Em Berlim, Rafael Savimbi faz apelos para a presença de observadores da UE nas eleições angolanas de Agosto de 2017. As controvérsias dos observadores da UE no último pleito angolano não assustaram o dirigente da UNITA.
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Rafael Massanga Savimbi está em Berlim desde segunda-feira (13.02.) a colher experiências junto da CDU, a União Democrata Cristã e da sua ala bávara, a CSU, União Social-Cristã, em matéria eleitoral. O secretário-geral adjunto da UNITA, o maior partido da oposição em Angola, diz que a viagem está inserida não apenas nos preparativos das eleições previstas para agosto próximo, mas também no reforço da cooperação entre as duas formações da família da internacional democrática de centro. Na capital alemã, Savimbi reuniu-se ainda com alguns parlamentares. A DW África entrevistou Rafael Massanga Savimbi:
DW África: O que o trouxe a Alemanha?
Rafael Massanga Savimbi (RS): Estamos a aproveitar a oportunidade para pedir que haja observadores internacionais, neste caso da União Europeia, a participarem no processo eleitoral em Angola. O ideal não é termos observadores que vêm, por exemplo, dois dias antes das eleições. Queremos que os observadores tenham algum tempo de antecedência para seguiremde perto o processo eleitoral: antes, durante e o pós. E não somente estarem lá para assistirem apenas o ato eleitoral em si. Esperamos que haja observação internacional também para garantir maior transparência, maior abertura e também para podermos aprender com o processo, sobre as falhas, as vantagens e o que será preciso, por exemplo, prever ou evitar numa futura eleição.
DW África: A presença de observadores internacionais é consensual em Angola?
RS: Acho que é uma necessidade, porque o que queremos é ter cada vez mais processos eleitorais transparentes...
DW África: Mas o que gostaríamos de saber é se isso já está determinado...
RS: Está em debate e acreditamos que por ser uma necessidade seja algo a ser implementado, porque de contrário vamos começar logo à partida a sentirmos que talvez haja receios. Mas a UNITA está a trabalhar para isso, está em contacto com outros grupos parlamentares, partidos políticos, e acreditamos que isso vai acontecer. Há duas semanas esteve em Luanda uma delegação da União Europeia com quem discutimos esse aspeto. E pensamos que por ser uma necessidade terá de haver observadores.
DW África: Nas últimas eleições, os observadores eleitorais da União Europeia (UE) informaram, depois da votação, que o processo estava manchado de irregularidades. Mas dias depois recuaram na sua avaliação para carimbar positivamente as eleições. Mesmo com este episódio a UNITA continua a confiar nos observadores da UE?
RS: Queremos confiar na boa vontade, não das pessoas, mas das instituições. Razão pela qual estamos a dizer que não queremos observadores que venham para o ato [de votação], para que no final tenham uma fotografia mais realista, como forma de evitar essas contradições, de primeiro dizer uma coisa e depois outra. E se houver mais tempo de seguir o processo, estamos em crer que a ideia também será outra e haverá uma certa coerência em relação ao que eles podem aferir no terreno.
DW África: Um conjunto de fatores determinam eleições livres, justas e transparentes, como por exemplo uma CNE (Comissão Nacional Eleitoral) independente, leis adequadas, consciencialização sobre direitos e obrigações do cidadão e até mesmo monitoria do escrutínio. O que a UNITA tem feito para garantir esses pressupostos?
RS: Esse é um desafio que podemos dizer que não é só da UNITA, é um desafio de todos os angolanos. Quanto à UNITA, o partido tem feito muito esforço no sentido de fazer com que, por exemplo, não seja o Governo a organizar todo o processo [eleitoral].
ONLINE Rafael Savimbi Berlim - MP3-Mono
Dez anos de paz em Angola
No dia 4 de Abril de a 2002 foi assinado o acordo de paz entre o governo do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola - e a UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola - , as duas formações políticas que mais influência tinham e têm no país. Dez anos depois, o que como está o país em termos de democracia, desenvolvimento humano, económico e social?
Foto: AP
À terceira foi de vez
A 4 de abril de 2002, o chefe das forças armadas do governo do MPLA, General Armando da Cruz Neto (esq.), e o chefe do estado-maior da UNITA, General Abreu Muengo Ukwachitembo Kamorteiro, trocam o acordo de paz assinado na Assembleia Nacional, em Luanda. Foi o terceiro acordo entre estas duas frações da guerra civil em Angola depois de Bicesse (Portugal) em 1991 e Lusaka (Zâmbia) em 1994.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
Como tudo começou
A guerra começou com a luta contra o poder colonial. Em 1961 vários grupos lutaram contra os portugueses. O MPLA, apoiado pela ex-União Soviética e por Cuba foi um desses grupos, assim como a UNITA que, inicialmente, teve o apoio da China, e a FNLA que teve o apoio de Mobuto Sese Seko, na altura presidente do então Zaire. Na foto: soldados portugueses em Angola no ano de 1961.
Foto: AP
Guerra entre iguais
Após a saída dos portugueses e a independência formal, a 11 de novembro de 1975, os três movimentos de libertação MPLA, UNITA e FNLA entraram em conflito. O MPLA de orientação marxista contou com apoio soviético e cubano. A UNITA recebeu apoio dos Estados Unidos da América e de tropas sul-africanas.
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Refugiados de guerra
Segundo dados do ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 600 mil angolanos refugiaram-se no estrangeiro e cerca de 4 milhões dispersaram-se pelas regiões do próprio país. Na fotografia: refugiados angolanos num acampamento próximo do Huambo no ano de 1999.
Foto: picture-alliance / dpa
Retirada dos soldados cubanos
O general cubano Samuel Rodiles, o general brasileiro Péricles Ferreira Gomes, chefe de um grupo de observadores da ONU e o general angolano Ciel Conceição, a 10 de janeiro de 1989 (da esq. a dt.). Dia em que os primeiros três mil soldados cubanos sairam do país. A retirada foi fixada num acordo assinado em 1988, entre a África do Sul, Cuba e Angola. Cuba orientava o MPLA militarmente desde 1975.
Foto: picture-alliance/dpa
Apoio da ex-República Democrática da Alemanha ao governo do MPLA
O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, visitou no dia 14 de outubro de 1981 o Muro de Berlim do lado da Alemanha Oriental (RDA). Na Porta de Brandemburgo, recebeu as saudações das tropas de fronteira da República Democrática da Alemanha do Tenente-General Karl-Heinz Drews.
Foto: Bundesarchiv
Primeira tentativa falhada em 1991 e 1992
Depois do acordo de paz de Bicesse (Estoril, Portugal) de 1991, realizaram-se as primeiras eleições presidências do país em 1992. O candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, saiu vencedor, mas sem maioria absoluta na primeira volta. Jonas Savimbi, o líder da UNITA, não aceitou o resultado e nunca chegou a haver uma segunda volta das eleições. A guerra continuou.
Foto: dapd
Segunda tentativa falhada em 1994
Depois do acordo falhado de Bicesse (Portugal) de 1991, houve uma segunda tentativa em Lusaka, na Zâmbia, no ano de 1994. O presidente da Zâmbia, Frederick Chiluba (centro), levanta as mãos do presidente angolano, José Eduardo dos Santos (esq.), e do chefe do movimento de guerrilha UNITA, Jonas Savimbi. Eles celebram o protocolo de Lusaka, mas o país acabou por entrar novamente em guerra.
Foto: picture-alliance/dpa
A morte de Jonas Savimbi
Fevereiro de 2002: Jonas Savimbi, o líder da UNITA, é morto pelos soldados governamentais no leste de Angola. Com a morte da pessoa, que era considerada a mais carismática da oposição em Angola, abriu-se uma nova oportunidade para a paz.
Foto: AP
Paz sem satisfação
Desde 2011 jovens saem às ruas, um pouco por todo o país, para protestar contra os 32 anos de governo do MPLA. Exigem eleições livres e transparentes e o fim do governo de José Eduardo dos Santos. Na imagem: manifestantes em Benguela.
Foto: DW
Petróleo e pobreza
Após 10 anos de paz, petróleo e pobreza abundam no país. De acordo com as Nações Unidas, o petróleo representa 96% das exportações do país. No entanto, de acordo com o Banco Mundial, em 2010, uma em seis crianças morria nos primeiros cinco anos de vida e grande parte da população angolana continua a viver na pobreza. (Autora: Carla Fernandes; Edição: Johannes Beck)