A CDU da chanceler Angela Merkel é favorita nas sondagens. Mas prevêem-se grandes mudanças no Parlamento. Os alemães elegem, no domingo (24.09), o novo Parlamento que, dentro de alguns meses, elegerá o próximo chanceler.
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A União Democrata-Cristã, partido conhecido como CDU, da atual chanceler Angela Merkel desfruta de forte liderança em todas as sondagens. O que significa que tem grandes chances de continuar a liderar o país por mais quatro anos.
Mas as eleições podem mudar a cara da política alemã. Pela primeira vez, em décadas, seis partidos poderão estar representados no novo Parlamento em vez de quatro, tal como atualmente. Ou seja, poderá ser mais difícil formar um Governo estável.
Além disso, pela primeira vez desde que a Constituição da Alemanha entrou em vigor, em 1949, um partido populista de direita poderá vir a ter representação no Bundestag, o Parlamento alemão.
Se os resultados das sodagens se confirmarem, a CDU de Angela Merkel poderá ganhar as eleições de domingo, com pelo menos 36% dos votos.
As as sondagens indicam também que muitos alemães ainda estão indecisos em que partido votar. Por isso, a chanceler e candidata à reeleição tem apelado, nos últimos comícios de campanha, ao voto.
"Vivemos tempos turbulentos, por isso não precisamos de experiências. Precisamos de estabilidade e segurança. E é por isso que cada voto conta muito este domingo", afirmou Angela Merkel.
Renovação da aliança governamental?
Tradicionalmente, na Alemanha, nenhum partido obtém maioria absoluta para formar Governo sozinho. É por isso que o partido de Merkel precisará de um parceiro de coligação mesmo que ganhe as eleições.
Nos últimos quatro anos, a Alemanha foi governada pela coligação entre a CDU e o Partido Social-Democrata (SPD). As sodagens atribuem ao SPD entre 21 e 23% dos votos.
Mas o líder social-democrata, Martin Schulz, insiste que se vai tornar o próximo chanceler da Alemanha. "Angela Merkel defende o lema de que a Alemanha é um país em que vivemos bem e gostamos de viver. Ela está certa. Nós vivemos bem e gostamos de viver aqui. Mas também queremos uma boa vida para o futuro. E é por isso que precisamos de dizer às pessoas que rumo estamos a tomar", sublinhou Martin Schulz.
Ainda não está claro se os social-democratas continuarão a querer fazer parte de um eventual Governo de coaligação com a CDU, caso consigam o segundo lugar novamente.
Os porque pequenos partidos podem tornar-se mais relevantes na altura de fazer coligação rivais. Na Alemanha, com pelo menos 5% dos votos, um partido pode enviar representantes para o Parlamento.
A Esquerda e Os Verdes são as duas representações partidárias mais pequenas atualmente no Parlamento alemão.
Mais diversidade no Bundestag
O novo Parlamento poderá vir a ter seis partidos. O Partido Liberal Democrático (FDP) tem boas chances de voltar, depois de ter ficado fora nas últimas eleições, em 2013.
E, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, um partido populista de extrema-direita poderá vir a ter representação no Bundestag, o Parlamento alemão: a Alternativa para a Alemanha (AfD), que fez uma campanha eleitoral agressiva contra imigrantes.
22.09 Alemanha: cenário pré-eleitoral - MP3-Mono
"As pessoas que fogem da guerra têm direito temporário de ficar aqui [na Alemanha], de acordo com a convenção de Genebra. Mas não devem ser integradas, os refugiados têm de voltar para casa assim que o conflito acabe. Só que a maioria das pessoas que vem para a Alemanha não foge da guerra. Elas simplesmente querem ter uma vida melhor", contesta Alexander Gauland, o cabeça de lista da AfD.
Os primeiros resultados das eleições alemãs deste domingo (24.09) deverão ser emitidos pouco depois do encerramento das urnas, às 18 horas da Alemanha. Já o resultado final será veiculado no final da noite do domingo ou nas primeiras horas de segunda-feira.
Depois eleições, deverá começar o difícil jogo para se formar um Governo de coligação estável. Caso os partidos CDU e SPD não continuem com a sua aliança há outras opções em cima da mesa, por exemplo uma união entre a CDU e o FPD.
Alguns analistas sugerem que, pela primeira vez em décadas, três partidos podem formar o Governo, por exemplo, com a CDU, Os Verdes e o FDP.
Chefes de Governo da Alemanha: de Adenauer a Merkel
Desde 1949, a Alemanha teve oito chanceleres: sete homens e uma mulher. A chanceler atual, Angela Merkel, conseguiu um quarto mandato nas eleições legislativas de setembro de 2017.
Foto: picture-alliance-dpa/O. Dietze
Konrad Adenauer (CDU), 1949-1963
A eleição de Konrad Adenauer do partido democrata-cristão CDU como primeiro chefe de Governo da Alemanha, em 15 de setembro de 1949, marcou o início de um longo processo de reestruturação política no país. Reeleito em 1953, 1957 e 1961, renunciou ao cargo apenas aos 87 anos de idade, em 1963. Fortaleceu a aliança com os Estados Unidos da América. Na foto: no seu escritório em Bona.
Foto: picture-alliance/akg-images
Ludwig Erhard (CDU), 1963-1966
O segundo chanceler da Alemanha também pertenceu à CDU, mas esteve apenas três anos no Governo. Erhard renunciou devido ao rompimento da coligação com o partido liberal FDP. Mesmo assim, participou de forma ativa da reforma monetária alemã do pós-guerra. O fumador convicto ficou famoso como "pai" da economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft") e do milagre económico alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Kurt Georg Kiesinger (CDU), 1966-1969
Foi eleito por uma grande coligação dos dois partidos CDU e SPD (de esquerda). O seu Governo teve que combater uma crise económica. Kiesinger foi duramente criticado pelo seu passado como membro ativo do partido nacional-socialista NSDAP durante a ditadura fascista na Alemanha. Com a ausência de uma oposição forte no Parlamento, formou-se em 1968 um movimento de protesto estudantil na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Willy Brandt (SPD), 1969-1974
A onda de protestos teve reflexos nas eleições: Willy Brandt tornou-se no primeiro chanceler social-democrata no pós-guerra. Melhorou as relações com os países comunistas do leste. Durante uma visita à Polónia, ajoelhou-se no monumento pelas vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia. Gesto que ficou famoso como pedido de desculpas. Renunciou ao cargo em consequência de um caso de espionagem.
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Helmut Schmidt (SPD), 1974-1982
Após a renúncia de Brandt, Helmut Schmidt prestou juramento como chanceler. O social-democrata teve de combater o terrorismo do grupo extremista de esquerda RAF. Negou negociar com os terroristas alemães. Enfrentou a oposição por causa do estacionamento de mísseis nucleares dos EUA na Alemanha. Depois da saída do Governo do parceiro FDP (liberais), perdeu um voto de confiança no Parlamento.
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Helmut Kohl (CDU), 1982-1998
Helmut Kohl formou uma nova coligação centro-direita com os liberais. Ficou 16 anos no poder, um recorde. Ficou famoso pela sua teimosia e por não gostar de reformas. Depois da queda do Muro de Berlim, Kohl consegui reunificar as duas Alemanhas, a RFA ocidental e a RDA oriental. Ficou conhecido como "chanceler da reunificação". T ambém é lembrado pelo seu empenho na construção da União Europeia.
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Gerhard Schröder (SPD), 1998-2005
Depois de quatro mandatos de Kohl, o desejo de mudança aumentou. Gerhard Schröder foi eleito primeiro chanceler de uma coligação de esquerda entre o SPD e os Verdes. Durante o seu Governo, o exército alemão, Bundeswehr, teve as primeiras missões no estrangeiro com a participação na guerra no Afeganistão. Reduziu os subsídios sociais, medida que foi criticada dentro do seu partido social-democrata.
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Angela Merkel (CDU), desde 2005
Em 2005, Merkel é eleita como primeira mulher na chefia do Governo alemão. Durante o primeiro e terceiro mandato, governou numa grande coligação com o SPD, no segundo mandato numa coligação de centro-direita com os liberais do FDP. Merkel é conhecida pelo estilo pragmático de liderança. Durante a crise financeira, assumiu um papel de liderança na UE. Em 2017, conseguiu o seu quarto mandato.