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Eleições na Bielorrússia: Lukashenko posto à prova

Roman Goncharenko | com agências | rl
8 de agosto de 2020

Nas eleições deste domingo (09.08) na Bielorrússia, e depois de 26 anos, Alexander Lukashenko, conhecido como "o último ditador da Europa" parece ter uma adversária à altura - o seu nome é Svetlana Tikhanovskaya.

Weißrussland Minsk | Präsident Alexander Lukaschenko hält eine Rede
Foto: picture-alliance/dpa/BelTA/N. Petrov

Há muito tempo que uma eleição presidencial na Bielorrússia não prometia ser tão emocionante como a votação marcada para este domingo (09.08).

Inicialmente, esta parecia ser apenas mais uma votação em que a vitória de Alexander Lukashenko, que governa a antiga república soviética desde 1994, seria fácil. Mas a campanha eleitoral acabou por trazer surpresas.

Para o chefe de Estado bielorrusso, de 65 anos, estas eleições presidenciais representam o mais sério desafio à sua liderança autocrática e parecem indicar um óbvio sinal de desgaste de um regime surgido após a desintegração da URSS em 1991 e a proclamação da independência. 

Não foram precisas muitas semanas para Svetlana Tikhanovskaya, uma professora de inglês de 37 anos se tornar uma figura simbólica para os opositores de Lukashenko. Svetlana Tikhanovskaya é esposa do ativista Sergei Tikhanovsky, que não foi autorizado a candidatar-se às presidenciais e que foi detido em maio deste ano.

Esta sexta-feira (07.08), a dois dias das eleições, Svetlana Tikhanovskaia, saudou o "despertar" da Bielorússia e apelou aos seus apoiantes a não recearem votar no domingo para se oporem a um regime que se prolonga há 26 anos. 

"As pessoas acordaram, redescobriram a autoestima (...) 'por que motivo a minha voz é deitada para o lixo? Porque não me escutam? Porque não posso dizer nada pelo facto de ser detida logo de seguida?'", declarou em entrevista à agência noticiosa AFP em Minsk.

Svetlana TikhanovskayaFoto: Getty Images/AFP/S. Gapon

No entanto, Svetlana Tikhanovskaia admitiu estar "sem esperanças" numa eleição presidencial justa no próximo domingo ao considerar que já estão a decorrer "fraudes escandalosas", para além do facto das equipas de observadores independentes não terem sido convidadas a acompanhar as eleições. 

Ainda assim, em caso de vitória, Tijanovskaya prometeu a libertação "dos presos políticos", uma reforma constitucional e novas eleições.

Uma oposição emergente

Ao contrário da vizinha Ucrânia, as pessoas na Bielorrússia foram durante muito tempo consideradas como politicamente passivas pelos observadores internacionais, em parte graças às políticas económicas relativamente bem sucedidas de Lukashenko, que sempre beneficiaram de laços estreitos com a Rússia. Nos últimos anos, no entanto, as desavenças com Moscovo foram-se somando.

Agora, a popularidade do presidente que procura a eleição do seu sexto mandato, parece estar a cair. Nestas eleições, os bielorrussos fizeram longas filas para assegurar que os candidatos à presidiência do país reuniam, cada um, cem mil assinaturas, como é exigido pela lei eleitoral, e saíram à rua em protestos a nível nacional quando os candidatos foram detidos.

Três dos principais rivais de Lukashenko foram afastados por via judicial ou administrativa do escrutínio de domingo, e dois deles estão na prisão. Foi então que Tijanovskaya reuniu o apoio dos candidatos impedidos de continuar na corrida.

Manifestação da oposição em Minsk, em julho deste anoFoto: picture-alliance/dpa/Tass/N. Fedosenko

O modo como o governo tem estado a lidar com a pandemia do novo coronavírus também tem estado a provocar o descontentamento da sociedade. Este país, que conta com cerca de 9,5 milhões de habitantes, tem oficialmente mais de 68 mil casos de covid-19 e cerca de 580 mortes. No entanto, há vários críticos a afirmar que os números têm estado a ser manipulados e que são muito superiores.

Correspondente da DW detido

A campanha eleitoral ficou ainda marcada pela detenção de vários jornalistas. Segundo Boris Goretski, dirigente da Associação de Jornalistas da Bielorrússia, nos últimos dois meses foram detidos profissionais da comunicação social em mais de 50 ocasiões e seis deles cumpriram prisão administrativa durante vários dias. 

É o caso do jornalista Alexander Burakov, correspondente da DW no país, que foi esta sexta-feira (07.08) condenado a dez dias de prisão, depois de ter sido detido na quarta-feira na sua cidade-natal Mahilou. Uma decisão que já foi criticada pelo diretor-geral da DW, Peter Limbourg:

"Os motivos alegados para a detenção, bem como para a condenação, podem ser interpretados como um pretexto evidente para impedir o jornalismo crítico e independente a poucos dias da eleição presidencial", escreveu Limbourg.

Sondagens

Sem uma sondagem independente, é difícil dizer qual será o desfecho das eleições deste domingo (08.08). Os meios de comunicação estatais afirmam que Lukashenko tem o apoio de cerca de 70% dos bielorussos.

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