Angola: Detenções para "colocar medo na cabeça das pessoas"
Adolfo Guerra (Menongue)
26 de agosto de 2022
O ativista Rock Chipeta "Lógico" não esquecerá o dia das eleições gerais. Foi detido à saída da assembleia de voto, depois de ter apelado a "votar e sentar". A polícia diz que deteve 142 pessoas na quarta-feira.
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Na quarta-feira (24.08), os angolanos foram às urnas para escolher quem vai dirigir os destinos da Nação nos próximos cinco anos. Os observadores elogiam a votação pacífica. Mas o dia não correu como esperado para o ativista Rock Chipeta "Lógico".
O ativista viu o dia de festa da democracia a transformar-se em pesadelo quando foi detido pela polícia, já depois de ter votado.
"Atualizei os dados, mostraram a mesa onde iria exercer o meu direito, fui para lá e votei. Logo após o voto, quando me dirigia para sair, fecharam o portão e questionei, 'o que se passa?' Atrás de mim vinham três agentes. Perguntaram-me se quem eu era, respondi e o agente disse que tinha recebido uma ordem para não me deixar sair", conta.
Rock Chipeta "Lógico" queria "votar e sentar", para controlar os boletins de voto. E, nas redes sociais, tinha pedido a outras pessoas para fazer o mesmo. Segundo o ativista, os agentes da polícia disseram-lhe: "Você têm um áudio a circular em que fala sobre as eleições e outro áudio em que fala de 'votou, sentou'".
A seguir, "Lógico" foi levado para o Departamento Provincial de Investigação de Ilícitos Penais. O ativista esteve detido durante quatro horas. Segundo ele, tratou-se de pura "intimidação".
126 infrações eleitorais, 142 detenções
"É aquela maneira que nós sabemos, colocar medo na cabeça das pessoas. Mas eu, como estou firme e sei o que faço, vou continuar a lutar em prol dos direitos humanos. Nós temos de colocar Angola em primeiro lugar e esta causa nos leva a fazer as coisas com muita certeza. Tudo, porque estamos num país em que há muitas injustiças, temos pessoas a morrer de fome, temos hospitais sem medicamentos, temos escolas não dignas", garante Rock Chipeta.
A polícia ainda não se pronunciou sobre o assunto. A DW contactou as autoridades, mas não foi possível obter um comentário a tempo da publicação desta reportagem.
Oficialmente, as forças de segurança registaram na quarta-feira, dia das eleições gerais, 126 infrações eleitorais em 15 províncias do país, que resultaram na detenção de 142 pessoas, segundo um balanço dos responsáveis pela operação de segurança do ato eleitoral.
Eleições em Angola: "Votou, sentou" ou "votou e bazou"?
01:19
Luanda liderou as infrações (37), seguindo-se o Huambo (35), Bié (7), Malanje e Moxico (8), Lunda Norte (6), Cuanza Norte e Uíje com 5 cada, Benguela (4), Huíla (3), Zaire, Cuanza Sul e Lunda Sul (2), Cabinda e Bengo com um, de acordo com o documento citado pela agência de notícias Lusa.
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Resultados contestados
O "votou, sentou" foi um dos grandes apelos da UNITA durante estas eleições. O maior partido da oposição desconfia de irregularidades no escrutínio. Por isso, pediu aos eleitores para ficarem junto às assembleias de voto, para fiscalizar os votos.
Olhando para os resultados provisórios divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral, que dão a vitória ao MPLA com maioria absoluta, Rock Chipeta "Lógico" diz que não acredita nos números apresentados.
Segundo o ativista, o povo votou claramente pela alternância: "Graças a Deus, o povo aderiu às urnas com aquela vontade de ver Angola a mudar. Aderiram às urnas com aquela ansiedade de que teremos alternância. Naquilo que são os resultados que estão a ser divulgados, como ativista social, não acredito. E não admito. É uma autêntica falta de respeito em relação à vontade do povo, não sei onde a CNE foi buscar aqueles resultados".
A UNITA também contesta os resultados provisórios da votação apresentados pela CNE, tal como a CASA-CE, que atualmente tem 16 deputados na Assembleia Nacional, mas, segundo os dados oficiais divulgados, passará a ter zero parlamentares.
Angola: As eleições em imagens
Esta quarta-feira é dia de Angola decidir quem será o próximo Presidente e os deputados da Assembleia Nacional. A DW compilou as imagens desta manhã de eleições, no dia em que 14 milhões de angolanos vão às urnas.
Foto: Adolfo Guerra/DW
Longas filas no dia de decidir
As mesas de voto só abriram às 07h00, mas as filas para votar nas eleições mais disputadas de sempre em Angola começaram a formar-se bem cedo. Cabe aos eleitores decidir se "a força do povo" continua do lado do MPLA, mantendo no poder o partido que governa o país desde a independência, ou se dizem "sim" ao apelo de mudança da oposição liderada pela UNITA.
Foto: John Wessels/AFP
Oito partidos na corrida
Além dos rivais Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), concorrem Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Partido de Renovação Social (PRS), Aliança Patriótica Nacional (APN), Partido Nacionalista para a Justiça (P-NJANGO), Partido Humanista de Angola e a coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE).
Foto: António Cascais/DW
Madrugar para votar
Aos 79 anos, Adélia Namalange exerce hoje o seu direito de voto pela quinta vez. A idosa chegou às 5h00 à assembleia de voto número 9658, no município do Lobito, em Benguela, e esperou duas horas pela abertura das urnas, no dia que 14 milhões de angolanos decidem o futuro político do país.
Foto: Daniel Vasconcelos/DW
João Lourenço apela ao voto: "É Angola que ganha"
"Acabámos de exercer o nosso direito de voto, é rápido e é simples", disse João Lourenço, na assembleia de voto n.º 105, em Luanda, convidando os eleitores a fazerem o mesmo. No meio de uma enorme confusão de jornalistas que queriam registar o momento, o candidato do MPLA salientou que todos saem a ganhar: "É a democracia que ganha, é Angola que ganha."
Foto: AP Photo/picture alliance
Adalberto Costa Júnior critica processo
O líder da UNITA votou no bairro 28 de Agosto, em Luanda, onde foi fortemente aplaudido pelos eleitores presentes. "Fiquei satisfeito e votei no meio do meu povo e constatei que a votação está a ser feita sem cadernos eleitorais aos fiscais, apenas um caderno eleitoral na mesa", afirmou Adalberto Costa Júnior, que defendeu mais uma vez a afixação dos resultados nas assembleias de voto.
Foto: John Wessels/AFP
Manuel Fernandes "plenamente" confiante na vitória
Manuel Fernandes, o candidato da coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), votou esta manhã no Bairro Militar, em Talatona, Luanda. Depois de votar, manifestou "plena confiança" no resultado eleitoral do atual terceiro partido com mais assentos no parlamento angolano.
Foto: Borralho Ndomba/DW
"Grande expetativa" de Nimi Ya Simbi é ganhar eleições
Nimi Ya Simbi, candidato da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), votou em Viana, um dos mais populosos municípios de Luanda. Minutos depois, Nimi disse que a sua "grande expetativa é ganhar as eleições." O líder da FNLA acredita que o seu partido "vai vencer" as eleições, "porque quem vai para o combate não vai para perder", tendo enaltecido o cumprimento do seu dever cívico.
Foto: Nelson Francisco Sul/DW
Benedito Daniel exorta à afixação das atas
O candidato do Partido de Renovação Social (PRS) exerceu o seu direito de voto no Instituto Superior Politécnico do Bita, em Luanda. Após votar, Benedito Daniel manifestou um "sentimento de alegria e de dever cumprido", exortando à afixação das atas sínteses nas assembleias. Disse também esperar que a CNE possa corresponder às expetativas dos eleitores.
Foto: DW/M. Luamba
Bela Malaquias insite em "humanizar" Angola
A líder do Partido Humanista de Angola (PHA), Florbela Malaquias, manifestou um "sentimento de realização" após votar e reiterou a promessa de humanizar Angola, "que se encontra completamente desumanizada em todos os sentidos", sublinhou a única mulher a liderar um partido político em Angola, depois de votar no bairro do Maculusso, distrito urbano da Ingombota, em Luanda.
Quintino Moreira, líder da Aliança Patriótica Nacional (APN), sem assento no Parlamento angolano, manifestou-se "otimista" em relação à obtenção de uma "bancada parlamentar vasta", para que não haja maiorias absolutas na "casa das leis", afirmou esta manhã, depois de depositar o seu voto numa assembleia de voto, em Talatona, perto da capital angolana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Dinho Chingunji contra "Votou, Sentou"
O candidato do Partido Nacional para a Justiça em Angola (P-Njango) considerou hoje as eleições como "ocasião soberana" para escolha dos governantes e exortou os eleitores a esperarem os resultados em casa, contrariando o movimento "Votou, Sentou". Chingunji, que votou no município do Kilamba Kiaxi, em Luanda, exortou "os cidadãos a regressarem para as suas casas e a esperar pelos resultados".
Foto: Borralho Ndomba/DW
CNE diz que está tudo a funcionar
A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que as 13.238 assembleias de voto espalhadas pelos 164 municípios angolanos "estão abertas e em perfeito funcionamento" e "não há registo de qualquer incidente" que possa beliscar a votação. Também foram constituídas 45 mesas de voto no estrangeiro, para as quais foram recrutados 105.952 membros.
Foto: António Cascais/DW
UNITA denuncia irregularidades no Bengo
No Bengo, a UNITA chamou os jornalistas para denunciar supostas irregularidades na votação. De acordo com o partido do "galo negro", a CNE local está a proibir que os delegados de lista suplentes exerçam o direito de voto nas assembleias para as quais estão destacados, contrariando, desta forma, uma circular da própria Comissão Nacional de Eleições.
Foto: António Ambrósio/DW
Queixas de eleitores em Cabinda
A votação em Cabinda está a decorrer com alguma normalidade, mas com várias queixas por parte dos eleitores que dizem desconhecer as suas mesas de voto. Os cidadãos são obrigados a percorrer longas distâncias para votar, já que foram colocados em pontos longínquos da província e da capital. E há delegados de lista de partidos que não foram credenciados.
Foto: Simão Lelo/DW
Delegados monitorizam processo
Delegados de lista dos partidos políticos controlam o processo de votação no Bairro da Cuca, em Luanda, a capital. Durante a campanha eleitoral, o polémico movimento "Votou, Sentou", propalado por alguns partidos e membros da sociedade civil, também pediu aos eleitores para permanecerem nas imediações das assembleias de voto.
Foto: Manuel Luamba/DW
O voto da diáspora em Portugal
O ator Daniel Martinho, a viver há cerca de 40 anos em Portugal, foi ao Consulado Geral de Angola em Lisboa votar, feliz por ser a primeira vez que foi dada à comunidade radicada no exterior a possibilidade de exercer o direito de voto. "Era uma aspiração que nos incomodava", contou à DW. "É uma forma de contribuirmos para um país melhor, porque nós na diáspora também fazemos Angola", precisou.