Presidente do PAIGC diz que "despreparo" de atores e partidos políticos está a comprometer o pleito. CNE considera segurança eleitoral dependente da nomeação de ministro do Interior. Madem-G15 encabeça boletim de voto.
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O presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, acusou este sábado (09.02) "os partidos políticos que se sentem inconfortáveis com as próximas decisões das urnas" de tentarem comprometer as próximas legislativas.
"Não é a data nem o período que está em causa, mas sim a falta de preparação dos próprios partidos e atores políticos que contribuem para o comprometimento deste processo, infelizmente com a conivência e participação do próprio Presidente da República, José Mário Vaz", afirmou Domingos Simões Pereira à agência de notícias de Cabo Verde (Inforpress), país onde se encontra.
Na cidade da Praia, o presidente do PAIGC disse que todas as condições técnicas e materiais já estão criadas para o escrutínio, mas que "os partidos políticos que se sentem inconfortáveis com as próximas decisões das urnas" estão a tentar "perturbar o calendário".
"Tecnicamente, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) já está preparada. Agora, alguns partidos políticos reclamam que a taxa de recenseamento não atingiu a fasquia dos 100% de eleitores", acrescentou.
Ainda no sábado, o ex-primeiro-ministro da Guiné-Bissau reuniu-se com a comissão política do PAIGC em Cabo Verde.
Sobre a comunidade guineense radicada em Cabo Verde, e ainda segundo a Inforpress, disse que aquela encontra-se "bem estruturada e implantada", apesar de persistirem "desafios propícios da diáspora".
Na segunda-feira (11.02), Domingos Simões Pereira será recebido pelo Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, atual presidente em exercício da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
CNE: nomeação de ministro do Interior é "urgente"
O presidente da Comissão Nacional de Eleições da Guiné-Bissau, juiz José Pedro Sambú, disse estar preocupado com a segurança eleitoral e pediu com urgência a nomeação de um ministro do Interior.
" É deveras urgente que as autoridades políticas se pronunciem o mais rapidamente possível sobre a nomeação de um ministro do Interior de forma a agilizar devidamente os aspetos sensíveis do processo eleitoral", afirmou José Pedro Sambú.
O presidente da CNE guineense falava na cerimónia de tomada de posse dos membros não permanentes dos partidos políticos aprovados pelo Supremo Tribunal da Justiça como candidatos às eleições legislativas de 10 de março, no passado sábado.
Em declarações aos jornalistas na sexta-feira (08.02), o ministro da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Agnelo Regala, disse também que o Governo está preocupado com o atraso na indigitação do ministro do Interior.
No início de novembro, o Presidente guineense, José Mário Vaz, exonerou o ministro do Interior, Mutaro Djaló, a pedido do primeiro-ministro, depois da violência usada pela polícia do país para dispersar uma manifestação de estudantes, com recurso a bastões e granadas de gás lacrimogéneo.
Madem-G15 encabeça boletim de voto
A Comissão Nacional de Eleições da Guiné-Bissau procedeu ao sorteio da posição dos partidos políticos no boletim de voto para as legislativas de 10 de março, também este sábado (09.02,) cabendo a primeira posição ao Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15).
No boletim de voto, o PAIGC, vencedor das legislativas de 2014, vai aparecer na terceira posição, enquanto o Partido de Renovação Social vai aparecer na posição 21, última da lista.
O sorteio, que contou com a presença de jornalistas, vários representantes da comunidade internacional e dos partidos políticos candidatos às legislativas, decorreu depois da cerimónia da tomada de posse dos membros não permanentes junto da Comissão Nacional de Eleições.
O Madem-G15 apresenta-se pela primeira vez às eleições legislativas na Guiné-Bissau e foi criado por um grupo de dissidentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), na sequência de divergências internas. O novo partido é liderado por Bramia Camará e o antigo primeiro-ministro guineense Umaro Sissoco Embalo, também faz parte da direção.
A Comissão Nacional de Eleições lançou também a campanha de educação cívica.
A Guiné-Bissau vai realizar eleições legislativas a 10 de março, que vão ser disputadas por 21 partidos políticos, cujas candidaturas foram aprovados pelo Supremo Tribunal de Justiça, segundo a lista definitiva divulgada na sexta-feira (08.02) por aquele órgão judicial, que na Guiné-Bissau acumula as competências de tribunal Constitucional.
A campanha eleitoral vai decorrer entre 16 de fevereiro e 8 de março.
Ser mulher na Guiné-Bissau significa vida dura
A maioria das mulheres guineenses tem uma vida difícil. Têm de percorrer dezenas de quilómetros para ir buscar lenha. Muitas morrem ainda jovens. A taxa guineense de mortalidade materna é uma das mais altas do mundo.
Foto: DW/B. Darame
Primeira a acordar, última a ir dormir
No campo, uma mulher trabalha a dobrar. Costuma acordar antes dos restantes membros da família e é a última a deitar-se no final do dia. São as mulheres que têm de caminhar até à mata para procurar lenha e água, às vezes em zonas de difícil acesso, a vários quilómetros da aldeia, como nesta fotografia na vila de Quinhamel, na região de Biombo, no norte da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Vender para sustentar a família
Com um pano estendido no chão, as vendedoras vão expondo os seus legumes, malaguetas verdes, pepinos, cenouras, alfaces. São cultivados em quintais ou em pequenos campos. "Vender para sustentar a família" é o lema das mulheres guineenses. Mais de metade vende em feiras improvisadas, como aqui no Mercado de Bandim, o maior mercado de céu aberto da cidade de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Economia dominada por homens
À beira das estradas, as mulheres sentam-se em bancos e mesas de madeira e vendem laranjas, mangas, bananas e outros frutos - como aqui em Bissack, bairro nos arredores de Bissau. As vendedoras têm uma receita que ronda os 10 euros diários. Em média, uma guineense consegue ganhar 907 dólares por ano, bastante menos que os homens que conseguem em média 1.275 dólares.
Foto: DW/B. Darame
Recolher areia para sobreviver
Tia Nhalá não sabe que idade tem, mas sabe que todos os dias deve acordar cedo, às 05h00, para recolher areia no bairro de Cuntum, em Bissau. Sem qualquer proteção no rosto, sem luvas e pés descalços, Nhalá, que aparenta ter 67 anos, trabalha duramente durante largas horas. Recolhe areia que depois vende a pessoas que a usam em obras de construção civil.
Foto: DW/B. Darame
Venda ambulante em condições perigosas
No Bairro de Belém, em Bissau, meninas deambulam de porta em porta para vender frutas. Organizações da sociedade civil denunciaram já várias vezes que as vendedoras ambulantes correm riscos, como o de serem violadas sexualmente, pois estão muito expostas e vulneráveis. Também há denúncias de que algumas mulheres são forçadas a fazer esse trabalho.
Foto: DW/B. Darame
Vender peixe é um bom negócio
As vendedoras de peixe geralmente possuem arcas velhas para a conservação do pescado. Colocam-nas nos portos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - para servir de local de armazenamento quando receberem peixe fresco dos pescadores. Nos últimos anos, a venda de peixe tornou-se num dos negócios mais rentáveis para as mulheres guineenses.
Foto: DW/B. Darame
Um dos piores países para ser mãe
As condições precárias nas zonas rurais da Guiné-Bissau têm reflexos nas estatísticas: em 126 partos morre uma mulher, segundo dados das Nações Unidas. Em comparação, no Japão, em 20.000 partos morre uma mulher. A taxa de mortalidade materna na Guiné-Bissau é uma das mais altas do mundo. Ainda assim, não existe no país uma estratégia política dirigida à mulher no meio rural.
Foto: DW/B. Darame
País difícil para as crianças
Cada mulher guineense tem em média cinco filhos. O país tem uma das taxas de fecundidade mais altas do mundo. Mas muitas crianças não chegam a celebrar o seu quinto aniversário. Segundo dados das Nações Unidas, 129 de 1.000 crianças morrem até aos cinco anos de idade, muitas durante no parto, o que torna a Guiné-Bissau um dos piores países do mundo para se nascer.
Foto: DW/B. Darame
Trabalhos domésticos no feminino
Em Mansoa, região de Oio, norte da Guiné-Bissau, as casas de adobe agrupadas debaixo de enormes árvores desenham intricados caminhos onde secam redes de pesca, peles de antílopes e roupas rasgadas de criança. A comida prepara-se num fogão improvisado a lenha, em frente da casa. Trabalhos domésticos como cozinhar, cuidar das crianças ou limpar cabem tradicionalmente às mulheres.
Foto: DW/B. Darame
Carregar à cabeça é a única solução
Nas zonas mais recônditas da Guiné-Bissau, como na aldeia de Suru, região de Biombo, a cerca de 20 quilómetros de Bissau, não há uma rede de estradas que facilite o transporte das mercadorias. Não há carros que façam as ligações entre as aldeias. Carregar à cabeça, por vezes mais de cinco quilos, é a única solução para que essas mulheres possam fazer chegar os produtos ao destino.
Foto: DW/B. Darame
Lenha e água a quilómetros de distância
Nas mais de 80 ilhas e ilhéus completamente isolados e sem grande presença do Estado guineense, as populações vivem no regime do "salva-se quem poder". As mulheres percorrem dezenas de quilómetros para ir buscar lenha e água potável. Em muitos casos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - atravessam rios caminhando, com os pés descalços, sem roupas adequadas e carregadas.
Foto: DW/B. Darame
Ultrapassando rios e braços de mar
Devido à falta de barcos nas aldeias insulares do arquipélago dos Bijagós, o fornecimento e o transporte de bens é extremamente difícil. É recorrente ver mulheres atravessando rios ou braços de mar bastante profundos. Estes caminhos para procurar lenha e água doce são bastante perigosos para quem não sabe nadar.
Foto: DW/B. Darame
Desigualdade começa na educação
A maioria das mulheres guineenses vive em situação de extrema pobreza. Em médias, as mulheres frequentaram a escola apenas 1,4 anos, menos de metade do que os homens guineenses, que têm em média 3,4 anos de escolaridade, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. Só investindo na educação e na saúde será possível melhorar a situação das mulheres da Guiné-Bissau.