Sociedade civil dá nota negativa às eleições em Moçambique
Leonel Matias (Maputo)
17 de outubro de 2018
Uma semana depois das eleições, continuam a fazer-se ouvir críticas. Plataforma Votar Moçambique diz que processo não foi livre, justo nem transparente. Embaixador da Alemanha pede clarificação das contestações.
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A plataforma da sociedade civil Votar Moçambique convocou esta quarta-feira (17.10) uma conferência de imprensa em Maputo para deixar clara a sua posição sobre as autárquicas de 10 de outubro: "As eleições não foram nem livres, nem transparentes nem justas", frisou Edson Cortês, o diretor do Centro de Integridade Pública (CIP), uma organização filiada no Votar Moçambique, citando o comunicado divulgado pela plataforma.
A opinião, diz Cortês, resulta de informações recolhidas pelo consórcio através de uma rede de pesquisadores, monitores, correspondentes e observadores espalhados pelas 53 autarquias moçambicanas.
"Conseguimos descortinar situações claras de intimidação aos eleitores, aos membros e candidatos dos partidos da oposição, a ação da polícia que sempre foi parcial no sentido de beneficiar o partido no poder e a falta de transparência e de imparcialidade dos órgãos eleitorais", enumerou o diretor do CIP.
Além disso, acrescentou, a plataforma sente que "por parte dos titulares dos cargos públicos no mais alto nível nunca houve nenhuma posição condenatória para com os atos de violência e os ilícitos eleitorais que estavam acontecendo".
O comunicado da plataforma da sociedade civil aponta outras irregularidades, como a falta de coordenação entre os órgãos de gestão eleitoral. E dá o exemplo: em Monapo, depois da contagem provisória da CNE e do STAE ter dado vitória à RENAMO, a comissão distrital de eleições local apresentou os resultados oficiais que dão vitória à FRELIMO.
A Votar Moçambique denuncia, igualmente, que, de forma contínua, os órgãos eleitorais manifestaram relutância em divulgar resultados eleitorais nos municípios onde a oposição apresentava vantagem na contagem de votos.
Embaixador da Alemanha pede calma e clarificação
O grupo de organizações da sociedade civil juntou-se a outras vozes que apelam a todos os que se sentirem lesados para recorrerem a todos os mecanismos legais para o tratamento das suas reclamações.
Também o embaixador da Alemanha, Detlev Wolter, considera que é necessário muito calmamente ouvir e clarificar o processo nos quatro municípios onde há contestações.
"A reconciliação, a tolerância, a paz e o processo de descentralização são um contributo muito importante para a estratégia de um futuro mais próspero e mais estável de Moçambique", disse o diplomata, frisando que o seu país subscreve a declaração da União Europeia que felicitou os moçambicanos pela maneira ordeira e geralmente pacífica destas eleições.
Qual o papel dos observadores?
A atuação dos observadores internacionais tem sido criticada no país, por sectores que chegam a questionar o seu paradeiro na hora do apuramento dos resultados, que são contestados pelos dois maiores partidos da oposição, a RENAMO e o MDM.
Sociedade civil dá nota negativa às eleições em Moçambique
Porém, o Diretor Executivo da Fundação Mecanismo de apoio a Sociedade civil, João Pereira, considera que "não cabe à observação internacional fazer um julgamento de um processo nacional. Cabe às organizações da sociedade civil nacionais alimentar as organizações internacionais com evidências concretas para poder chegar a uma conclusão exata".
Já o Diretor do Centro de Integridade Pública, Edson Cortês, considera que há uma mudança em relação ao passado em que os observadores se limitavam a dizer que, apesar de ter havido irregularidades, não tinham sido suficientes para manchar o processo.
Cortês cita comunicados de duas organizações internacionais divulgados nos últimos dias que aconselham os partidos sentindo-se lesados "a usar meios legais para canalizarem as suas reclamações".
"Isso pode mostrar que, de forma diplomática, mesmo os observadores internacionais conseguiram ver o quão as eleições não foram livres, transparentes e justas", conclui.
Autárquicas: Quem venceu nas principais cidades de Moçambique
Os resultados eleitorais das eleições autárquicas moçambicanas dão a vitória ao partido no poder em 44 municípios. A RENAMO, a principal força da oposição, venceu em sete autarquias. O MDM conquistou apenas a Beira.
Foto: DW/S. Lutxeque
Eneas Comiche, edil da capital entre 2004 e 2008, venceu em Maputo
Segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) saiu como grande vencedora em Maputo com 56,95% dos votos, contra os 36,43% da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi a terceira força política mais votada com 5,13%.
Foto: DW/R. da Silva
Com margem estreita, Calisto Cossa conquista segundo mandato na Matola
No município da Matola, a FRELIMO foi considerada vencedora com 48,05% dos votos, contra os 47,28% da RENAMO, uma diferença inferior a um ponto percentual. A vitória da FRELIMO foi, no entanto, contestada pela oposição. Membros da Comissão Distrital de Eleições disseram mesmo que houve fraude eleitoral.
Foto: DW/Leonel Matias
Emídio Xavier, da FRELIMO, eleito pelo município de Xai-Xai
Na província de Gaza, concretamente na cidade de Xai-Xai, a FRELIMO venceu com 81,21% dos votos contra apenas 12,36% da RENAMO. Em 134 mesas, Xai-Xai registou 53,90% de votos válidos e uma abstenção de 43,86%.
Foto: DW/C. Matsinhe
Benedito Guimino, da FRELIMO, reeleito em Inhambane
Na cidade de Inhambane, capital provincial, a FRELIMO arrasou com 79,50% contra os 15,55% da RENAMO. Sobraram apenas 4,95% para o MDM. Inhambane contou com 65 mesas de voto e uma abstenção de 35,14%.
Foto: DW/L. da Conceição
Daviz Simango, líder do MDM, mantém-se na Beira
Na cidade da Beira, província de Sofala, o MDM conseguiu a única vitória neste sufrágio. A terceira força parlamentar arrecadou 45,77% dos votos. Em segundo lugar, ficou a FRELIMO com 29,26%. Em terceiro, surge a RENAMO com 24,57%. Neste município registou-se uma abstenção de 36,65%.
Foto: DW/A. Sebastiao
João Ferreira foi aposta da FRELIMO na cidade de Chimoio
Em Chimoio, província de Manica, a FRELIMO obteve maioria absoluta com 52,51% da votação. A RENAMO garantiu 44,51% dos votos válidos. Nesta cidade do centro do país havia 220 mesas e, curiosamente, não foram contabilizados quaisquer votos nulos ou brancos.
Foto: DW/M. Muéia
Manuel de Araújo reeleito em Quelimane - desta vez pela RENAMO
Na província da Zambézia, cidade de Quelimane, a RENAMO venceu com 59,17% da votação contra os 36,09% arrecados pelo partido no poder, a FRELIMO. Quelimane com 168 mesas de votos registou uma taxa de abstenção de 34,72%. Do total de votos, 61,39% foram considerados válidos.
Foto: picture-alliance/dpa
César de Carvalho volta à edilidade de Tete, que liderou entre 2004 e 2013
Na província de Tete, na cidade com o mesmo nome, a FRELIMO levou a melhor com 54,49% contra os 43,02% da RENAMO, num universo de 57,04% votos considerados válidos. Nesta província do Centro Norte de Moçambique havia 184 mesas de voto.
Foto: DW/A.Zacarias
RENAMO vence em Nampula com atual edil Paulo Vahanle
Em Nampula, a RENAMO obteve mais votos do que o partido no poder. 59,42% dos munícipes votaram no principal partido da oposição, contra os 32,20% que votaram na FRELIMO. O MDM surge em terceiro com 6,23%. Nesta cidade contabilizaram-se 196.230 votos válidos, o que corresponde a 57,30% do total da votação. Em Nampula havia 456 mesas de voto.
Foto: DW/S. Lutxeque
FRELIMO vence no município de Lichinga
Na cidade de Lichinga, na província do Niassa, a FRELIMO ganhou com 51,93% contra os 45,19% da RENAMO. O MDM garantiu o terceiro posto com apenas 2,88%. A abstenção situou-se nos 41,91%.
Foto: DW/M. David
Em Pemba, venceu Florete Simba Motarua da FRELIMO
Na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, a vitória foi alcançada pela FRELIMO que arrecadou 54,21% dos votos. A RENAMO não foi além dos 39,01%. Pemba com 134 mesas de votos contabilizou 56,23% de votos válidos. A taxa de abstenção nesta cidade nortenha foi de 40,87%.