UNITA não descarta outras medidas caso a Constituição e Lei não sejam respeitadas na avaliação das suas queixas eleitorais. Entretanto, o resultado da contagem paralela dos votos do partido ficou por ser publicada.
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Na última semana o maior partido da oposição em Angola, a UNITA, declarou que não vai legitimar instituições resultantes de atos "que violam flagrantemente a Constituição e a lei", mas apenas dentro "dos marcos da lei". A UNITA, CASA-CE, PRS e FNLA pediram na sexta-feira (08.09.) ao Tribunal Constitucional a impugnação dos resultados das eleições gerais de 23 de agosto, das quais foi vencedor o MPLA, com 61,07% dos votos, de acordo com a Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
Mas por outro lado, o partido não confia em quem faz cumprir a lei. Que saída restará a UNITA? Conversamos com Raúl Danda,vice-presidente deste partido, que nos falou ainda sobre o estágio da contagem paralela de votos que está a ser feita pela UNITA.
DW África: Para quando o anúncio dos resultados finais da contagem paralela?
Raúl Danda (RD): Julgamos que quem tem a incumbência de publicar os resultados é a Comissão Nacional de Eleitoral (CNE). Nós fizemos uma contagem, para tentarmos controlar o processo. Como devem perceber houve diversas irregularidades e houve muitas assembleias de voto onde não tivemos delegados de lista, o que faz com que não tenhamos uma boa parte da informação.
DW África: Mas a UNITA estava a fazer uma contagem paralela, não estava?
RD: Estávamos, sim. O trabalho ficou inconclusivo, porque não tínhamos delegados de lista apesar de os termos preparado para todas as mesas do país. A CNE decidiu propositadamente dificultar o credenciamento dos nossos delegados de lista. Logo, isso tudo fez com que não pudéssemos fazer uma contagem conclusiva. Mesmo assim, a contagem que estamos a fazer levava a resultados diferentes dos publicados, pelo menos provisoriamente, pela CNE.
DW África: A UNITA estava na frente?
RD: Sim, sim. Posso dar-lhe o exemplo de Luanda e Benguela, onde um mínimo de vinte mil votos não foram contabilizados a favor da UNITA. Posso dar-lhe o exemplo do Bié, estamos a falar sobretudo das principais praças eleitorais. E por alguma razão a CNE não aceitou que se fizesse o apuramento provincial nos termos da lei. Não temos um resultado conclusivo e nós não quisemos publicar justamente por não ser conclusivo.
DW África: Até onde está o partido disposto a ir nas suas reivindicações?
RD: Estamos dispostos a ir a todo o sítio até onde a Constituição e a lei nos permitem. Ou seja, não temos confiança nenhuma no Tribunal Constitucional. Por exemplo, temos juízes que antes da contestação chegar ao tribunal já andavam a escrever nas redes sociais a sua preferência pelo MPLA. Portanto, não nos transmitem credibilidade, mas nós fomos lá, vamos esperar a resposta do Tribunal Constitucional. A Constituição e a Lei são claras, vamos ver se têm coragem, pelo menos uma vez na vida, de defender verdadeiramente a Constituição e as leis, ao invés de defenderem o chefe e o patrão, vamos ver. Mas depois disso não descartamos outras medidas, há quem fale de manifestação, ela está perfeitamente prevista na Constituição, porque não? Também é um meio de reivindicar. Nós da UNITA é que temos estado a travar o povo, porque o povo já queria saltar para a rua há muito tempo. E aliás, vê-se um paradoxo... se ganhou com uma maioria qualificada porque anda a por na rua tropas e polícias armados até aos dentes com as armas voltadas para a população. Vão apontar as armas a população que votou neles? Não faz sentido. Só essa atitude já mostra que os resultados estão muito trocados.
11.09.17. UNITA Eleicoes - MP3-Mono
DW África: Um candidato único da oposição no futuro é uma utopia ou algo próximo da realidade?
RD: A Constituição que temos hoje não permite isso. Repare que o Presidente José Eduardo dos Santos preferiu assim porque sempre teve medo de se posicionar perante os angolanos, se os angolanos decidissem o que queriam ou não numa eleição, resolveu fazer esta Constituição atípica, onde até deputado se transforma em Presidente da República e outro em vice-presidente. Nesse modelo é difícil haver um candidato da oposição, porque a única forma de haver um candidato da oposição é ela concorrer só numa lista para que o primeiro dessa lista seja Presidente e o segundo o vice-presidente da República. Tem de se deixar os partidos manter a sua identidade, têm de se transformar numa coligação que vai concorrer numa eleição, é a única forma. Logo, a vossa pergunta tem razão de ser, Angola, se calhar, precisa de uma coisa dessas, mas precisamos de mudar a Constituição.
Angola: Resultados por províncias
Conheça os dados apresentados até agora pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), província por província, numa altura em que estão apurados quase 99% dos votos.
Total nacional: Vitória do MPLA
O MPLA vence as eleições gerais em Angola com 61,05% do total de votos e João Lourenço é eleito Presidente da República, segundo a CNE, numa altura em que estão apurados quase 99% dos votos. A UNITA obteve 26,72%, CASA-CE 9,49%, PRS 1,33%, FNLA 0,91% e APN 0,50%. Foram eleitos 150 deputados do MPLA, 51 da UNITA, 16 da CASA-CE, 2 do PRS e 1 da FNLA.
Bengo
MPLA 66,92%; UNITA 24,67%; CASA-CE 5,6o%; FNLA 1,24%; PRS 0,94%; APN 0,62%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Benguela
MPLA 61,51%; UNITA 27,60%; CASA-CE 8,95%; PRS 0,90%; FNLA 0,62%; APN 0,42%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: ato de massas da CASA-CE em Benguela)
Foto: DW/N. S. D´Angola
Bié
MPLA 57,44%; UNITA 38,26%; CASA-CE 1,79%; PRS 1,05%; FNLA 0,86%; APN 0,61%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: ato de campanha do PRS no Cuito)
Foto: DW/M. Luamba
Cabinda
É a província que apresenta os resultados mais equilibrados, com os dois principais partidos da oposição a terem mais votos juntos do que o partido que sem mantém no poder. MPLA 39,75%; CASA-CE 29,33%; UNITA 28,18%; PRS 1,05%; FNLA 0,90%; APN 0,78%. O MPLA e a CASA-CE elegem dois deputados cada e a UNITA apenas um.
Foto: DW/C. Luemba
Cuando Cubango
MPLA 73,20%; UNITA 21,53%; CASA-CE 2,87%; PRS 1,13%; FNLA 0,85%; APN 0,42%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Cuanza-Norte
Aqui a CASA-CE surge na frente da UNITA: MPLA 77,59%; CASA-CE 10,48%; UNITA 7,91%; FNLA 1,89%; PRS 1,56%; APN 0,57%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Cuanza-Sul
MPLA 76,46%; UNITA 14,70%; CASA-CE 5,97%; PRS 1,23%; FNLA 1,11%; APN 0,53%. O MPLA elege cinco deputados.
MPLA 58,19%; UNITA 35,90%; CASA-CE 3,42%; PRS 1,21%; FNLA 0,77%; APN 0,50%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: registo eleitoral no Huambo, em março)
Foto: DW/J.Adalberto
Huíla
MPLA 76,56%; UNITA 12,39%; CASA-CE 8,38%; PRS 1,24%; FNLA 0,95%; APN 0,47%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: João Lourenço durante a campanha no Lubango)
Foto: DW/A. Vieira
Luanda
Na província de Luanda, o partido no poder e o maior da oposição estão próximos. MPLA 48,17%; UNITA 35,44%; CASA-CE 14,64%; FNLA 0,76%; PRS 0,60%; APN 0,38%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois.
Foto: DW/A. Cascais
Lunda-Norte
Nesta província, a CASA-CE, o segundo maior partido da oposição, aparece em quarto lugar na votação. MPLA 66,66%; UNITA 22,93%; PRS 5,14%; CASA-CE 3,44%; FNLA 1,05%; APN 0,77%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: DW/A. Cascais
Lunda-Sul
Aqui o partido no poder vence com um diferença de menos de 5%. E a CASA-CE também aparece no quarto lugar, depois do PRS. MPLA 45,96%; UNITA 41,06%; PRS 9,62%; CASA-CE 2,11%; FNLA 0,79%; APN 0,47%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: centro de Saurimo)
Foto: DW/Sul D'Angola
Malanje
MPLA 76,53%; UNITA 10,78%; CASA-CE 8,88%; PRS 1,95%; FNLA 1,28%; APN 0,58%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: barragem hidroelétrica de Capanda)
Foto: DW/G. C. Silva
Moxico
Aqui, mais uma vez, o PRS aparece em terceiro lugar, seguido pela CASA-CE em quarto. MPLA 74,48%; UNITA 18,90%; PRS 2,78%; CASA-CE 2,73%; FNLA 0,73%; APN 0,39%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: DW/A. Cascais
Namibe
No Namibe, a CASA-CE surge em segundo lugar na votação, mas o partido no poder tem maioria absoluta dos votos. MPLA 76,48%; CASA-CE 15,61%; UNITA 5,56%; PRS 1,07%; FNLA 0,73%; APN 0,54%. O MPLA elege quatro deputados e a CASA-CE um. (Foto: pavilhão multiuso do Namibe)
Foto: DW/A. Vieira
Uíge
MPLA 71,36%; UNITA 18,55%; CASA-CE 6,19%; FNLA 1,62%; PRS 1,50%; APN 0,78%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: B. Ndomba
Zaire
MPLA 51,31%; UNITA 26,67%; CASA-CE 18,12%; FNLA 1,73%; PRS 1,21%; APN 0,96%. O MPLA elege três deputados, a UNITA e a CASA-CE apenas um. (Foto: oleodutos da Sonnagol na província do Zaire)