Moçambique: De 30 cabeças de lista, só cinco são mulheres
Debora Antunes
16 de agosto de 2019
Apenas cinco mulheres estão entre os 30 cabeças de lista às eleições em Moçambique a 15 de outubro. Um número baixo, segundo especialistas. Qual será o motivo? Desinteresse ou pouco espaço num meio dominado por homens?
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Francisca Tomás, na província de Manica, Judite Massengele, no Niassa, e Margarida Mapanzene, em Gaza (FRELIMO), Angela Eduardo, em Cabo Delgado (RENAMO) e Carla Fabião Mucavele, em Gaza (MDM): são estas as cinco mulheres que concorrem às eleições provinciais de 15 de outubro.
Um número baixo, principalmente a nível dos governos provinciais e municipais, afirma Elisa Muianga, do Instituto para Democracia Multipartidária (IMD).
O número também é baixo se comparado aos dados do último censo eleitoral, que mostra que 53% do eleitorado do país é feminino. Uma maioria que continua a ser representada na política maioritariamente por homens.
"Praticamente, nós não temos nenhum partido político que tenha uma secretário-geral, uma presidente. Se existe, há de ser um partido assim muito pequeno, sem grande representatividade”, afirma.
Machismo e falta de união
Para Muianga, o machismo e a falta de união das mulheres são fatores que podem explicar a baixa participação na política.
"As mulheres em Moçambique estão a começar agora a interessar-se, a perceber que política é o dia-a-dia delas e elas devem ser membros. Mas encontram, evidentemente, um obstáculo, porque os homens acham que o espaço político é um espaço deles. Eles é que percebem, eles é que ditam as regras", afirma.
Moçambique: De 30 cabeças de lista, só cinco são mulheres
Maria Inês Martins, representante da Liga Feminina da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), também acredita que o machismo é um problema que atinge todos os partidos.
"Moçambique é um país com características machistas e este machismo é o desafio que temos, para conquistar o nosso espaço. Há leis muito boas a favor da mulher, como a Carta Africana, a resolução 1325. Agora falta difundi-las e aplicá-las", diz.
Revisão de regras
Contudo, algumas regras dentro dos partidos políticos deveriam ser revistas. A escolha dos candidatos que participam das eleições de cabeças de lista, por exemplo, costuma ser feita pela liderança dos partidos que, na sua maioria, são homens. Um problema que, segundo Martins, é agravado pela falta de união das mulheres.
"Podemos dizer que a escolha dos candidatos a cabeças de lista é um processo democrático entre aspas. A eleição é: primeiro o órgão indica, lança para as bases, e a base por sua vez, elege através das conferências. Entretanto, são avançados os nomes e, dentro desses nomes podem estar lá homens e mulheres. Neste processo, temos essas duas frentes por enfrentar: o próprio homem, que, muitas vezes, faz barreiras à mulher, e a própria mulher, a fazer barreira à outra mulher", explica.
Judite Sitoe, líder da liga feminina do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), concorda que, algumas vezes, na luta pelo poder, os homens interferem nas candidaturas de mulheres e que elas, por sua vez, não se apoiam. "Eles mostram a outras mulheres que essa mulher não é capaz, mas que ele é capaz. E as mulheres, em vez de se apoiarem, apoiam o homem", diz.
Falta de iniciativa e união
Mas o secretário-geral do MDM, José Domingos Manuel, acredita que o problema não reside nos partidos, nem nos homens, mas na falta de iniciativa das mulheres em se candidatarem e na falta de união entre si. "Acabam ficando apenas homens a desafiar. Poucas tentam, e quando tentam, há o problema delas mesmo não se apoiarem", afirma.
Judite Sitoe concorda que, além de problemas como o machismo, existe, de facto, alguma falta de confiança das mulheres em si próprias e no trabalho de outras mulheres.
"Em alguns casos, são as próprias mulheres que não têm confiança em si mesmas, e em outros, as mulheres não confiam umas nas outras", diz.
Como solução para o problema da falta de confiança, Sitoe aposta na capacitação para encorajá-las na disputa com os homens e para auxiliar o trabalho de outras mulheres. "É preciso que haja mais capacitação das mulheres. Precisamos de capacitar mais e também sermos capacitadas", conclui.
Quem são as mulheres mais poderosas de África?
Nove mulheres africanas dão que falar no mundo da política e dos negócios, geralmente dominado por homens. Saiba quem são e como se têm destacado.
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Primeira mulher Presidente em África
Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher eleita democraticamente num país africano. De 2006 a 2018, governou a Libéria, lutando contra o desemprego, a dívida pública e a epidemia do ébola. Em 2011, ganhou o Prémio Nobel da Paz por lutar pela segurança e direitos das mulheres. Atualmente, lidera o Painel de Alto Nível da ONU sobre Migração em África.
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Um grande passo para as mulheres etíopes
Sahle-Work Zewde foi eleita, em outubro, Presidente da Etiópia. O poder no país é exercido pelo primeiro-ministro e o Conselho de Ministros. Entretanto, a eleição de uma mulher para a cadeira presidencial é considerada um grande avanço na sociedade etíope, onde os homens dominam os negócios e a política. Mas isto está a mudar. Hoje em dia, metade do Governo é formado por mulheres.
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Mulher mais rica de África
Isabel dos Santos tem uma reputação controversa em Angola. É filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que a colocou na administração da Sonangol em 2016. Mas o novo Presidente, João Lourenço, luta contra o nepotismo e despediu Isabel dos Santos. Mesmo assim, dos Santos ainda detém muitas participações empresariais e continua a ser a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes.
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Magnata do petróleo e benfeitora da Nigéria
1,6 mil milhões de dólares norte-americanos é a fortuna da nigeriana Folorunsho Alakija. A produção de petróleo faz com que a dona da empresa Famfa Oil seja a terceira pessoa mais rica da Nigéria. Com a sua fundação, a mulher de 67 anos apoia viúvas e órfãos. Também é a segunda mulher mais rica de África, apenas ultrapassada pela fortuna de Isabel dos Santos de 2,7 mil milhões (segundo a Forbes).
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Oficial da dívida da Namíbia
Na Namíbia, uma mulher lidera o Governo: desde março de 2015, Saara Kuugongelwa-Amadhila é primeira-ministra – e a primeira mulher neste escritório na Namíbia. Anteriormente, foi ministra das Finanças do país e perseguiu uma meta ambiciosa: reduzir a dívida nacional. A economista é membro da Assembleia Nacional da Namíbia desde 1995.
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Discrição e influência
Jaynet Kabila é conhecida pela sua discrição e cuidado. Irmã gémea do ex-Presidente congolês Joseph Kabila, é membro do Parlamento da República Democrática do Congo e também é dona de um grupo de meios de comunicação. Em 2015, a revista francesa Jeune Afrique apontou-a como a pessoa mais influente do Governo na RDC.
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Triunfo diplomático
A ex-secretária de Estado do Ruanda, Louise Mushikiwabo, será secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia em 2019. Isto, mesmo depois de o país ter assumido o inglês como língua oficial há mais de 10 anos. A escolha de Mushikiwabo para o cargo é vista como um triunfo diplomático. O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos apoiantes da sua candidatura.
Outra mulher influente: a nigeriana Amina Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas desde 2017. Entre 2002 e 2005, já tinha trabalhado na ONU no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Mais tarde, foi assessora especial do então secretário-geral, Ban Ki-moon, e, por um ano, foi ministra do Meio Ambiente na Nigéria.
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A ministra dos recordes no Mali
Recente no campo da política externa, Kamissa Camara é a mais jovem na política e primeira ministra do Exterior da história do Mali. Aos 35 anos, foi nomeada para o cargo pelo Presidente Ibrahim Boubacar Keïta e é agora uma das 11 mulheres no Governo. No total, o gabinete maliano tem 32 ministros.