Eleição em Marromeu: RENAMO recorre ao Constitucional
Leonel Matias (Maputo)
4 de dezembro de 2018
Em Moçambique, aumenta a contestação aos resultados da repetição das eleições autárquicas na vila de Marromeu, a 22 de novembro. Bispos católicos criticam "forjamento" de editais. RENAMO interpôs novo recurso.
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A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) interpôs recurso ao Conselho Constitucional, afirmando que a repetição das eleições autárquicas em Marromeu, que dão vitória ao partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), foi fraudulenta. A embaixada norte-americana também se mostra "preocupada" com "irregularidades" no escrutínio.
Eleição em Marromeu: RENAMO recorre ao Constitucional
Os bispos católicos moçambicanos consideraram, na segunda-feira (03.12), que "a repetição da votação em Marromeu não repôs a credibilidade do processo eleitoral, tendo resultado em piores arbitrariedades".
Numa carta pastoral, a Comissão Episcopal de Justiça e Paz, órgão que reúne os bispos católicos moçambicanos, afirmou que a eleição foi marcada pelo forjamento de editais na ausência dos membros das duas forças concorrentes da oposição, a RENAMO e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
"Isto manifesta um claro desacato à decisão do Conselho Constitucional de retomar as eleições em moldes claros e transparentes", referiram os bispos católicos. A comissão exortou as instituições relevantes a trabalharem no sentido de repor a ordem e justiça nos resultados eleitorais e punir os responsáveis.
RENAMO recorre a Conselho Constitucional
O escrutínio em Marromeu foi repetido em oito mesas na sequência da invalidação dos resultados pelo Conselho Constitucional, devido a irregularidades.
O apuramento geral dos resultados divulgado na semana passada (29.11) pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) atribui a vitória à FRELIMO, com uma margem de 46 votos em relação à RENAMO.
Sete dos 17 membros da CNE não subscreveram a deliberação daquele órgão, depois da rejeição da sua exigência para a recontagem de votos. O grupo denuncia, entre outras irregularidades, a existência de disparidades nos números apurados localmente em Marromeu e no processamento realizado ao nível central.
Por seu turno, a oposição denuncia que a contagem de votos não começou logo após o encerramento das mesas, os editais não foram distribuídos aos delegados de candidatura da oposição e, em algumas mesas, as urnas foram retiradas para locais incertos.
A RENAMO interpôs recurso junto do Tribunal Judicial do distrito de Marromeu, mas o pedido foi indeferido por falta de impugnação prévia dos atos.
Porém, o mandatário da RENAMO, André Majibiri, explica que os delegados de candidatura não apresentaram as reclamações na mesa de votação porque os presidentes "fugiram", tendo o seu partido feito uma participação na polícia local, onde foi aberto um auto.
"A lei diz que, não tendo havido espaço para reclamação na mesa, se pode reclamar à Comissão Nacional de Eleições. Nós fizemos isso", acrescenta Majibiri. "Submetemos todos esses elementos, inclusive as declarações da sociedade civil, como elemento de prova."
A DW África apurou junto do mandatário da RENAMO que o partido já interpôs recurso junto do Tribunal Constitucional.
Para Majibiri, o Conselho Constitucional tem tudo para decidir sobre este caso: "Tem a lei para julgar com base na lei e também em obediência à sua consciência."
EUA "preocupados"
Por seu turno, a embaixada dos Estados Unidos da América afirmou esta terça-feira (04.12) que "leva muito a sério as questões levantadas por vários observadores eleitorais independentes, relativas ao desenrolar da repetição parcial da eleição municipal de Marromeu de 22 de novembro."
"Estamos seriamente preocupados que as irregularidades reportadas a seguir ao processo de contagem em Marromeu irão ensombrar a corrida eleitoral no seu todo", refere em comunicado.
A embaixada recomenda a aplicação integral dos mecanismos legais existentes para resolver a situação, para assegurar a confiança no sistema eleitoral do país. "Contamos que estas instituições cumpram com as suas responsabilidades", conclui.
Autárquicas: Quem venceu nas principais cidades de Moçambique
Os resultados eleitorais das eleições autárquicas moçambicanas dão a vitória ao partido no poder em 44 municípios. A RENAMO, a principal força da oposição, venceu em sete autarquias. O MDM conquistou apenas a Beira.
Foto: DW/S. Lutxeque
Eneas Comiche, edil da capital entre 2004 e 2008, venceu em Maputo
Segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) saiu como grande vencedora em Maputo com 56,95% dos votos, contra os 36,43% da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi a terceira força política mais votada com 5,13%.
Foto: DW/R. da Silva
Com margem estreita, Calisto Cossa conquista segundo mandato na Matola
No município da Matola, a FRELIMO foi considerada vencedora com 48,05% dos votos, contra os 47,28% da RENAMO, uma diferença inferior a um ponto percentual. A vitória da FRELIMO foi, no entanto, contestada pela oposição. Membros da Comissão Distrital de Eleições disseram mesmo que houve fraude eleitoral.
Foto: DW/Leonel Matias
Emídio Xavier, da FRELIMO, eleito pelo município de Xai-Xai
Na província de Gaza, concretamente na cidade de Xai-Xai, a FRELIMO venceu com 81,21% dos votos contra apenas 12,36% da RENAMO. Em 134 mesas, Xai-Xai registou 53,90% de votos válidos e uma abstenção de 43,86%.
Foto: DW/C. Matsinhe
Benedito Guimino, da FRELIMO, reeleito em Inhambane
Na cidade de Inhambane, capital provincial, a FRELIMO arrasou com 79,50% contra os 15,55% da RENAMO. Sobraram apenas 4,95% para o MDM. Inhambane contou com 65 mesas de voto e uma abstenção de 35,14%.
Foto: DW/L. da Conceição
Daviz Simango, líder do MDM, mantém-se na Beira
Na cidade da Beira, província de Sofala, o MDM conseguiu a única vitória neste sufrágio. A terceira força parlamentar arrecadou 45,77% dos votos. Em segundo lugar, ficou a FRELIMO com 29,26%. Em terceiro, surge a RENAMO com 24,57%. Neste município registou-se uma abstenção de 36,65%.
Foto: DW/A. Sebastiao
João Ferreira foi aposta da FRELIMO na cidade de Chimoio
Em Chimoio, província de Manica, a FRELIMO obteve maioria absoluta com 52,51% da votação. A RENAMO garantiu 44,51% dos votos válidos. Nesta cidade do centro do país havia 220 mesas e, curiosamente, não foram contabilizados quaisquer votos nulos ou brancos.
Foto: DW/M. Muéia
Manuel de Araújo reeleito em Quelimane - desta vez pela RENAMO
Na província da Zambézia, cidade de Quelimane, a RENAMO venceu com 59,17% da votação contra os 36,09% arrecados pelo partido no poder, a FRELIMO. Quelimane com 168 mesas de votos registou uma taxa de abstenção de 34,72%. Do total de votos, 61,39% foram considerados válidos.
Foto: picture-alliance/dpa
César de Carvalho volta à edilidade de Tete, que liderou entre 2004 e 2013
Na província de Tete, na cidade com o mesmo nome, a FRELIMO levou a melhor com 54,49% contra os 43,02% da RENAMO, num universo de 57,04% votos considerados válidos. Nesta província do Centro Norte de Moçambique havia 184 mesas de voto.
Foto: DW/A.Zacarias
RENAMO vence em Nampula com atual edil Paulo Vahanle
Em Nampula, a RENAMO obteve mais votos do que o partido no poder. 59,42% dos munícipes votaram no principal partido da oposição, contra os 32,20% que votaram na FRELIMO. O MDM surge em terceiro com 6,23%. Nesta cidade contabilizaram-se 196.230 votos válidos, o que corresponde a 57,30% do total da votação. Em Nampula havia 456 mesas de voto.
Foto: DW/S. Lutxeque
FRELIMO vence no município de Lichinga
Na cidade de Lichinga, na província do Niassa, a FRELIMO ganhou com 51,93% contra os 45,19% da RENAMO. O MDM garantiu o terceiro posto com apenas 2,88%. A abstenção situou-se nos 41,91%.
Foto: DW/M. David
Em Pemba, venceu Florete Simba Motarua da FRELIMO
Na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, a vitória foi alcançada pela FRELIMO que arrecadou 54,21% dos votos. A RENAMO não foi além dos 39,01%. Pemba com 134 mesas de votos contabilizou 56,23% de votos válidos. A taxa de abstenção nesta cidade nortenha foi de 40,87%.