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Eleições em Moçambique: "Não compactuamos com inverdade"

Conceição Matende
10 de dezembro de 2024

Consórcio eleitoral Mais Integridade recusa partilhar as atas e editais solicitados pelo Conselho Constitucional porque são "falsos" e estaria a deturpar a verdade das eleições gerais em Moçambique.

Edson Cortez, Presidente do consórcio Mais Integridade-Moçambique
Foto: Nádia Issufo

O consórcio eleitoral Mais Integridade recusa partilhar com o Conselho Constitucional de Moçambique as atas e editais das eleições gerais que tem em sua posse. Porquê?

Em entrevista à DW, o presidente do consórcio eleitoral, Edson Cortez, diz que se nega a colaborar porque não quer compactuar com inverdades eleitorais.

Cortez reitera que as atas e editais das eleições foram falsificadas para dar vantagem ao partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Diz ainda estranhar a atual posição do Conselho Constitucional, uma vez que nas autárquicas passadas validou os resultados eleitorais, mesmo tendo o consórcio apresentado provas de irregularidades.

DW África: Porque é que o consórcio Mais Integridade não partilhou as atas e editais solicitados pelo Conselho Constitucional?

Edson Cortez (EC): Nós não rejeitámos. Dissemos simplesmente que, no processo de observação eleitoral, constatámos enormes disparidades entre o processo de contagem e os números que foram colocados nos editais, que mostram que houve fraude. Os números das contagens que presenciámos não têm nada a ver com os números que constam nos editais afixados. Face a isso, decidimos que não valia a pena partilhar esses editais com o Conselho Constitucional, porque estaríamos a deturpar a verdade eleitoral.

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Por outro lado, estranhamos a posição do Conselho Constitucional, porque, no ano passado, quando recolhemos os editais - e tínhamos mais de 90% dos editais de Maputo e Matola - apresentámos ao Conselho Constitucional tudo bem organizado e o Conselho Constitucional não quis analisar os dados que voluntariamente o consórcio Mais Integridade ofereceu, dando a vitória à FRELIMO no município de Maputo e Matola. Hoje em dia, Maputo e Matola são dirigidos por um partido que não ganhou as eleições, segundo a nossa contagem paralela.

Mas, passado um ano, é o mesmo Conselho Constitucional que, na aflição, nos vem pedir editais.

DW África: Recusando ceder os editais ao Conselho Constitucional, não comprometerá a verdade eleitoral?

EC: Se nós recolhemos editais e estamos a dizer que são falsos - e é por isso que não publicamos a contagem paralela - inverdade seria pegar nesses editais e entregar ao Conselho Constitucional. Com o nosso país numa situação nada boa, eu não posso pegar em editais que constatámos serem falsos e entregar a uma entidade que tem a função de homologar as eleições. Isso é ser irresponsável.

DW África: Apresentaram alguma prova?

EC: Logo depois das eleições, fomos o primeiro grupo de observadores a dizer que as eleições foram fraudulentas. Não faz sentido que hoje, 60 dias depois das eleições, o Conselho Constitucional nos dê um limite para entregar dados falsos, isso é querer o mal ao meu país.

Isso é para dar dados falsos e eles dizerem que usaram os dados que entregámos e foram falsificados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que tinha a função de zelar pela transparência do processo.

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DW África: O que espera que o Conselho Constitucional traga como resultados?

EC: Esperamos que o Conselho Constitucional decida no interesse nacional. Vamos ver. Eles é que têm a função de decidir, homologar ou mandar repetir as eleições, ou até mesmo mandar fazer uma auditoria forense.

Da mesma forma que, nas eleições passadas, eles decidiram quem tinha perdido as eleições, esperamos que, desta vez, não cometam essa irresponsabilidade, porque estariam a mandar um recado ao povo dizendo que não vale a pena perder tempo ao ir votar.

DW África: Em resumo, o consórcio Mais Integridade está a afirmar que não partilhou as atas e editais porque não quer compactuar com a inverdade eleitoral?

EC: Mais de 2.000 observadores do consórcio Mais Integridade viram que os editais foram falsificados no terreno, tal como outras irregularidades que nós vimos, como o enchimento de urnas.

CNE não tem capacidade de justificar por que há mais boletins de votos para as eleições legislativas do que para as presidenciais.