Eleições em Moçambique: "Chega de promessas não cumpridas"
Manuel David (Lichinga)
5 de setembro de 2019
Melhoria das condições de vida da população, mais infraestruturas sociais, exploração racional de recursos naturais e igualdade das oportunidades: os candidatos a governador na província do Niassa não prometem pouco.
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Oficialmente, a campanha eleitoral arrancou no sábado, 31 de agosto. Mas a resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) só se lançou oficialmente na caça ao voto quarta-feira, dia 4, alegando questões estratégicas. Na sede do partido, em Lichinga, o seu cabeça de lista, Hilário Waite, prometeu salvar a população do Niassa do sofrimento, caso seja eleito: "O nosso povo não tem boa saúde, sofre de má governação, a educação é um dilema. A nossa província é potencialmente agrícola, tem recursos naturais de varias espécies, mas o nosso povo não usufrui dessas riquezas", disse Waite à DW África.
Também o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que iniciou a sua campanha eleitoral no distrito de Cuamba, quer melhorar as condições de vida da população da província em todas as esferas. O candidato do MDM para o cargo de governador do Niassa, Damião Saimone, queixa-se de negligência por parte do governo de Maputo: "A província do Niassa esta marginalizada", acrescentando que nem parece terem passado 44 anos sobre a independência. "Agora estou na zona de Chamba e Sale, no distrito onde eu nasci. Não há infraestruturas sociais, faltam estradas, pontes, escolas e as escolas existentes quem as faz é a própria comunidade", disse Saimone.
Programas partidários sérios precisa-se
Os candidatos na província do Niassa não prometem pouco.
Judite Massangele, que concorre pelo partido governamental Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), lançou a sua campanha no campo do Ferroviário, no bairro de Chuaula. Massangele quer dar continuidade ao trabalho do partido no poder: "Porque só com a FRELIMO vamos promover o desenvolvimento do Niassa e nós queremos o Niassa desenvolvido".
Para o jornalista e analista politico Santos Felisberto, os candidatos dos três maiores partidos políticos devem apresentar programas convincentes e realistas, porque a província precisa de uma mudança séria."Há uma situação muito preocupante no meio desses partidos políticos. Alguns, quando namoram os seus eleitores e são conduzidos ao poder, especem o que andaram a prometer à população e não vão ao encontro da realidade".
Também os cidadãos do Niassa ouvidos pela DW África esperam promessas justas e uma campanha ordeira: "Eu acredito que vai decorrer de melhor forma porque os partidos políticos estão a preparar a sua campanha e ate neste momento não existe nenhuma irregularidade”, diz um cidadão e outro acrescenta: "Espero seriedade dos cabeças de lista. E chega de promessas não cumpridas. Queremos ver o Niassa desenvolver".
Eleições em Moçambique: A campanha em fotografias
Começou a campanha eleitoral em Moçambique. Candidatos prometem lutar contra a corrupção, criar empregos e melhorar o dia a dia dos moçambicanos. Eleições estão agendadas para 15 de outubro.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Promessas novas e antigas
Começou a "caça ao voto" em Moçambique. As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro e os candidatos à Presidência acenam aos eleitores com várias promessas: lutar contra a corrupção, melhorar as condições de vida do povo e a qualidade de ensino e criar mais empregos. Promessas novas, mas que também já se ouviram noutras eleições.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Nyusi contra "demagogias"
Filipe Nyusi recandidata-se ao cargo de Presidente. No arranque da campanha eleitoral, o candidato da FRELIMO criticou "demagogias" e assegurou que conhece as preocupações da população. Por isso, promete criar mais empregos e melhorar as escolas, as estradas e o setor da saúde.
Foto: DW/M. Sampaio
Ossufo Momade: Uma estreia
É uma estreia nestas eleições: o novo líder do maior partido da oposição em Moçambique, Ossufo Momade, candidata-se, pela primeira vez, à Presidência da República, depois da morte do líder histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama, em maio de 2018. Momade promete combater a corrupção no país: "Estão a prender os peixinhos enquanto os tubarões estão lá. Nós queremos que os tubarões entrem também."
Foto: DW/M. Sampaio
Simango critica dívidas ocultas
Daviz Simango, o candidato presidencial do MDM, também não está contente com a governação no país. Segundo Simango, basta olhar para o escândalo das dívidas ocultas, garantidas pelo anterior Governo sem conhecimento do Parlamento: "Vejam as dívidas ocultas, que prejudicam sobremaneira o nosso povo, encarecendo a vida da maioria". É preciso mudar de rumo, diz.
Foto: DW/M. Sampaio
Falta de fundos para AMUSI
É o quarto candidato presidencial: Mário Albino, do partido extraparlamentar Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI). Albino começou a campanha a "lamentar o comportamento da CNE que está amarrada às orientações do partido FRELIMO. Até hoje não libertaram fundos para a campanha eleitoral para o AMUSI", denunciou Albino, citado pelo jornal moçambicano O País.
Foto: DW/S.Lutxeque
Problemas por resolver
Antes do início da campanha, já havia várias controvérsias em relação a estas eleições: denúncias sobre "eleitores-fantasma" na província de Gaza ou ameaças de um boicote ao processo pela autoproclamada Junta Militar da RENAMO (foto), que contesta Ossufo Momade na presidência do partido. Na véspera do arranque da campanha, a Junta Militar ameaçou: "Somos moçambicanos e continuamos com as armas."
Foto: DW/A. Sebastiao
Novidade: Eleição de governadores
Pela primeira vez na história de Moçambique, os eleitores vão poder escolher os 10 governadores provinciais. É uma novidade que resulta das negociações de paz entre o Governo e o maior partido da oposição a RENAMO. Nas províncias, os candidatos também andam a tentar "caçar votos". Na foto, apoiantes da FRELIMO na província da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
"Escolher um filho para dirigir a província"
Manuel de Araújo candidata-se pela RENAMO a governador da província da Zambézia. No arranque da campanha congratulou-se com a possiblidade de os moçambicanos poderem votar nos seus governadores: "44 anos que este país está independente, mas nós nunca tivemos a possibilidade de escolher um filho nosso para dirigir a província". Pio Matos é o candidato da FRELIMO e Luís Boa Vida do MDM, na Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
CNE prepara escrutínio
As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro. Segundo a Comissão Nacional de Eleições de Moçambique (CNE), estão a ser recrutados os "formadores provinciais e os candidatos a membros das assembleias de voto, cuja formação deverá acontecer durante o mês de setembro". Serão distribuídas 21 mil mesas de voto por todo o território nacional e pela diáspora.