Em Cabo Delgado candidato presidencial às eleições de outubro pela Ação do Movimento Unido de Salvação Integral cancela sua campanha, alegando falta de proteção policial face à violência que assola a província desde 2017
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Sem polícia para o escoltar, numa província com focos de violência armada, o líder da Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI) optou por cancelar, na passada sexta-feira (04.10) o seu périplo pela província moçambicana de Cabo Delgado.
Em entrevista à DW África, Mário Albino Muquissinse conta que a equipa policial que escoltava a caravana do seu partido no distrito de Erate, na província de Nampula, deveria tê-lo acompanhado na passada sexta-feira (04.10) até ao distrito vizinho de Chiure, ponto de entrada na província de Cabo Delgado. Mas acabou por interromper a viagem, alegando uma avaria na viatura. Por isso, a caravana do candidato do AMUSI teve de ir sem proteção policial até Chiure.
"Interagimos com o Comando distrital de Erate que era para nos acompanhar ao distrito de Chiure para começar com Cabo Delgado... só que surpreendentemente disseram que não tinham transporte e não garantiam acompanhar [a nossa caravana] e que se pudéssemos continuar com a viagem teríamos escolta do distrito de Chiure. Fomos sem escolta até Chiure e quando ligamos para eles disseram que não estavam disponíveis porque não tinham viatura."
"Candidato sem paciência"A polícia em Nampula confirma a avaria do carro de escolta, mas diz que pouco depois disponibilizou outro veículo para prosseguir viagem. Zacarias Nacute é o porta-voz do Comando Provincial da Polícia de Nampula e afirma que "o que aconteceu é que logo de imediato foi requisitada uma outra viatura para fazer cobertura da escolta porque a viatura que estava a fazer escolta no momento não teve condição de continuar a viagem. Provavelmente o candidato não teve paciência de esperar e acabou por adiantar antes da viatura chegar."
Segundo Mário Albino Muquissinse, este não é o primeiro incidente do seu partido relacionado com falta de proteção policial. O candidato lembra que também no distrito de Malema, em Nampula, a polícia local terá alegado uma avaria na viatura para não escoltar a caravana do Movimento Unido de Salvação Integral. Para o candidato, estes incidentes representam uma ameaça à democracia.
"É uma questão de não separação de poderes. Não é por incompetência da própria PRM, há uma mão política que cria esses obstáculos todos, mas nós estamos a avançar. Portanto, a interpretação é que, de facto, a democracia em Moçambique está ameaçada."
Eleições em Moçambique: Candidato presidencial do AMUSI cancela campanha
RENAMO dá nota positiva
Ao contrário do AMUSI, a RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique, dá nota positiva à atuação da polícia durante a campanha eleitoral. Alberto Kavandame é o porta-voz do partido em Cabo Delgado e diz que "neste preciso momento a polícia está a assumir a sua parte e é isto que nós como a RENAMO queremos: que seja Polícia da República de Moçambique e ela esta assumir a sua parte que é de louvar."
A falta de divulgação da campanha do AMUSI pelos meios de comunicação social é outro problema que Mário Albino lamenta.
"A candidatura [para a presidência] da República quem defende não é apenas o candidato. Em todas as províncias estamos a fazer campanha apesar de termos um outro problema: os órgãos de comunicação social sobretudo as televisões não divulgam as nossas mensagens."
Uma crítica partilhada pela RENAMO. "Na cobertura dos eventos é normal a Televisão de Moçambique dizer que a RENAMO não saiu a rua, a RENAMO não forneceu a sua agenda de campanha. A verdade é que isto muitas das vezes não constitui verdade."
A FRELIMO também tem feito campanha em Cabo Delgado. Desde segunda-feira (30.09.), está na província o secretário-geral do partido no poder, Roque Silva.
Eleições em Moçambique: A campanha em fotografias
Começou a campanha eleitoral em Moçambique. Candidatos prometem lutar contra a corrupção, criar empregos e melhorar o dia a dia dos moçambicanos. Eleições estão agendadas para 15 de outubro.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Promessas novas e antigas
Começou a "caça ao voto" em Moçambique. As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro e os candidatos à Presidência acenam aos eleitores com várias promessas: lutar contra a corrupção, melhorar as condições de vida do povo e a qualidade de ensino e criar mais empregos. Promessas novas, mas que também já se ouviram noutras eleições.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Nyusi contra "demagogias"
Filipe Nyusi recandidata-se ao cargo de Presidente. No arranque da campanha eleitoral, o candidato da FRELIMO criticou "demagogias" e assegurou que conhece as preocupações da população. Por isso, promete criar mais empregos e melhorar as escolas, as estradas e o setor da saúde.
Foto: DW/M. Sampaio
Ossufo Momade: Uma estreia
É uma estreia nestas eleições: o novo líder do maior partido da oposição em Moçambique, Ossufo Momade, candidata-se, pela primeira vez, à Presidência da República, depois da morte do líder histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama, em maio de 2018. Momade promete combater a corrupção no país: "Estão a prender os peixinhos enquanto os tubarões estão lá. Nós queremos que os tubarões entrem também."
Foto: DW/M. Sampaio
Simango critica dívidas ocultas
Daviz Simango, o candidato presidencial do MDM, também não está contente com a governação no país. Segundo Simango, basta olhar para o escândalo das dívidas ocultas, garantidas pelo anterior Governo sem conhecimento do Parlamento: "Vejam as dívidas ocultas, que prejudicam sobremaneira o nosso povo, encarecendo a vida da maioria". É preciso mudar de rumo, diz.
Foto: DW/M. Sampaio
Falta de fundos para AMUSI
É o quarto candidato presidencial: Mário Albino, do partido extraparlamentar Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI). Albino começou a campanha a "lamentar o comportamento da CNE que está amarrada às orientações do partido FRELIMO. Até hoje não libertaram fundos para a campanha eleitoral para o AMUSI", denunciou Albino, citado pelo jornal moçambicano O País.
Foto: DW/S.Lutxeque
Problemas por resolver
Antes do início da campanha, já havia várias controvérsias em relação a estas eleições: denúncias sobre "eleitores-fantasma" na província de Gaza ou ameaças de um boicote ao processo pela autoproclamada Junta Militar da RENAMO (foto), que contesta Ossufo Momade na presidência do partido. Na véspera do arranque da campanha, a Junta Militar ameaçou: "Somos moçambicanos e continuamos com as armas."
Foto: DW/A. Sebastiao
Novidade: Eleição de governadores
Pela primeira vez na história de Moçambique, os eleitores vão poder escolher os 10 governadores provinciais. É uma novidade que resulta das negociações de paz entre o Governo e o maior partido da oposição a RENAMO. Nas províncias, os candidatos também andam a tentar "caçar votos". Na foto, apoiantes da FRELIMO na província da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
"Escolher um filho para dirigir a província"
Manuel de Araújo candidata-se pela RENAMO a governador da província da Zambézia. No arranque da campanha congratulou-se com a possiblidade de os moçambicanos poderem votar nos seus governadores: "44 anos que este país está independente, mas nós nunca tivemos a possibilidade de escolher um filho nosso para dirigir a província". Pio Matos é o candidato da FRELIMO e Luís Boa Vida do MDM, na Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
CNE prepara escrutínio
As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro. Segundo a Comissão Nacional de Eleições de Moçambique (CNE), estão a ser recrutados os "formadores provinciais e os candidatos a membros das assembleias de voto, cuja formação deverá acontecer durante o mês de setembro". Serão distribuídas 21 mil mesas de voto por todo o território nacional e pela diáspora.