Partidos apostam fortemente na fiscalização eleitoral
Carlos Matsinhe (Xai-Xai)
13 de setembro de 2019
RENAMO fala em mais de mil delegados em formação para supervisionar a votação e o apuramento parcial dos resultados. MDM aposta em trabalho psicológico dos "mmvs" para evitar intimidações e aliciamentos.
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Em processos eleitorais anteriores, incluindo as eleições autárquicas do ano passado, a RENAMO não conseguiu recrutar delegados de listas, nem cidadãos para integrar as mesas de votação.
Mouzinho Gondorujo, cabeça de lista da RENAMO para eleição da Assembleia provincial, afirma que as pessoas eram intimidadas, aliciadas para desistirem da supervisão e, por vezes, detidas sem justa causa.
Mas agora, ele nota, no seio dos cidadãos, o elevar da consciência política e o cansaço pela governação que não responde aos anseios da população, em particular dos jovens."Todos os distritos extrapolaram o recrutamento dos "mmvs" (membros das mesas de votação), caso que não aconteceu no escrutínio passado. [Isto] já é um passo para evitar que aqueles eleitores que são fantasma possam ter direito a voto quando não tivermos a nossa representação na mesa. O que vai acontecer, obviamente, é [o] enchimento das urnas com todo este aparato de organização. Pensamos que vamos evitar o pior ".
Fiscalização pela sociedade civil
Gondorujo acrescenta ainda que a sociedade civil deve fazer parte da fiscalização eleitoral, não deixando apenas sob responsabilidade da RENAMO.
O Delegado do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Arquerdino Mavie, diz que o seu partido já submeteu a lista de representação nas mesas de voto e que estão a fazer um trabalho psicológico com os membros, apesar de reconhecer as dificuldades decorrentes da intimidação e aliciamento.
"Desta vez por mais que tragam sacos de dinheiro para aliciar os nossos delegados de candidatura, não vai ser possível. Estamos a prepara-los psicologicamente para que eles vão às mesas de votação a saber o que é que estão lá a defender, que não pode apenas estar a pensar no próprio umbigo, mas sim na vida difícil que os moçambicanos estão a enfrentar. "
Dados estatísticos
Eleições em Moçambique: Partidos apostam fortemente na fiscalização eleitoral
Entretanto, dados estatísticos publicados pelo Centro de Integridade pública (CIP) - em análise feita pelo estatístico Wim Neeleman - indicam que, o número de assembleias de voto em Gaza duplicou. Para as eleições de 15 de outubro, o número de assembleias de voto em Gaza aumentou 81% desde 2014. Muito mais do que o aumento da população nos últimos cinco anos.
Seis províncias aumentaram de 15 a 20%, de acordo com o aumento da população observado no censo de 2017. A província de Maputo mostra um aumento de 34%, de acordo com o censo, refletindo a grande migração para a Matola. A cidade de Maputo mostra uma queda de 1%, novamente de acordo com o censo.
E somente Gaza mostra um aumento enorme e impossível no número de assembleias de voto, não-alinhado com o censo da população. Também foi observado que mais de 10.000 eleitores foram removidos do registo na Zambézia e outros 2.000 foram adicionados ao já inflado rol de Gaza.
Eleições em Moçambique: A campanha em fotografias
Começou a campanha eleitoral em Moçambique. Candidatos prometem lutar contra a corrupção, criar empregos e melhorar o dia a dia dos moçambicanos. Eleições estão agendadas para 15 de outubro.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Promessas novas e antigas
Começou a "caça ao voto" em Moçambique. As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro e os candidatos à Presidência acenam aos eleitores com várias promessas: lutar contra a corrupção, melhorar as condições de vida do povo e a qualidade de ensino e criar mais empregos. Promessas novas, mas que também já se ouviram noutras eleições.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Nyusi contra "demagogias"
Filipe Nyusi recandidata-se ao cargo de Presidente. No arranque da campanha eleitoral, o candidato da FRELIMO criticou "demagogias" e assegurou que conhece as preocupações da população. Por isso, promete criar mais empregos e melhorar as escolas, as estradas e o setor da saúde.
Foto: DW/M. Sampaio
Ossufo Momade: Uma estreia
É uma estreia nestas eleições: o novo líder do maior partido da oposição em Moçambique, Ossufo Momade, candidata-se, pela primeira vez, à Presidência da República, depois da morte do líder histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama, em maio de 2018. Momade promete combater a corrupção no país: "Estão a prender os peixinhos enquanto os tubarões estão lá. Nós queremos que os tubarões entrem também."
Foto: DW/M. Sampaio
Simango critica dívidas ocultas
Daviz Simango, o candidato presidencial do MDM, também não está contente com a governação no país. Segundo Simango, basta olhar para o escândalo das dívidas ocultas, garantidas pelo anterior Governo sem conhecimento do Parlamento: "Vejam as dívidas ocultas, que prejudicam sobremaneira o nosso povo, encarecendo a vida da maioria". É preciso mudar de rumo, diz.
Foto: DW/M. Sampaio
Falta de fundos para AMUSI
É o quarto candidato presidencial: Mário Albino, do partido extraparlamentar Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI). Albino começou a campanha a "lamentar o comportamento da CNE que está amarrada às orientações do partido FRELIMO. Até hoje não libertaram fundos para a campanha eleitoral para o AMUSI", denunciou Albino, citado pelo jornal moçambicano O País.
Foto: DW/S.Lutxeque
Problemas por resolver
Antes do início da campanha, já havia várias controvérsias em relação a estas eleições: denúncias sobre "eleitores-fantasma" na província de Gaza ou ameaças de um boicote ao processo pela autoproclamada Junta Militar da RENAMO (foto), que contesta Ossufo Momade na presidência do partido. Na véspera do arranque da campanha, a Junta Militar ameaçou: "Somos moçambicanos e continuamos com as armas."
Foto: DW/A. Sebastiao
Novidade: Eleição de governadores
Pela primeira vez na história de Moçambique, os eleitores vão poder escolher os 10 governadores provinciais. É uma novidade que resulta das negociações de paz entre o Governo e o maior partido da oposição a RENAMO. Nas províncias, os candidatos também andam a tentar "caçar votos". Na foto, apoiantes da FRELIMO na província da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
"Escolher um filho para dirigir a província"
Manuel de Araújo candidata-se pela RENAMO a governador da província da Zambézia. No arranque da campanha congratulou-se com a possiblidade de os moçambicanos poderem votar nos seus governadores: "44 anos que este país está independente, mas nós nunca tivemos a possibilidade de escolher um filho nosso para dirigir a província". Pio Matos é o candidato da FRELIMO e Luís Boa Vida do MDM, na Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
CNE prepara escrutínio
As eleições gerais estão marcadas para 15 de outubro. Segundo a Comissão Nacional de Eleições de Moçambique (CNE), estão a ser recrutados os "formadores provinciais e os candidatos a membros das assembleias de voto, cuja formação deverá acontecer durante o mês de setembro". Serão distribuídas 21 mil mesas de voto por todo o território nacional e pela diáspora.