Eleições em Moçambique: FRELIMO acusada de ilegalidade
Arcénio Sebastião
12 de outubro de 2019
MDM e RENAMO acusam o partido no poder de estar a desviar alimentos destinados à população e distribuir entre os seus membros e simpatizantes. Cartões de eleitores estarão a ser recolhidos em troca do voto.
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Segundo denúncias feitas pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), os atos estão a acontecer nos dias em que as organizações não governamentais planeiam a distribuição de alimentos à população afetada pelo ciclone Idai e inundações em Búzi, na província de Sofala.
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) estaria a dar ordens às ONGs para que a disponibilização dos bens seja feita em atividades do partido no poder. Aqueles que não são simpatizantes da FRELIMO, não serão beneficiados.
Armando Fernando é um membro do MDM no distrito de Búzi, na província de Sofala.
"Quando nós chegamos, o secretário do bairro levantou e disse que quem é membro da FRELIMO fica de um lado e quem é membro do MDM fica do outro lado. A partir de hoje, quem tem direito de receber esta comida é o membro da FRELIMO. Quem é membro do MDM tem que sair daqui, não tem direito de receber. Levantei a mão e falei: 'Eu não sou membro da FRELIMO, sou membro do MDM", relata.
Discriminação e exclusão
O delegado do MDM, Fernando Gaíssa, diz que, por várias vezes, a população que simpatiza com o seu partido sofre exclusão e discriminação - ou é até mesmo obrigada a fazer atividades ou participar em campanhas da FRELIMO para, em troca, receber alimentos.
A comida é escassa em Búzi, desde que o distrito foi fustigado pelo ciclone Idai e pelas inundações.
Gaíssa acrescenta, em entrevista à DW África, que já existem processos no tribunal sobre este assunto e que, agora, só aguardam pelo julgamento.
"Até agora, temos processos que estão no tribunal. Eles estão a usar os chefes das povoações, concretamente na localidade de Nharongue, zona de Mada e Bunha. Os chefes das povoações estão a ameaçar os nossos membros para que retirem os seus nomes das listas, porque são membros do MDM," denuncia.
"No dia que chega o cabeça de lista deles aqui de Sofala, programam fazer a distribuição [de alimentos] e dizem que não vão fazer o trabalho na estrada. Todos devem ir para a Praça Guebuza para receber o candidato ou o cabeça de lista e lá vão marcar as presenças. Então, levam toda a população para lá," acrescenta Fernando Gaíssa.
"Isso não é correto. Porque é que estão a fazer isso?" indaga o delegado do MDM.
Estas ações são levadas a cabo pelos secretários dos bairros que fazem alistamentos dos residentes carenciados, afirma ainda Gaíssa.
"É o que aconteceu em Danga. Levaram a população que estava a fazer parte do programa 'Comida pelo Trabalho' para a sede do partido FRELIMO. A pergunta que fica é: Quando é que vai ser construída a sede também do MDM beneficiando do programa 'Comida pelo Trabalho?" questiona o delegado.
Comida X voto
Outro partido que denuncia a mesma situação é a RENAMO, o maior e mais antigo na oposição moçambicana. Segundo este partido, populares são obrigados a mudar de cor partidária, caso contrário devem aguentar à fome. A seleção, segundo João Remédio, é feita nos bairros pelos secretários.
"[O cidadão] é obrigado que entregue ao secretário do bairro o cartão do eleitor para poder entrar no 'Comida pelo Trabalho," acusa.
Contudo, João Remédio acredita na vitória do partido que dirige.
O partido FRELIMO, por seu lado, desmente o uso de donativos para fins de propaganda e diz ser mesmo inocente.
"O partido FRELIMO nunca usou o 'Comida pelo Trabalho', nem sabemos onde está a acontecer isto. Isso está nas mãos da [organização] Visão Mundial. Nós nem sabemos as quantidades, quantas pessoas estão lá. Não temos conhecimento disso. Dizer que o partido está à frente disso, não é verdade", rebate o primeiro-secretário da FRELIMO.
Ciclones em Moçambique: Agora, a reconstrução
A cidade da Beira recebe durante dois dias a conferência internacional de doadores, após os ciclones Idai e Kenneth. Os ciclones afetaram mais de 1,5 milhões de pessoas. Este é um retrato de um país abalado.
Foto: Lena Mucha
Ajuda chega à Beira
Helena Santiago, de 53 anos, trabalha nos escombros da sua casa no bairro dos CFM - Maquinino, na Beira, onde vive com o marido e oito filhos. A sua casa não resistiu ao ciclone Idai. A conferência internacional de doadores que começa esta sexta-feira (31.05) na Beira poderá ser uma esperança para muitos afetados como Helena Santiago, pois uma das metas é a reconstrução.
Foto: Lena Mucha
Beatriz
Beatriz é fotografada com três dos sete filhos em frente ao seu campo de milho devastado. A sua aldeia natal, Grudja, esteve dias a fio debaixo de água. Beatriz e os filhos conseguiram salvar-se das enchentes que surpreenderam os moradores na manhã de 15 de março. Durante três dias, as pessoas ficaram à espera de ajuda no telhado da escola ou em cima das árvores, ou até que a água baixasse.
Foto: Lena Mucha
Centro de saúde destruído
Pacientes e crianças estão à espera de serem atendidos por uma equipa de emergência em frente ao centro de saúde de Grudja. O centro foi completamente destruído pelas inundações. Medicamentos e materiais de tratamento ficaram inutilizáveis devido à água.
Foto: Lena Mucha
Salvação
No telhado da escola primária Nhabziconja 4 de Outubro, muitas das pessoas salvaram-se das inundações. Algumas semanas depois do desastre, esta escola conseguiu retomar as aulas. Muitas outras escolas, no entanto, continuam fechadas.
Foto: Lena Mucha
Regina
Regina trabalha com a sogra, Laina, na sua propriedade. Antes da passagem do ciclone, Regina morava com o marido e os cinco filhos numa aldeia próxima de Grudja. As inundações destruíram a sua casa e as plantações. Ela e o marido refugiaram-se em cima de uma árvore e sobreviveram. Alguns dos seus filhos morreram nas inundações, outros ainda estão desaparecidos.
Foto: Lena Mucha
No Revuè
O rio Revuè, na localidade de Grudja, transbordou devido às fortes chuvas após o ciclone, inundando grande parte das terras circundantes. Nesta foto, tirada depois do nível da água ter voltado ao normal, estas mulheres lavam a roupa nas margens do rio.
Foto: Lena Mucha
Campos arruinados
Nesta imagem, as jovens Elisabete Moisés e Victória Jaime e Amélia Daute, de 38 anos, estão num campo de milho arruinado. Como muitos outros, tiveram que esperar vários dias nos telhados de Grudja depois das fortes chuvas, em meados de março. 14 dos seus vizinhos, incluindo 9 crianças, afogaram-se durante as inundações.
Foto: Lena Mucha
Escola primária tornou-se hospital
Mulheres e crianças estão à espera de tratamento médico, dado por uma equipa de emergência numa escola primária no distrito de Búzi, a oeste da cidade costeira da Beira. O ciclone Idai atingiu a costa moçambicana nesta cidade de cerca de 500 mil habitantes no dia 15 de março.
Foto: Lena Mucha
Fila para sementes
Em muitas partes do país, as plantações ficaram destruídas pelas enchentes. Durante um ano, pelo menos 750 mil pessoas deverão ficar dependentes de alimentos, segundo estimativas do Programa Alimentar Mundial. Em Cafumpe, no distrito de Gondola, 50 famílias receberam sementes de milho, feijão e repolho da organização de assistência alemã Johanniter e da ONG local Kubatsirana.
Foto: Lena Mucha
Reconstrução
Em Ponta Gea, na Beira, regressa-se à vida quotidiana. Muitas infraestruturas foram destruídas pelo ciclone. Nesta foto, cabos de energia destruídos e linhas telefónicas estão a ser reparados. Mas, a poucos quilómetros daqui, aldeias inteiras precisarão de ser reconstruídas. Em muitos sítios, ainda falta água e alimentos.