Eleitores moçambicanos com deficiência física, auditiva e visual sentem-se discriminados. E, em ano de eleições em Moçambique, cegos pedem mecanismos para assegurar que o seu voto não é adulterado.
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Os eleitores com deficiência física, auditiva e visual já pensam nas eleições gerais de 15 de outubro, altura em que os moçambicanos serão chamados às urnas para eleger um novo Presidente da República e um novo Parlamento.
Izequiel Azaraujo, secretário da Associação dos Cegos na província da Zambézia, centro de Moçambique, lembra que é fácil desviar ou roubar o voto de um invisual, porque o eleitor não vê em quem votou, mesmo que tenha ao seu lado um acompanhante de confiança.
"Mesmo com a minha esposa, não confio nela. Ela pode ter outro pensamento e votar na pessoa que eu não preciso", afirma Azaraujo.
"Naqueles boletins, deveria haver letras em Braille, que ajudem o cego a escolher a pessoa da sua preferência. Não existindo, ainda temos grandes dificuldades", acrescenta.
Exclusão
Além da questão do voto, o responsável da Associação dos Cegos na Zambézia queixa-se de exclusão durante as campanhas eleitorais na província.
"Não nos contemplam como agentes cívicos", diz. "Como portadores de deficiência visual, deveríamos entrar como agentes cívicos para darmos informação aos nossos membros e também à população. Já falamos disso há muito tempo."
Jorge Emílio, outro portador de deficiência física, também se sente excluído nos processos eleitorais em Moçambique. "Estamos a ser marginalizados e excluídos", afirma.
Emílio diz, por exemplo, que a mensagem das campanhas não chega às pessoas com deficiência auditiva: "Se perguntarmos aos portadores de deficiência auditiva, não sabem dizer qual é o manifesto eleitoral dos partidos", seja do Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder) ou da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) ou Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
Eleições: Moçambicanos com deficiência sentem-se excluídos
Comissão eleitoral não comenta
O presidente da Comissão Provincial de Eleições da Zambézia, Emílio Mpanga, não comenta a possibilidade de introduzir o sistema Braille para facilitar a votação aos cegos, mas diz que a lei eleitoral prevê essas situações.
"A nossa lei eleitoral preconiza todos os elementos para o atendimento a pessoas com deficiência nessas situações", assegura. "Os MMVs [membros da mesa de voto] estão instruídos para atender condignamente todos os eleitores. Existem possibilidades para os auxiliares poderem apoiar o deficiente de modo a depositar o voto na urna."
Mas Abdul Chavier, que também é portador de deficiência física, pede mais inclusão. "Estamos dispostos a contribuir para o desenvolvimento deste país. Apelamos ao Governo e a quem de direito que, nestas atividades envolvam todas as camadas sociais. Nós, as pessoas especiais, apenas precisamos de um empoderamento", diz Chavier.
Moçambique: O empreendedorismo e os sonhos das pessoas com deficiência
Eles são sonhadores, mas, acima de tudo, trabalhadores e empreendedores. Pessoas com deficiência na província de Manica, em Moçambique, dão exemplos de superação.
Foto: DW/B. Jequete
Trabalhar para o futuro
O Governo, através do Instituto Nacional de Ação Social e do Rotary Club, ergueu esta organização em 2010 visando acomodar as pessoas com deficiência física. Chama-se Associação MABASSA, que quer dizer "trabalho". O espaço foi equipado pela embaixada alemã com materiais e máquinas para que os portadores de deficiências pudessem confeccionar chinelos e sandálias, entre outros produtos.
Foto: DW/B. Jequete
Aprender a superar-se
Tozinho Luís Vasco é deficiente e membro fundador da Associação MABASSA. Foi dele a ideia de confeccionar sapatos. Ele vê nesta atividade uma superação de vida. "Antes eu estendia as mãos pedindo esmola na estrada, porque não tinha o que comer. Mas agora já consigo alimentar a minha família e consequentemente estou a construir minha casa", conta Tonzinho, que hoje é grato aos que lhe ajudaram.
Foto: DW/B. Jequete
Acreditar e trabalhar
Zacarias Quembo é o responsável da Associação MABASSA. É um verdadeiro empreendedor. Das 8h às 17h, vende batatas. Depois deste trabalho, e aos fim de semana, dedica-se às atividades da MABASSA, confeccionando chinelos e sandálias. "Eu era um mendigo e não acreditava em mim mesmo", conta Quembo, que quer resgatar mais pessoas através da sua associação.
Foto: DW/B. Jequete
O pão de cada dia
São uma parte dos chinelos e sandálias confeccionados pela Associação MABASSA, na cidade de Chimoio. São vendidos nas províncias de Manica, Tete e Sofala. Um par desses calçados varia entre 250 meticais (3,5 euros) e 450 meticais (6,5 euros), e tem saída. Além de vender os produtos nas províncias, participam também em feiras empresariais, como a FACIM, em Maputo.
Foto: DW/B. Jequete
Oportunidades contra a pobreza
A Associação de Cegos e Amblíopes de Moçambique (ACAMO) é outra agremiação em Manica que desenvolve várias atividades com os portadores de deficiência. Desde a criação de salas de informática até a capacitação dos seus membros em pequenos negócios, eles visam dar oportunidades àquelas pessoas. Também se sustentam por meio do arrendamento de salas na sede da associação.
Foto: DW/B. Jequete
Iniciativa rentável
Esta é a sala de informática da ACAMO em Manica. Há computadores com acesso à internet e impressoras. Tudo ao serviço dos cidadãos. Segundo o presidente da associação, a iniciativa é rentável, embora o movimento tenha diminuído. "Para sairmos dessa, estou a negociar com uma instituição de ensino para facilitar os estudantes e consequentemente aproveitarmos os clientes", disse Domingos Neves.
Foto: DW/B. Jequete
Vencer nas competições da vida
Titos Zinguize Chapo e Cláudio Paulo Santos (ao fundo), de 31 e 53 anos de idade respetivamente, são atletas que participam em campeonatos de corrida de triciclos em Moçambique. Ambos dizem viver desta atividade desportiva, através da qual têm conseguido sustentar as suas famílias e, inclusive, construíram as suas casas.
Foto: DW/B. Jequete
"Seremos estrelas"
Este é um jogo de jovens futebolistas com deficiência auditiva. Eles também abraçaram o desporto e estão a se dar bem na carreira. Quem os vê jogar percebe o quão bem se comunicam através da mímica. Há bons talentos no seio do grupo, alguns premiados, que almejam chegar mais longe. Entretanto, lamentam a falta de material desportivo na Associação Desportiva para Pessoa com Deficiência.
Foto: DW/B. Jequete
Correr atrás dos sonhos
Chama-se Pita Rondão, é deficiente visual, atleta paralímpico e estudante do segundo ano de licenciatura em Português, em Manica. O atletismo faz parte da sua vida desde a sua mocidade. Ele já participou em vários campeonatos nacionais e internacionais. "O meu sonho é de um dia ser professor, mas isso não me inibe a deixar de correr", conta o jovem que tira o sustento do atletismo.