centro de comunicação social militar Houthi, a 21 de novembro de 2023, mostra um helicóptero Houthi a sobrevoar o cargueiro Galaxy Leader enquanto os rebeldes assumem o controlo do mesmo no Mar VermelhoFoto: Houthi Military Media Center/picture alliance/dpa

Economia egípcia sob pressão

A perda de receitas resultante da redução do tráfego no Canal do Suez atinge o Egito numa altura em que o país já está a braços com vários sintomas de crise económica, como a diminuição das exportações de gás natural, a redução do turismo e a diminuição das remessas dos emigrantes.

O German Trade and Invest (GTAI), um serviço de informação económica, prevê que o PIB do Egipto diminua de cerca de 475 mil milhões de dólares em 2022 para cerca de 357 mil milhões de dólares no final de 2024. A dívida pública é atualmente de cerca de 88% do PIB e os números indicam também que a inflação deverá aumentar para mais de 32%.

E a situação no Mar Vermelho está a agravar a crise, considera o economista Ahmed Zikr Allah, antigo professor da Universidade de Al-Azhar, no Cairo, e que agora ensina em Istambul, na Turquia. "Neste momento, mais de metade dos egípcios vivem abaixo do limiar da pobreza. A perda de receitas do Canal do Suez está a afetar ainda mais o país", explica o professor, em entrevista à DW.

Isto, juntamente com a queda da libra egípcia, pode colocar o Governo do Cairo numa posição de incumprimento no pagamento das suas dívidas, lembrando que "nesse caso, o país ficaria dependente de outro empréstimo do FMI".

Um navio da Marinha dos EUA é fotografado a lançar mísseis de cruzeiro Tomahawk contra alvos Houthi no Iémen, a 11.01Foto: U.S. Central Command/UPI Photo/Newscom/picture alliance

Egito não participa em ações militares

Ainda assim, o Egito tem afirmado que não vai participar em operações militares para garantir a passagem segura dos navios no Mar Vermelho. Stephan Roll, especialista do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), com sede em Berlim, diz que o Cairo tem boas razões para não o fazer. Segundo Roll, o Governo egípcio terá certamente reconhecido que operações como as que o Reino Unido e os EUA estão a levar a cabo não têm qualquer hipótese de garantir a passagem segura dos navios na região a longo prazo.

"A ideia de que se pode atingir os Houthi de tal forma com ataques direcionados que eles deixem de poder ou mesmo de querer voltar a atacar o tráfego marítimo é um pouco ingénua. Penso que o Cairo também deve estar a ver as coisas dessa forma", afirma.

Quando o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egito abordou a questão na sexta-feira passada (19.01), fê-lo com grande relutância. Manifestou "profunda preocupação" com a escalada das operações militares no Mar Vermelho, afirmando que "é fundamental aproveitar os esforços internacionais e regionais para reduzir a tensão e a instabilidade na região, incluindo a segurança dos navios que transitam no Mar Vermelho".

As declarações foram vistas mais como uma explicação diplomática do que uma listagem clara de opções concretas. Não se falou de envolvimento militar nem de participação nas iniciativas dos EUA dirigidas aos Houthi. O Bahrein foi a única nação árabe que aderiu à coligação liderada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido.

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O peso das consequências internas

Segundo Roll, as autoridades egípcias poderão estar também a considerar as implicações internas do seu plano de ação. Os egípcios, de um modo geral, saúdam o facto de os Houthi afirmarem estar a defender a população de Gaza ao atacarem navios que consideram estar ligados a Israel.

"Se o Governo do Cairo estivesse de alguma forma envolvido em ataques militares contra os Houthi, haveria protestos em massa", disse Roll. "Acrescente-se a isso o facto de muitos indivíduos da elite da política de segurança terem agora sérias reservas em relação a Israel".

Nos círculos de segurança do Cairo, continua o analista, reconhece-se que as ações dos Houthi não têm sido especialmente eficazes a forçar Israel a mudar de rumo em Gaza. "Mas esperam que as atividades exerçam pressão sobre Israel e os seus parceiros. Essa é outra razão pela qual a vontade de ir atrás dos Houthi tem sido silenciada".

O cientista político Mustafa Kamel al-Sayed, da Universidade Americana do Cairo, tem uma visão semelhante. Afirma que o Reino Unido e os EUA estão a tentar proteger Israel de qualquer pressão externa e lembra que os EUA também continuam a rejeitar os apelos árabes a um cessar-fogo. Segundo al-Sayed, esta é outra razão pela qual países como o Egito e a Arábia Saudita se abstiveram de se juntar à coligação anglo-americana. Na situação atual, afirma, integrar a campanha norte-americana poderia ser interpretado como ajudar Israel.

Compreensão em Washington

Poderão as reservas do Cairo em relação às operações militares contra os Houthi levar ao aumento da tensão com os EUA? Para al-Sayed, isso é pouco provável. Muitos países, incluindo vários no Ocidente, abstiveram-se de aderir à coligação liderada pelos norte-americanos. Por isso, a ausência do Egito não parece especialmente grave.

"Haverá, sem dúvida, uma certa compreensão face à posição do Cairo em Washington", diz Stephan Roll, uma vez que as autoridades norte-americanas "sabem quão impopulares são as políticas de apoio a Israel no Egito e como qualquer sugestão nesse sentido representaria um sério risco político". Agir contra os Houthi seria uma política muito impopular aos olhos do povo egípcio, sublinha o especialista alemão. "É algo de que Washington está bem ciente".

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