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Eleições em Angola: Quais as expetativas na diáspora?

7 de agosto de 2022

A DW África ouviu este sábado (06.08) membros da comunidade angolana no Concelho de Sintra, Portugal, durante uma iniciativa sociocultural de associações. Eleitores na diáspora têm expetativas moderadas.

Angolanische Gemeinde in Portugal
Lisandra de Almeida, presidente do Fórum de Jovens Angolanos em Portugal (FJAP).Foto: João Carlos/DW

O evento realizou-se em véspera do início da formação dos agentes eleitorais em Lisboa, numa altura em que decorre a campanha política partidária a antecipar as eleições gerais do dia 24 deste mês. Alguns dos angolanos ouvidos pela DW África defendem a alternância, mas lembram que é preciso saber "perder ou ganhar em nome da democracia em Angola".

O futebol foi a modalidade dominante, logo pela manhã, no arranque do Encontro Sócio-cultural da Comunidade Angolana do Conselho de Sintra e arredores, que decorreu no Parque Desportivo de Monte Abraão. Na ausência de equipas femininas, o quadrangular do torneio de futebol de salão masculino foi disputado pelas equipas de Cacém, Queluz, Lisboa e Margem Sul, constituídas na sua maioria por jovens.

Para esta partida, todos contra todos, coube à Consul Geral de Angola, Vicência Ferreira Morais de Brito, dar o pontapé de saída e, uma hora depois, fazer a entrega dos troféus e medalhas às equipas participantes classificadas. 

"Estrela da Lusofonia"

Do jogo final saiu vencedora a turma "Estrela da Lusofonia", de Cacém, que, após derrotar os Afrotugas, de Queluz, recebeu a taça das mãos de Vicência de Brito, num ambiente de muito regozijo festejado em campo. Sob a arbitragem de Zeferino Boal, os jogos decorreram com normalidade. "Foi uma partida amigável e competitiva, espero ter contribuído para a festa", revelou à DW depois da final.

Atislau David, capitão da equipa que conquistou o lugar de vice-campeão, encara a derrota com espírito desportivo. "Com certeza que gostaríamos de ganhar. Tentámos. Na próxima, quem sabe a gente ganhe", disse à DW. Acima de tudo – apesar de alguma tensão registada ao longo do jogo –, David valoriza o espírito de confraternização desta iniciativa promovida por várias associações da comunidade em Portugal, independentemente de qualquer ligação partidária. 

"A iniciativa é boa por juntar a população angolana aqui na diáspora, para se interagir mais, conviver e socializar-se, coisa que dificilmente acontece", remata, reconhecendo, entretanto, que é preciso saber ganhar e perder. "Acima de tudo, saber aceitar o resultado, sem conflito e briga", sublinha, sem ousar comparar esta disputa com as eleições gerais de 24 deste mês que, no entanto, diz ser "uma coisa mais séria".

O futebol foi a modalidade dominante no encontro.Foto: João Carlos/DW

"Não apenas vencer"

Em declarações à DW, Vivência de Brito valoriza o incremento e o incentivo de mais iniciativas do género junto da comunidade "como factor de união saudável", independentemente deste período de campanha eleitoral e de qualquer ligação partidária de cada um. "Nós consideramos que as atividades desportivas unem os angolanos e concorrem para que haja maior intercâmbio e solidariedade" […], indo "ao encontro dos nossos cidadãos", afirma, "para ajudarmos na solução dos vários problemas que a comunidade angolana enfrenta em Portugal".

Com um ligeiro problema na perna, a cônsul confessa que teve alguma dificuldade em fazer em direção à baliza o "remate de arranque" dos jogos. Mas também admite que, através de iniciativas desportivas como esta, fica a mensagem para estes jovens – futuros quadros e dirigentes de Angola – de que é preciso saber ganhar e perder. "Quero acreditar que, para estes jovens, o mais importante foi participar, estarem juntos, poderem interagir. E não importa muito quem ganha e quem perde", reage a cônsul quando questionada pela DW. "É um estímulo, sim, poderem fazer o melhor no futuro pelo país", conclui.

Continuidade ou mudança

Lisandra de Almeida, presidente do Fórum de Jovens Angolanos em Portugal (FJAP), assume que este é um evento congregador que tenta juntar as várias "ilhas" da comunidade na diáspora. Olha para as próximas eleições em Angola com esperança, mas lamenta o facto de muitos angolanos terem desperdiçado "a oportunidade de terem uma voz" no próximo ato eleitoral ao não se inscreverem durante o registo oficioso. 

Considera que, infelizmente, o número dos inscritos não expressa a dimensão representativa de angolanos na diáspora. "Acredito que, por ser a primeira vez, as pessoas estejam um pouco acanhadas", justifica. Mas, na sua perspetiva: "este é o primeiro passo para nós, angolanos, irmos nos habituando àquilo que vai ser a nossa vida de cinco em cinco anos". 

Atislau David é de opinião que a campanha decorre com normalidade e equilíbrio. "Já não é só o MPLA", reconhece o jovem que confessa a sua simpatia pelo partido no poder, dirigido por João Lourenço. "Há outros partidos que podem fazer frente ao MPLA e vamos ver o que vão dar estas eleições". A expetativa é saber se vai haver continuidade ou se haverá mudança na liderança do poder em Angola. "Qualquer que seja o resultado, a gente tem que tentar acatar", reafirma o capitão dos Afrotugas.

Para este jovem angolano, depois dos mais de 40 anos de MPLA no poder, "seria ótimo a alternância". Defende que se devia dar oportunidade a um outro partido alternativo ao MPLA, "porque todo o mundo espera pela mudança" e por uma Angola melhor, acredita.

Agostinho de Carvalho e sua esposa.Foto: João Carlos/DW

"Não há democracia sem alternância"

Músico e escritor, António Agostinho de Carvalho Neto foi convidado a estar presente no evento sociocultural deste sábado. O também economista angolano pede aos partidos que, nesta campanha eleitoral, fundamentem os seus objetivos programáticos com justeza e honestidade, sem empolgar vitórias antes da ida às urnas, por orgulho. "Porque isso, geralmente, cria ódio", avisa. "Vamos estimular as discussões, os fundamentos e as razões [das propostas]", aconselha, referindo que é preciso esperar pela decisão dos angolanos depois da votação.

Considera que a alternância não é em si um objetivo. "A alternância é uma situação em que devemos ter sempre o povo na primeira linha", argumenta.

Arlindo Nhabomba, estudante moçambicano em Ciências e Tecnologias de Informação no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (IUL), diz que convive de perto com colegas angolanos. Esteve entre os que assistiram os jogos e disse à DW que o espírito deste encontro promovido pelas associações angolanas "é positivo" em antecipação às próximas eleições gerais em Angola. Acredita que, tal como aconteceu aqui em Sintra, o ato eleitoral terá lugar num ambiente de paz e tranquilidade, sem qualquer crispação política.

"Acho que até é um bom ensinamento para a sociedade angolana e é um contributo muito interessante", adianta o jovem estudante defensor da inclusão que, olhando também para o caso moçambicano, lembra que não há democracia sem alternância. "A alternância seria uma oportunidade para os angolanos verem o outro lado. Por exemplo, o que é que um outro partido na oposição pode trazer [de novo]", conclui.

Tem início esta segunda-feira (08.08), no Consulado Geral de Angola em Lisboa, a formação dos 45 candidatos selecionados para os postos de agentes eleitorais que vão compor as mesas de voto. A ação de formação realiza-se em dois grupos, entre esta segunda e sexta-feira desta semana, e será orientada por formadores da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) vindos de Luanda, segundo informou à DW Carlos Santos, vice-cônsul para as comunidades e ponto focal para a organização do processo eleitoral em Portugal.

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