MAMO defende boicote das eleições de 15 de outubro
Sitoi Lutxeque (Nampula)
26 de setembro de 2019
MAMO apela ao boicote eleitoral, enquanto CNE diz que se trata de uma autêntica violação da lei e a Polícia garante investigar para responsabilizar criminalmente os dirigentes do partido.
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Enquanto os partidos políticos correm atrás do cidadão para pedir votos, a liderança do Movimento Alternativo de Moçambique (MAMO), um dos afastados na corrida eleitoral pelo Conselho Constitucional por varias irregularidades nas assinaturas, está a fazer um périplo pelo país para pedir aos seus membros e simpatizantes a não votarem nas eleições gerais moçambicanas marcadas para 15 de outubro
Estêvão de Fátima, secretário-geral do partido, em exclusivo a DW África fez saber que, desde o inicio da campanha eleitoral, já percorreu vários distritos de Cabo Delgado, e neste momento encontra-se no de Murrupula na província de Nampula, para depois deslocar-se as províncias da Zambézia, Niassa e Maputo onde o partido está inserido.
Segundo ele "fizemos de tudo para podermos concorrer, mas fomos retirados sem nenhuma explicação...então achamos que o processo eleitoral está viciado e por isso estamos a dizer aos nossos membros e simpatizantes que não vamos participar. Também estamos a pedir todos aqueles que são os nossos apoiantes para não votarem em nenhum partido, ficar em casa até que o processo termine", disse o secretário-geral do MAMO.
MAMO sem apoio dos quatro candidatosE o processo vai mesmo terminar, também, sem que o partido tenha um apoio dos quatro candidatos presidenciais e muito menos dos outros partidos concorrentes para as VI eleições gerais, tudo porque segundo Estêvão de Fátima "nenhuma formação politica terá manifestado interesse em dar o seu apoio e se agora isso acontecer já vai tarde demais".
Será que a desmobilização dos eleitores para votar tem alguma relação com Mariano Nhongo, líder da autoproclamada Junta Militar da RENAMO que também exige a anulação do processo? Questionamos Estêvão de Fátima, que também já militou nesse partido.
"Temos um objetivo e penso que Nhongo não explica o seu objetivo. Formamos o partido para concorrer as eleições, sem explicações nenhuma o partido é retirado [ da corrida] e isso nos deixou indignado. A justificação de Nhongo [ na anulação da votação] é tipo tribalista, porque ele aponta que não querem o seu líder (Ossufo Momade) e isso é diferente do que defendemos", disse.
Mobilização de 20 mil membrosSerá uma mobilização que vai, de acordo com Estevão Fátima, abranger mais de 20 mil membros do seu partido e que estes darão a resposta adequada.
Eleições em Moçambique: MAMO apela ao boicote eleitoral
Entretanto, a Comissão Nacional de Eleições (CNE), através do seu porta-voz Paulo Cuinica, que tomou o conhecimento da situação através do nosso correspondente quando lhe chamou a se pronunciar, disse que a situação é uma autêntica violação da lei.
"Deve ser levado as autoridades competentes. Este é assunto de Polícia. Ninguém deve negar o direito de votar a outra pessoa, é um crime. Repito, este assunto tem de ser levado a Polícia", destacou.
Mas a Polícia não teve conhecimento do caso e também só ficou a saber assim que o nosso correspondente abordou a situação. Mesmo assim, Zacarias Nacute, porta-voz da Polícia moçambicana em Nampula referiu que "é obrigação da PRM agir face a essa situação, mas tem de haver uma denúncia formal, ou a Polícia tem de flagrar este ato a acontecer. Uma vez que já nos foi notificado vamos mobilizar os colegas lá de Murrupula [ local onde até ao fecho da reportagem trabalhava o secretário-geral do MAMO] para ver se sensibilizem estes indivíduos a não pautarem por este comportamento e provavelmente os seus cabecilhas sejam responsabilizados pelo ato", prometeu Nacute.
Recorde-se, que depois de Mariano Nhongo, este é o primeiro movimento politico que contesta a realização das eleições de 15 de outubro em Moçambique.
Eleições em Moçambique: A campanha em fotografias
Começou a campanha eleitoral em Moçambique. Candidatos prometem lutar contra a corrupção, criar empregos e melhorar o dia a dia dos moçambicanos. Eleições estão agendadas para 15 de outubro.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Promessas novas e antigas
Começou a "caça ao voto" em Moçambique. As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro e os candidatos à Presidência acenam aos eleitores com várias promessas: lutar contra a corrupção, melhorar as condições de vida do povo e a qualidade de ensino e criar mais empregos. Promessas novas, mas que também já se ouviram noutras eleições.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Nyusi contra "demagogias"
Filipe Nyusi recandidata-se ao cargo de Presidente. No arranque da campanha eleitoral, o candidato da FRELIMO criticou "demagogias" e assegurou que conhece as preocupações da população. Por isso, promete criar mais empregos e melhorar as escolas, as estradas e o setor da saúde.
Foto: DW/M. Sampaio
Ossufo Momade: Uma estreia
É uma estreia nestas eleições: o novo líder do maior partido da oposição em Moçambique, Ossufo Momade, candidata-se, pela primeira vez, à Presidência da República, depois da morte do líder histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama, em maio de 2018. Momade promete combater a corrupção no país: "Estão a prender os peixinhos enquanto os tubarões estão lá. Nós queremos que os tubarões entrem também."
Foto: DW/M. Sampaio
Simango critica dívidas ocultas
Daviz Simango, o candidato presidencial do MDM, também não está contente com a governação no país. Segundo Simango, basta olhar para o escândalo das dívidas ocultas, garantidas pelo anterior Governo sem conhecimento do Parlamento: "Vejam as dívidas ocultas, que prejudicam sobremaneira o nosso povo, encarecendo a vida da maioria". É preciso mudar de rumo, diz.
Foto: DW/M. Sampaio
Falta de fundos para AMUSI
É o quarto candidato presidencial: Mário Albino, do partido extraparlamentar Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI). Albino começou a campanha a "lamentar o comportamento da CNE que está amarrada às orientações do partido FRELIMO. Até hoje não libertaram fundos para a campanha eleitoral para o AMUSI", denunciou Albino, citado pelo jornal moçambicano O País.
Foto: DW/S.Lutxeque
Problemas por resolver
Antes do início da campanha, já havia várias controvérsias em relação a estas eleições: denúncias sobre "eleitores-fantasma" na província de Gaza ou ameaças de um boicote ao processo pela autoproclamada Junta Militar da RENAMO (foto), que contesta Ossufo Momade na presidência do partido. Na véspera do arranque da campanha, a Junta Militar ameaçou: "Somos moçambicanos e continuamos com as armas."
Foto: DW/A. Sebastiao
Novidade: Eleição de governadores
Pela primeira vez na história de Moçambique, os eleitores vão poder escolher os 10 governadores provinciais. É uma novidade que resulta das negociações de paz entre o Governo e o maior partido da oposição a RENAMO. Nas províncias, os candidatos também andam a tentar "caçar votos". Na foto, apoiantes da FRELIMO na província da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
"Escolher um filho para dirigir a província"
Manuel de Araújo candidata-se pela RENAMO a governador da província da Zambézia. No arranque da campanha congratulou-se com a possiblidade de os moçambicanos poderem votar nos seus governadores: "44 anos que este país está independente, mas nós nunca tivemos a possibilidade de escolher um filho nosso para dirigir a província". Pio Matos é o candidato da FRELIMO e Luís Boa Vida do MDM, na Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
CNE prepara escrutínio
As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro. Segundo a Comissão Nacional de Eleições de Moçambique (CNE), estão a ser recrutados os "formadores provinciais e os candidatos a membros das assembleias de voto, cuja formação deverá acontecer durante o mês de setembro". Serão distribuídas 21 mil mesas de voto por todo o território nacional e pela diáspora.