Eleições: Há três favoritos à Presidência do Madagáscar
AFP | cvt
4 de novembro de 2018
Dezenas de milhares de pessoas manifestaram apoio a dois dos 36 candidatos às presidenciais, este sábado (03.11) na capital Antananarivo. Votação será na quarta-feira (07.11). Atual Presidente também está na corrida.
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O ex-Presidente malgaxe, Marc Ravalomanana, e o seu rival, Andry Rajoelina, estão entre os três grandes favoritos nas eleições da próxima quarta-feira no Madagáscar - onde houve protestos no início deste ano devido a uma tentativa do Governo de mudar as leis eleitorais. Outro favorito é o atual Presidente, Hery Rajaonarimampianina, que concorre a um novo mandato.
Disputa acirrada entre dois rivais
Ravalomanana concorre contra o homem que o expulsou do poder em 2009, durante uma revolta apoiada pelos militares que deixou o Estado insular do Oceano Índico internacionalmente isolado e com um legado de divisão política.
Os partidários de Ravalomanana encheram as ruas de Mahamasina, no subúrbio da capital.
Já os apoiadores de Rajoelina, que presidiu o país de 2009 a 2014, lotaram um estádio a poucos quilómetros de distância.
"Já que vocês não conseguiram nada durante seus mandatos, agora cabe-me a mim fazer mais", disse Rajoelina aos seus partidários, referindo-se a Ravalomanana e ao atual Presidente, Rajaonarimampianina. Ao todo, 36 candidatos participam na corrida eleitoral.
Nas ruas da capital, grupos de simpatizantes rivais - os de Rajoelina, de cor laranja, e os de Ravalomanana, de branco - passaram uns pelos outros, sem incidentes violentos.
"Você vai vender o país se chegar ao poder", gritou um dos apoiantes de Rajoelina.
"Ninguém nos pode comprar, ao contrário de você", gritaram em resposta os partidários de Ravalomanana.
Rajoelina, ex-DJ e empresário de sucesso, destacou a sua juventude e as suas habilidades de comunicação para como factores que o ajudarão a obter apoio.
Ravalomanana, um magnata do leite que viveu no exílio na África do Sul após ser retirado do poder por um golpe de Estado, começou a sua carreira política como edil da capital. A sua passagem pela Presidência foi criticada por ter contribuído para um Governo cada vez mais autocrático e corrupto.
Reta final da campanha
Rajoelina e Ravalomanana encontraram-se frente-a-frente na noite de sábado (03.11) para um debate televisivo transmitido ao vivo pela emissora pública TVM, que contou com a participação de outros quatro presidenciáveis.
Ravalomanana repetiu a sua acusação de que Rajoelina chegou ao poder por meio de "um golpe".
"Não houve golpe de Estado, você se demitiu", respondeu Rajoelina.
"E porque então a comunidade internacional chamou isso de golpe de Estado?", replicou Ravalomanana.
Embora haja 36 aspirantes ao cargo mais alto do país, analistas dizem que a corrida será definida entre os três principais candidatos: Ravalomanana, Rajoelina e o Presidente cessante Rajaonarimampianina.
Rajaonarimampianina enfrentou um movimento de protestos em massa no início deste ano, que custou a vida de duas pessoas.
Estas manifestações foram provocadas por propostas de reformas eleitorais que, segundo a oposição, foram planeadas para a excluir da votação.
Após meses de tensão, o Tribunal Constitucional ordenou que um Governo interino organizasse o pleito.
Se nenhum dos candidatos obtiver mais de 50% dos votos, uma segunda volta será realizada a 19 de dezembro.
O Madagáscar, uma ex-colónia francesa com uma população de 25 milhões de habitantes, sofre há décadas com crises políticas e pobreza extrema.
Artigo atualizado às 10:48 (CET) de segunda-feira, 05 de Novembro de 2018.
Madagáscar - Pobre ilha rica
A ilha de Madagáscar é famosa pela biodiversidade, fertilidade e riqueza em matérias primas. Mas a perene crise política paralisa a economia e agrava a pobreza da população.
Foto: DW/F.Müller
Recuo económico no país em crise
O país no Oceano Índico é rico em matérias primas, incluindo enormes reservas de titânio, níquel e petróleo no chão e ao largo da costa. Não obstante, uma grande parte da população vive na pobreza. Há quatro anos que uma crise política assola o país, que paralisa também a economia nacional. Os malgaxes vivem na incerteza, no medo e com grandes problemas financeiros.
Foto: DW/F.Müller
Isolado e empobrecido
Sob a politica económica liberal do Presidente Marc Ravalomanana, e graças a investimentos e assistência ao desenvolvimento, a economia malgaxe recuperou um pouco entre 2002 e 2008. Andry Rajoelina, encontra-se no poder desde o seu golpe de Estado em 2009, à frente de um controverso Governo de transição. Os países doadores congelaram a assistência e os preços dos alimentos básicos subiram.
Foto: DW/F.Müller
O dinheiro não chega para uma refeição quente
Nas ruas da capital, Antananarivo, um prato com arroz com um pouco de carne e legumes custa cerca de 500 ariary, o que equivale a 17 cents do euro. O que é muito dinheiro no Madagáscar. Segundo o Banco Mundial, 92% da população vive do equivalente a menos de 1,50 euros por dia. Muitas famílias passam fome.
Foto: DW/F.Müller
Colheitas pobres
Não obstante do cultivo extensivo de arroz, o principal alimento malgaxe também tem que ser importado. Mesmo havendo solos férteis e água abundante. Mas a agricultura não desenvolveu o seu potencial. Apesar de quase 90% da população trabalhar na agricultura, o sector só gera um quarto do Produto Interno Bruto, diz o Banco Mundial.
Foto: DW/F.Müller
Natureza perigosa
Partes da ilha são regularmente assoladas por ciclones, cheias e secas extremas, ameaçando as colheitas. Ainda não existe um sistema eficiente de alerta e protecção. Acresce a invasão de uma praga de gafanhotos desde a primavera de 2012. A produção de arroz arrisca-se a perdas enormes de até 630 000 toneladas por ano, estima a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO.
Foto: DW/F.Müller
Ajuda inicial para agricultores
Desde que começou a crise política e económica em 2009, muitas pessoas procuram o seu ganha pão na agricultura. É frequente não terem a formação necessária, só conhecerem técnicas antiquadas e não terem dinheiro para comprar maquinaria, diz a organização não-governamental CITE. Esta ONG ajuda os jovens agricultores a levarem os seus produtos para o mercado.
Foto: DW/F.Müller
À espera de clientes
A agricultura representa a única esperança também para Jean-Noël und Erick Régis. Por enquanto ainda se esforçam por alimentar a família trabalhando como condutores de riquixás na cidade de Antsirabe, no centro do país. Mas nem todos os dias conseguem pagar a renda equivalente a dois euros para o “pousse-pousse”. Antes da crise tinham 20 clientes nos dias bons, hoje são apenas quatro ou cinco.
Foto: DW/F.Müller
Receio pelos zebus
Para muitas famílias, os zebus são animais de trabalho, alimento e investimento e cruciais à sobrevivência. Mas com a crise aumentou a criminalidade. Quase diariamente os jornais relatam assaltos de ladrões de gado a aldeias, das quais roubam centenas de cabeças. A esta prática deu-se o nome de “dahalo”. Os conflitos com os habitantes e as forças de ordem muitas vezes resultam e mortos e feridos.
Foto: DW/F.Müller
Viver na insegurança
Eliane (atrás, à direita) perdeu o seu irmão num desses assaltos. Os “dahalo” mataram-no, diz. Juntamente com os seus familiares, Eliane colhe algodão num campo no sul seco do Madagáscar. A família vive, sobretudo, do cultivo de mandioca e milho. Mas no ano passado um ciclone destruiu grande parte da colheita. Eliane tem à sua disposição por ano mais ou menos o equivalente a 100 euros.
Foto: DW/F.Müller
Eleições para sair da crise?
Antananarivo, a capital, é o centro político do Madagáscar. Os observadores são unânimes: para que o país se liberte da crise e da pobreza é necessário pôr termo à situação de transição política. Mas as eleições já foram adiadas por várias vezes. De qualquer modo, muitos malgaxes dizem que não importa quem governa o país. Importa ter o que comer no dia seguinte.