Presidente gambiano foi forçado a deixar o poder depois de 22 anos. Em Angola, José Eduardo dos Santos ocupa o cargo presidencial há 37 e as eleições estão marcadas para 2017. Poderá haver semelhanças nestes dois casos?
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O Presidente gambiano, Yahya Jammeh, foi forçado adeixar o poder que detinha há 22 anos no termo da eleição presidencial da semana passada. Em Angola, José Eduardo dos Santos ocupa o cargo presidencial há 37 anos e as eleições gerais estão marcadas para 2017. Poderá haver semelhanças nestes dois casos?
Na Gâmbia, a vitória do líder da oposição nas eleições presidenciais apanhou vários observadores de surpresa - o Presidente gambiano governou o país com mão de ferro durante 22 anos e já tinha vencido três eleições.
Mas, desta vez, a oposição uniu-se, e os gambianos sancionaram Jammeh nas urnas, numa altura em que ficava cada vez mais isolado internacionalmente: a Gâmbia anunciou que se iria retirar do Tribunal Penal Internacional e cortou laços com vários países ocidentais. O regime de Jammeh tem sido acusado de reprimir a oposição e, simultaneamente, milhares de pessoas deixaram o país devido a dificuldades económicas.
A oposição, liderada por Adama Barrow, venceu com 45,54% dos votos, contra 36,66% de Jammeh. No site Rede Angola, a jornalista Luísa Rogério descreveu a vitória de Barrow como a "Esperança Triunfante na Gâmbia".
"O pequeno país compreendeu que o voto popular serve para eleger projetos. E assim, o rosto desconhecido emergiu, relegando para os compêndios académicos o estudo das ações do homem que enfeitava retratos em todos os cantos da Gâmbia", escreveu Rogério.
Em Angola, o Presidente José Eduardo dos Santos está no poder há 37 anos. Será que, à semelhança do que aconteceu na Gâmbia, a oposição angolana poderá vencer as eleições marcadas para 2017?
Em entrevista à DW África, o investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Eugénio Costa Almeida, duvida. As situações são diferentes, justifica.
DW África: Na Gâmbia, a derrota do Presidente Yahya Jammeh, e em particular o reconhecimento da derrota, surpreendeu-o?
Eugénio Almeida (EA): Sim, dada a exigência da governação e o facto de ele ser claramente um autocrata, ou seja, um ditador bastante forte no país.
DW África: Na Gâmbia, o que se diz é que o povo estava cansado e, de facto, a oposição venceu. O Presidente Jammeh estava há 22 anos no poder; em Angola, José Eduardo dos Santos está há 37. A situação é diferente em Angola?
EA: É completamente diferente. O ex-Presidente gambiano tinha uma áurea de um pouco "kibanda", como dizemos em Angola, um pouco brusco. Recordemos que ele tinha dito que tinha inventado hipóteses de cura da SIDA, etc. etc. e, portanto, isso cansa as pessoas. Se elas forem bem "trabalhadas", no sentido político da expressão, por um opositor, mais depressa o cansaço se torna evidente. Foi isso que provavelmente aconteceu na Gâmbia. Ora, em Angola a situação não é a mesma; a situação nem sequer é comparável. José Eduardo dos Santos está há 37 anos no poder. Inicialmente, sabemos que foi através da política de partido único. Mais tarde, depois de 1998, começou a chamada liberalização política [multipartidarismo] e [Eduardo dos Santos] tinha aura de sair vencedor de uma luta fraticida.
DW África : Mas em Angola nota-se um cansaço no seio da população?
05.12.16 Entrevista Eugénio Costa Almeida - MP3-Mono
EA: Há um setor que está cansado e há um outro que não e o continua a idolatrar. Não me admiraria que esse mesmo setor tentasse persuadi-lo a continuar. Mas, como sabe, há quem tenha sempre um apoio muito forte individualmente, embora o partido que o acompanhe possa não ter o mesmo apoio. E entre ficar no poder e ter uma derrota política, no sentido de não ter o "score" inicialmente desejável, o bom senso manda que se saia. É isso que, claramente, se passa em Angola.
DW África: Portanto, resumindo, uma situação como a que se passou na Gâmbia não aconteceria em Angola, de acordo com o que me disse até agora?
EA: Não me parece possível. Repare, claro que tudo é possível, desde que haja vontade e uma necessidade de mudança imperiosa. Mas para isso seria necessário que haja alguém que aglutine essa vontade.
DW África: Na Gâmbia, a oposição uniu-se contra Jammeh, acreditando, no fundo, que juntos seriam mais fortes. Isso poderá acontecer em Angola? Uma união da oposição contra o MPLA?
EA: Acredito que mais depressa o rio Cuanza ficaria seco. Não vejo viabilidade possível, porque há pelo menos dois bons quadros para o poder: Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku, até já foram companheiros de partido, já tiveram algum litígio precisamente por causa do poder e, portanto, teria que haver conversações muito fortes e prolongadas para que isso viesse a acontecer. Ora 2017 é já daqui a 27 dias.
Sancionar os corruptos
Após a votação pública dos 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção", a ONG Transparência Internacional selecionou e anunciou esta quarta-feira (10.02) os 9 casos que passaram para a "Fase de Sanção Social".
Foto: picture alliance / AP Photo
Isabel dos Santos
Depois da votação pública dos 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção" da Transparência Internacional, 9 casos foram destacados pela organização. A filha mais velha do Presidente angolano não faz parte, apesar dos 1418 votos. Segundo a TI, a seleção dos 9 foi baseada não só nos votos, mas também no impacto nos direitos humanos e na necessidade de destacar o lado menos visível da corrupção.
Foto: Nélio dos Santos
Teodoro Nguema Obiang
Conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso, o filho do Presidente da Guiné Equatorial é, desde 2012, o segundo Vice-Presidente da República. A Guiné Equatorial é o país mais rico de África, per capita, apesar do Banco Mundial alegar que mais de 75% da população vive na pobreza. Teodoro somou apenas 82 votos e - como Isabel dos Santos - não foi nomeado para a fase de sanção social.
Foto: DW/R. Graça
Banco Espírito Santo
As suspeitas de corrupção do BES (Banco Espírito Santo) começaram quando o grupo financeiro português entrou em bancarrota em 2014. Foram descobertas fortes evidências de corrupção, fraude e lavagem de dinheiro. Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, já esteve preso e foi recentemente libertado sob fiança. O BES somou 193 votos e também não passou aos 9 maiores casos de grande corrupção do mundo.
Foto: DW/J. Carlos
Mohamed Hosni Mubarak
Presidente do Egito entre 1981 e 2011, Mohamed Hosni Mubarak somou 207 votos e encontra-se agora preso. Mesmo assim, não aparece na lista dos casos de grande corrupção que a Transparência Internacional quer sancionar socialmente. Também o comércio de jade do Myanmar e a China Communication Construction Company ficaram de fora com 47 e 43 votos, respetivamente.
Foto: picture-alliance/AP
Transparência Internacional
"Unmask the Corrupt" é um projeto da Transparência Internacional que após receber 383 submissões, nomeou os 15 casos mais simbólicos de corrupção. Após receberem mais de 170 mil votos, reduziram os 15 para 9 casos. A Transparency International quer promover uma campanha mundial para aplicar sanções sociais e políticas nestes exemplos de corrupção. A DW África mostra-lhe os 9 casos nomeados.
Estado americano de Delaware
O Estado norte-americano de Delaware está entre os 9 casos mais simbólicos de corrupção. O jornal The New York Times chegou mesmo a apelidar o Estado como "paraíso fiscal corporativo" pela possibilidades que oferece às empresas. Somou 107 votos. "Está na hora da justiça e das pessoas mostrarem o poder das multidões", afirmou em comunicado de imprensa José Ugaz da Transparência Internacional.
Foto: Getty Images/M. Makela
Zine al-Abidine Ben Ali
Com 152 votos está o ex-Presidente da Tunísia, que governou entre 1987 e 2011. É acusado de roubar mais de dois mil milhões de euros à população tunisina e de beneficiar amigos e companheiros a escapar à justiça. É conhecido pelo seu estilo de vida extravagante e saiu do Governo em 2011, na sequência de protestos nas ruas da Tunísia conhecidos como a Revolução de Jasmim ou Primavera Árabe.
Foto: picture-alliance/dpa
Fundação Akhmad Kadyrov
A Fundação Akhmad Kadyrov tem como fim o desenvolvimento social e económico da Chechénia. Mas é acusada de gastar as verbas a entreter e oferecer presentes a estrelas de Hollywood e para o benefício de Ramzan Kadyrov (na foto), presidente da região russa da Chechénia e filho do falecido Akhmad Kadyrov. Segundo a TI, Ramzan Kadyrov usou as verbas para comprar jogadores de futebol. Reuniu 194 votos.
Foto: imago/ITAR-TASS/Y. Afonina
Sistema político do Líbano
Com 606 votos, o sistema político no Líbano, nomeadamante o Governo, as autoridades e as instituições, encontram-se também na lista da Transparência Internacional. Segundo a filial libanesa da TI, a corrupção encontra-se em todos setores sociais e governamentais, existindo "uma cultura de corrupção" no país. Considera o Líbano um país "muito fraco" em termos de integridade.
Foto: picture-alliance/dpa
FIFA - Federação Internacional de Futebol
A Federação Internacional de Futebol, mais conhecida como FIFA, é acusada de ultrajar milhões de fãs. Os respoonsáveis pelos cargos mais elevados são acusados de roubar milhões de euros e estão a ser analisados 81 casos suspeitos de branqueamento de capitais um pouco por todo o mundo. Há suspeitas que várias eleições de países anfitriões de mundiais de futebol foram manipuladaa. Conta 1844 votos.
O senador da República Dominicana conta 9786 votações. Foi acusado de branqueamento de capitais, abuso de poder, prevaricação e enriquecimento ilícito no valor de vários milhões de dólares. Bautista já esteve em tribunal, mas nunca foi considerado culpado, o que originou vários protestos por parte da população dominicana.
Foto: unmaskthecorrupt.org
Ricardo Martinelli e companheiros
É ex-Presidente do Panamá e empresário. Ricardo Martinelli terminou com 10166 votos e possui atualmente uma rede de supermercados no país, entre outras empresas. Está envolvido numa polémica de espionagem política durante o seu mandato entre 2009 e 2014, utilizando alegadamente dinheiros públicos. Tem outras acusações em tribunal, incluindo vários crimes financeiros e subornos e perdões ilegais.
Foto: Getty Images/AFP/J. Ordone
Petrobras
A petrolífera Petrobras, empresa semi-estatal brasileira, ficou em segundo lugar com 11900 votos. As acusações de subornos, comissões e lavagens de dinheiro de mais de dois mil milhões de euros, conduziram, alegadamente, o Brasil a uma profunda crise política. O caso envolve mais de 50 políticos e 18 empresas. A população brasileira já protestou várias vezes nas ruas para exigir justiça.
Foto: picture alliance/CITYPRESS 24
Viktor Yanukovych
O ex-Presidente da Ucrânia foi o mais votado. Acumulou 13210 acusações e é acusado de "deixar escapar" milhões de ativos estatais em mãos privadas e de ter fugido para a Rússia antes de ser acusado de peculato. Yanukovych começou o seu mandato em 2010, foi reeleito em 2012 e cessou as suas funções no ano de 2014, quando foi destituído após vários protestos populares.