ElBaradei e líder religioso reforçam desafio a poder militar no Egito
25 de novembro de 2011 No dia 28 de novembro realizam-se eleições parlamentares no Egito. As primeiras após o derrube do regime de Hosni Mubarak, em fevereiro deste ano, e que supostamente seriam livres e justas. Mas, o país ainda está na mão dos militares e os ativistas receiam que lhes queiram roubar a revolução.
"Sempre que eu marcho aqui penso na liberdade e na nossa luta para a alcançar", diz Sherif Alaa Abdel Azim, um manifestante, enquanto desce a Kasr al-Ainy, uma rua no centro da capital Cairo, e que desagua na Praça Tahrir (epicentro da insurreição popular que acabou por levar à renúncia de Mubarak, em 11.02).
Abdel Azim estava entre os milhares de egípcios que se concentraram na praça na sexta-feira (25.11) para exigir agora a saída imediata dos militares que detêm o poder no Egito, depois de uma semana de protestos violentos que causaram a morte a pelo menos 41 pessoas e fizeram mais de 3 mil feridos.
O antigo chefe da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Mohamed ElBaradei, que é apontado como um candidato às prometidas eleições presidenciais, juntou-se à multidão. À sua volta canta-se o hino nacional egípcio e grita-se "o povo quer a partida do marechal". O marechal é Hussein Tantaoui, chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas, que assumiu o poder após o derrube de Mubarak.
"Estamos aqui para dizer ao conselho militar que ele deve ficar afastado e entregar o poder pacificamente. Era o que deviam ter feito desde o início. Nós passámos de Mubarak para os militares", alerta um manifestante. "Nós temos uma visão e não queremos mudanças graduais. Não, queremos eleições livres e justas", exige outro.
Principal autoridade muçulmana do Egito engrossa apoio a manifestantes
O protesto recebeu já esta sexta-feira o apoio do grande imã d’Al-Azhar, principal autoridade muçulmana no país, engrossando cada vez mais este desafio à autoridade do Conselho Militar. "O grande imã apoia-vos e reza pela vossa vitória", afirmou o representante do imã, dirigindo-se aos manifestantes na praçaTahrir, após as orações da manhã que se realizaram no local.
Uma das grandes questões que se colocam neste momento é se o Egito conseguirá transformar-se numa verdadeira democracia. Kerstin Müller, deputada e porta-voz para política externa do partido alemão Os Verdes, diz ter "muitas dúvidas que o Conselho Militar esteja na realidade disposto a organizar a transição e com isso perder o seu poder económico e político. O processo de transição deveria durar seis meses e agora só deverá terminar em 2013", considera a deputada. "Se terminar. Na minha opinião cabe agora à União Europeia dizer de uma forma clara que os militares têm de entregar o poder a um governo legítimo político", afirma.
Autora: Helena de Gouveia
Edição: Renate Krieger / António Rocha