Saiba o que foi notícia na imprensa alemã nesta semana de eleições em Moçambique. Violência, atentado aos direitos fundamentais e dúvidas sobre a qualidade do registo eleitoral foram algumas das críticas.
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A instabilidade política e a violência, os efeitos dos desastres naturais, além dos conflitos em Cabo Delgado foram alguns dos temas mencionados por veículos de comunicação alemães como potenciais problemas para estas eleições em Moçambique. Na terça-feira (15.10), 13,1 milhões de eleitores foram chamados a votar nas sextas eleições gerais do país.
Além da instabilidade política e dos mencionados problemas, destacou-se também o perfil deste país africano, de população e democracia jovens, com potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural em poucos anos.
A DW África fez um resumo das principais notícias, com destaque para o dia das eleições, que concentrou o maior número de artigos publicados na internet pelos principais veículos de comunicação alemães.
Observadores eleitorais
Nesta quinta-feira (17.10), as agências de notícias Deutsche Presse Agentur (dpa) e Evangelischer Pressedienst (epd) destacaram as críticas dos observadores eleitorais da União Europeia em Moçambique. Citando o chefe da missão de observadores, Nacho Sánchez, a epd menciona "que a campanha eleitoral moçambicana foi caracterizada pela violência, pelo atentado aos direitos fundamentais e por dúvidas sobre a qualidade do registo eleitoral."
Apesar da campanha eleitoral ofuscada pela violência, as eleições foram bem organizadas do ponto de vista dos observadores da UE, destaca a agência de notícias dpa. Numa declaração distribuída esta quinta-feira, enfatizaram que os arranjos logísticos para a eleição eram apropriados.
Spiegel online: "Situação política é tensa"
No dia das eleições (15.10) o periódico Spiegel ressaltou que o "medo da violência é grande" em Moçambique. A instabilidade política no país africano, os desastres naturais (ciclones Idai e Kenneth) e o terror foram mencionados como aspetos a dificultar as eleições moçambicanas. Isso, naquelas que "são as primeiras eleições desde que o partido no poder FRELIMO e o atual partido da oposição RENAMO assinaram um acordo de paz, em agosto. Por isso, o pleito é considerado extremamente importante para a paz no país", escreveu o Spiegel online.
O Süddeutsche Zeitung também destacou a instabilidade política em Moçambique nestas eleições, com um título provocativo: "A única certeza é incerteza". O jornal online destacou como ponto alto da violência no país o assassinato do observador eleitoral Anastácio Matavel, que aconteceu apenas cerca de uma semana antes das eleições.
RENAMO no poder?
O periódico de esquerda liberal TAZ destacou o cenário político que pode suceder a estas eleições, em que não só o Presidente e o Parlamento são eleitos, mas também os governadores das dez províncias - até agora nomeados pelo Governo. Isso abriria mais possibilidades para membros do partido da oposição, RENAMO, ocuparem cargos, escreve o jornal.
Entretanto, o TAZ termina o artigo acrescentando que o maior desafio para a eleição moçambicana vem de uma direção diferente: os terroristas islamistas que desde 2017 estão ativos na província de Cabo Delgado, rica em recursos.
Os periódicos Zeit online e Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) veicularam, no dia das eleições, que pela primeira vez o Governo da FRELIMO "enfrenta concorrência de verdade". Citando Zenaida Machado, da organização Human Rights Watch (HRW), escrevem que "as chances são boas de que a RENAMO ganhe em várias províncias".
Deutschlandrundfunk: "Nem livres nem justas"
"Nem livres nem justas" foi o título usado pelo veículo alemão Deutschlandrundfunk ao publicar um texto sobre as eleições em Moçambique na sua página online. Segundo o veículo, Moçambique é um dos dez países mais pobres do mundo, mas pode tornar-se um dos maiores exportadores de gás natural em poucos anos. As eleições são por isso ferozmente disputadas, escrevem. "O resultado determinará quem beneficiará do boom esperado".
Já a emissora Zweite Deutsche Fernsehen (ZDF) destacou o papel dos jovens moçambicanos nestas eleições. Salientam que muitos jovens pedem mais acesso à educação e querem mais empregos. "O país, localizado no sudeste africano, não é apenas uma jovem democracia, mas também tem uma população muito jovem. Três quartos dos cerca de 27 milhões de moçambicanos têm menos de 25 anos".
Entretanto, eles seguem esperando "propostas concretas sobre como criar empregos a longo prazo, como melhorar a qualidade da educação e como viver uma vida normal com uma família e um lar". Entretanto, todos estes pontos permanecem vagos para muitos políticos, conclui a emissora alemã, num artigo no seu site.
Dia de eleições em Moçambique em imagens
De norte a sul de Moçambique, grande afluência de eleitores marcou primeiras horas de votação. 13,1 milhões de moçambicanos foram chamados a escolher Presidente da República, 250 deputados e 10 governadores provinciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Filipe Nyusi abre votação em Maputo
As primeiras assembleias de voto abriram às 07:00 para as sextas eleições gerais. Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique e candidato a um segundo mandato, abriu a votação em Maputo. Depois de votar na Secundária Josina Machel, em direto na televisão pública, pediu ao país para mostrar ao mundo que Moçambique "apoia a democracia". "Vamos acreditar e vamos confiar", sublinhou o candidato da FRELMO.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Ossufo Momade vota na Ilha de Moçambique
O candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, disse que "nunca" vai aceitar "resultados eleitorais manipulados", assinalando que a negação da vontade popular levou o país a hostilidades militares no passado. "Estamos determinados em fazer qualquer coisa que o povo nos indicar", declarou Momade. O candidato falava após votar na sua terra natal, na Ilha de Moçambique, província de Nampula.
Foto: Getty Images/A. Barbier
Daviz Simango apela ao voto de todos
Daviz Simango, candidato à presidência pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), votou no bairro de Macuti. "Aproveito esta oportunidade para lembrar a todos os moçambicanos que não votarem que vão ter a oportunidade de ser dirigidos por aqueles que não escolheram", advertiu. Pediu ainda às autoridades para "criarem condições para que estas eleições sejam transparentes livres e justas".
Foto: DW/A. Sebastião
Tentativas de fraude a favor da FRELIMO
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), registaram-se já vários "casos de tentativas de enchimento de urnas" nos dois maiores círculos eleitorais do país. Os casos, a favor da FRELIMO, ocorreram nas assembleias de voto instaladas nas escolas primárias completas Eduardo Mondlane de Angoche, em Nampula, e 16 de Junho, em Mopeia, na Zambézia, precisou a ONG.
Foto: DW/L. da Conceição
UE: Observação eleitoral "em boas condições"
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) considera que a abertura das mesas de voto decorreu de modo ordeiro. "Havia muitas filas, mas os procedimentos foram seguidos em grande parte", disse Sànchez Amor. O chefe da missão da UE informou ainda que "a observação está a realizar-se em boas condições" e, por enquanto, "o processo desenrola-se conforme o previsto".
Foto: DW/L. Matias
Quelimane: Zambezianos em peso nas urnas
Assembleias de voto em Quelimane, província central da Zambézia, registam grande afluência de eleitores desde as primeiras horas. A DW encontrou vários cidadãos que não conseguiram votar por problemas com o cartão de eleitor. Luís Boavida, cabeça de lista do MDM, e Manuel de Araújo, da RENAMO, apelaram aos zambezianos para irem às urnas. Pio Matos, da FRELIMO, garantiu que está "tudo tranquilo".
Foto: DW/N. Issufo
Gaza: Ambiente calmo e ordeiro
A tranquilidade marcou a abertura das mesas de voto em Mandlakazi, na província de Gaza, no sul. Gaza foi notícia nos últimos meses porque foi aqui que os órgãos eleitorais moçambicanos recensearam cerca de 230 mil eleitores a mais do que o número da população em idade eleitoral anunciada pelo INE. Irregularidades muito contestadas por oposição e sociedade civil.
Foto: DW/C. Matsinhe
Nampula: Eleitores impedidos de votar
Em Mulila, no populoso bairro de Namicopo, na cidade de Nampula, pelo menos oito eleitores foram impedidos de votar, alegadamente porque os seus nomes não constavam dos cadernos eleitorais. O bairro de Namicopo é na sua maioria habitado por apoiantes da RENAMO. Já a Sala da Paz condenou a "falta de vontade dos órgãos eleitorais" em credenciar observadores na província de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
Tete: Balanço positivo da Sala da Paz
A Sala da Paz faz um balanço positivo das primeiras horas de votação em Tete, apesar de se verificaram longas filas de eleitores e de alguns membros desta plataforma eleitoral não terem sido credenciados pelos órgãos de administração eleitoral para a observação do pleito. Nestas eleições, Tete elege 21 deputados para a Assembleia da República e 82 membros para a Assembleia Provincial.
Foto: DW/A. Zacarias
Inhambane: Prioridade para eleitores idosos
Idosos em Inhambane estão a ter prioridade nas mesas das assembleias de voto. Nesta província, as mesas abriram à hora prevista, com milhares de eleitores nas filas para exercerem o seu direito cívico. A afluência às urnas diminuiu ao final da manhã. Os concorrentes ao cargo de governador votaram cedo e aguardam os resultados nas suas residências, sob fortes medidas de segurança.
Foto: DW/L. da Conceição
Pemba: Longa espera para votar
Ao contrário de Inhambane, em Pemba, província de Cabo Delgado, alguns idosos queixam-se da longa espera para votar e lamentam que não lhes seja concedida prioridade, como preconiza a lei. "Há lutas na fila e como nós somos mais velhas não conseguimos ficar paradas, por isso ficamos sentadas", disse à DW África a idosa Albertina Navaia, que vota na Escola Primária de Cariacó.
Foto: DW/D. A. Uatanle
Manica: Votação sem sobressaltos
Em Manica, a votação tem sido sobressaltos nem registo de ilícitos eleitorais. Apesar de, no geral, os partidos darem nota positiva ao arranque do processo na província, o delegado do MDM, Humberto Escova, lamentou a circulação de automóveis blindados, na zona de Pinanganga, no distrito de Gondola, e acusou o contingente policial de semear o medo entre os eleitores.