Em Nampula, a Rádio Encontro diz estar a ser alvo de ameaças por parte de altas personalidades do partido no poder, a FRELIMO.
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Segundo a estação da Igreja Católica no norte de Moçambique, as intimidações aconteceram depois da denúncia de irregularidades no processo eleitoral com vista às eleições intercalares no município de Nampula, que se realizam a 24 de janeiro.
Benvindo Tápua, diretor da Rádio Encontro, diz ter recebido inclusive ameaças de morte.
DW África: Quais são as denúncias feitas pela Rádio Encontro que estão a levar a intimidações?
Benvindo Tápua (BT): A primeira denúncia é o registo de cerca de 50 cidadãos em distritos fora do município de Nampula. Foram feitos os registos das pessoas e em seguida enviados para Nampula, para apoiar a campanha e votar. Temos provas dos próprios distritos. Acabei de chegar do distrito de Malema - há lá uma família cujo filho me contou que a mãe foi votar em Nampula para depois ter a garantia de progredir. E perguntei-lhe como é possível votar ali se ela não pertence ao município de Nampula? Ele respondeu-me que sempre foi assim. É essa a denúncia.
DW África: Refere-se à inscrição nos cadernos eleitorais?
BT: Essas inscrições não estão muito claras. Aqui no município de Nampula, alguns secretários estão envolvidos na inscrição de alguns cadernos de voto, de recenseamento. Todavia ainda não conseguimos entrar lá e pegar os documentos - não tivemos acesso às pessoas que realizaram este trabalho, também por existir um certo medo. Mas temos provas nos distritos, porque falámos com algumas pessoas visadas, que nos confirmaram estarem na posse de cartões para poderem votar em Nampula. "Vou apoiar o meu partido e de certeza vou votar", dizem.
Eleições em Nampula: Rádio Encontro alvo de intimidação
DW África: E a Rádio Encontro já denunciou as intimidações a instituições como a FORCOM (Fórum Nacional das Rádios Comunitárias) ou à polícia?
BT: Enviámos alguns documentos à polícia, mas em resposta foi-nos solicitado para irmos lá e explicarmos o que realmente está a acontecer. Então, fui lá, mas não estava a pessoa que me devia atender e depois tive que ir para o distrito e só regressei hoje. A FORCOM já foi informada sobre as intimidações.
Pensa-se que [quem está por trás das intimidações] se trata de uma autoridade do país, uma figura de relevo aqui no país, que já ligou para outra rádio religiosa a dizer que a Rádio Encontro está a dificultar o seu trabalho. Mas nós não falamos mal de ninguém; neste caso, só falámos de atitudes anti-democráticas. Com relação a essas 50 pessoas, pelas informações já veiculadas pela televisão, em que o candidato da RENAMO [Resistência Nacional Moçambicana] denuncia a existência de cadernos de registo eleitoral "a mais", concluímos que essas pessoas "a mais", que não estão registadas, devem ser o resultado desses registos feitos nos distritos.
DW África: Quem são as altas individualidades que estão a ameaçar a Rádio Encontro?
BT: (Risos) Isso não podemos dizer...
DW África: Mas Moçambique é ainda um país livre e há liberdade de expressão...
BT: É verdade que é um país livre, mas como somos teimosos recebemos ameaças... até de morte já me fizeram - por causa da educação cívica, um assunto que já tratámos várias vezes...
DW África: Estas altas individualidades que estão a intimidar a Rádio Encontro pertencem ao partido no poder?
BT: Sim, pertencem.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.