A virtual vitória esmagadora da FRELIMO é fruto da falta de preparação e desorganização dos partidos da oposição, dizem analistas ouvidos pela DW África.
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Se se confirmar que a FRELIMO tem uma vitória esmagadora, como indicam os números divulgados até aqui, isso é o resultado da desorganização e despreparação da oposição, dizem analistas moçambicanos, em entrevista à DW África.
Os dois principais partidos da oposição - a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) terão começado a dar indicações de que sairíam derrotados com a movimentação de quadros entre as duas formações políticas. Segundo a analista moçambicana Fátima Mimbire, o MDM e a RENAMO ficaram a disputar o estatuto de maior partido da oposição "e não necessariamente a retirada do partido FRELIMO do poder para poder mostrar à sociedade o seu plano de governação".
Na RENAMO, a escolha de Ossufo Momade para a liderança do partido foi um problema mal gerido internamente e Fátima Mimbire não tem dúvidas sobre o seu impacto: "Acabou obviamente penalizando, porque todas as crispações internas acabaram saindo e ficaram sob o domínio da sociedade, para além de que Ossufo Momade não jogou uma cartada certeira naquilo que foi o processo de preparação para estas eleições".
Lição das autárquicas foi desperdiçada
Nestas eleições, alguns observadores e delegados de lista dos partidos da oposição foram impedidos de assistir à contagem dos votos, alegadamente porque as suas credenciais e crachás eram falsos.
A analista lembra que esta situação aconteceu nas autárquicas, o que podia ter servido de lição para a oposição ficar atenta.
"Como é possível?", questiona. "Os partidos da oposição, sabendo que aquelas credenciais eram falsas e os órgãos da administração eleitoral aceitaram para eles trabalharem, não pensaram sobre o que isso implicaria. Dias depois, na hora da contagem, eles foram expulsos, alegando-se que estavam a usar credenciais e crachás falsos".
Estratégias tardias e sem sucesso
Eleições em Moçambique: Oposição não estava preparada
O historiador Egídio Vaz considera que o líder da RENAMO, Ossufo Momade, começou muito tarde a fazer a pré-campanha. E figuras de peso do partido, como Elias Dlhakama, Ivone Soares e Manuel Bissopo não ajudaram a projetar a imagem de Momade.
"Será que viu algum dia o antigo secretário geral da RENAMO, Manuel Bissopo a fazer campanha? Não", sublinha, recordando também "a contestação de [Mariano] Nhongo, que fez campanha anti-RENAMO e ao nível da Assemleia da República a Ivone Soares disse que estava sensibilizada com a atitude de Nhongo".
Já o MDM fez campanha sob o signo das dívidas ocultas, apelando aos eleitores para punirem os seus autores com o voto, mas a estratégia não funcionou, lembra Egídio Vaz: "Portanto, não é por haver dívidas ocultas ou baixo crescimento económico ou mesmo muita corrupção que a FRELIMO deixaria de merecer a confiança", afirma.
Egídio Vaz realça a boa organização da FRELIMO, que esteve em todas as mesas de voto para controlar o processo, o que não aconteceu com a oposição. "A FRELIMO teve uma logistica de mais ou menos 45 mil pessoas", frisa.
Na contagem de votos, a FRELIMO e o seu candidato Filipe Nyusi continuam na liderança, seguindo-se Ossufo Momade, da RENAMO, e o MDM e Daviz Simango em terceiro lugar.
Artigo atualizado às 15h32 (CET) de 22 de outubro de 2019, alterando a ocupação da analista Fátima Mimbire.
Dia de eleições em Moçambique em imagens
De norte a sul de Moçambique, grande afluência de eleitores marcou primeiras horas de votação. 13,1 milhões de moçambicanos foram chamados a escolher Presidente da República, 250 deputados e 10 governadores provinciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Filipe Nyusi abre votação em Maputo
As primeiras assembleias de voto abriram às 07:00 para as sextas eleições gerais. Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique e candidato a um segundo mandato, abriu a votação em Maputo. Depois de votar na Secundária Josina Machel, em direto na televisão pública, pediu ao país para mostrar ao mundo que Moçambique "apoia a democracia". "Vamos acreditar e vamos confiar", sublinhou o candidato da FRELMO.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Ossufo Momade vota na Ilha de Moçambique
O candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, disse que "nunca" vai aceitar "resultados eleitorais manipulados", assinalando que a negação da vontade popular levou o país a hostilidades militares no passado. "Estamos determinados em fazer qualquer coisa que o povo nos indicar", declarou Momade. O candidato falava após votar na sua terra natal, na Ilha de Moçambique, província de Nampula.
Foto: Getty Images/A. Barbier
Daviz Simango apela ao voto de todos
Daviz Simango, candidato à presidência pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), votou no bairro de Macuti. "Aproveito esta oportunidade para lembrar a todos os moçambicanos que não votarem que vão ter a oportunidade de ser dirigidos por aqueles que não escolheram", advertiu. Pediu ainda às autoridades para "criarem condições para que estas eleições sejam transparentes livres e justas".
Foto: DW/A. Sebastião
Tentativas de fraude a favor da FRELIMO
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), registaram-se já vários "casos de tentativas de enchimento de urnas" nos dois maiores círculos eleitorais do país. Os casos, a favor da FRELIMO, ocorreram nas assembleias de voto instaladas nas escolas primárias completas Eduardo Mondlane de Angoche, em Nampula, e 16 de Junho, em Mopeia, na Zambézia, precisou a ONG.
Foto: DW/L. da Conceição
UE: Observação eleitoral "em boas condições"
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) considera que a abertura das mesas de voto decorreu de modo ordeiro. "Havia muitas filas, mas os procedimentos foram seguidos em grande parte", disse Sànchez Amor. O chefe da missão da UE informou ainda que "a observação está a realizar-se em boas condições" e, por enquanto, "o processo desenrola-se conforme o previsto".
Foto: DW/L. Matias
Quelimane: Zambezianos em peso nas urnas
Assembleias de voto em Quelimane, província central da Zambézia, registam grande afluência de eleitores desde as primeiras horas. A DW encontrou vários cidadãos que não conseguiram votar por problemas com o cartão de eleitor. Luís Boavida, cabeça de lista do MDM, e Manuel de Araújo, da RENAMO, apelaram aos zambezianos para irem às urnas. Pio Matos, da FRELIMO, garantiu que está "tudo tranquilo".
Foto: DW/N. Issufo
Gaza: Ambiente calmo e ordeiro
A tranquilidade marcou a abertura das mesas de voto em Mandlakazi, na província de Gaza, no sul. Gaza foi notícia nos últimos meses porque foi aqui que os órgãos eleitorais moçambicanos recensearam cerca de 230 mil eleitores a mais do que o número da população em idade eleitoral anunciada pelo INE. Irregularidades muito contestadas por oposição e sociedade civil.
Foto: DW/C. Matsinhe
Nampula: Eleitores impedidos de votar
Em Mulila, no populoso bairro de Namicopo, na cidade de Nampula, pelo menos oito eleitores foram impedidos de votar, alegadamente porque os seus nomes não constavam dos cadernos eleitorais. O bairro de Namicopo é na sua maioria habitado por apoiantes da RENAMO. Já a Sala da Paz condenou a "falta de vontade dos órgãos eleitorais" em credenciar observadores na província de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
Tete: Balanço positivo da Sala da Paz
A Sala da Paz faz um balanço positivo das primeiras horas de votação em Tete, apesar de se verificaram longas filas de eleitores e de alguns membros desta plataforma eleitoral não terem sido credenciados pelos órgãos de administração eleitoral para a observação do pleito. Nestas eleições, Tete elege 21 deputados para a Assembleia da República e 82 membros para a Assembleia Provincial.
Foto: DW/A. Zacarias
Inhambane: Prioridade para eleitores idosos
Idosos em Inhambane estão a ter prioridade nas mesas das assembleias de voto. Nesta província, as mesas abriram à hora prevista, com milhares de eleitores nas filas para exercerem o seu direito cívico. A afluência às urnas diminuiu ao final da manhã. Os concorrentes ao cargo de governador votaram cedo e aguardam os resultados nas suas residências, sob fortes medidas de segurança.
Foto: DW/L. da Conceição
Pemba: Longa espera para votar
Ao contrário de Inhambane, em Pemba, província de Cabo Delgado, alguns idosos queixam-se da longa espera para votar e lamentam que não lhes seja concedida prioridade, como preconiza a lei. "Há lutas na fila e como nós somos mais velhas não conseguimos ficar paradas, por isso ficamos sentadas", disse à DW África a idosa Albertina Navaia, que vota na Escola Primária de Cariacó.
Foto: DW/D. A. Uatanle
Manica: Votação sem sobressaltos
Em Manica, a votação tem sido sobressaltos nem registo de ilícitos eleitorais. Apesar de, no geral, os partidos darem nota positiva ao arranque do processo na província, o delegado do MDM, Humberto Escova, lamentou a circulação de automóveis blindados, na zona de Pinanganga, no distrito de Gondola, e acusou o contingente policial de semear o medo entre os eleitores.