Eleições na Turquia: Votação marcada por detenções
Reuters | AFP | AP | EFE | Lusa | DPA | tms
24 de junho de 2018
Os turcos foram às urnas em eleições presidenciais e legislativas – votação que é um teste ao regime de Erdogan. Entretanto, estrangeiros foram detidos alegadamente por se apresentarem como observadores eleitorais.
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Mais de 56 milhões de cidadãos foram chamados a votar nas eleições presidenciais e legislativas deste domingo na Turquia. Cerca de uma hora depois do encerramento da votação (às 18h locais), a imprensa estatal turca informou que o Presidente Recep Tayyip Erdogan, que se candidata a um novo mandato, já contabilizava cerca de 60% dos votos, com 22% da apuração.
Segundo estes resultados preliminares, com pouco mais de 20% das urnas apuradas, Erdogan já possuía 59,12%, enquanto o seu rival mais próximo, Muharrem Ince, do Partido Republicano do Povo (CHP), tinha 26,53%.
O Presidente turco precisa de mais de 50% para manter a Presidência no primeiro turno e evitar uma segunda volta a 8 de julho, mas estes são dados parciais e o resultado ainda pode mudar drasticamente até um anúncio oficial.
Logo após o anúncio dos primeiros resultados parciais este domingo, o porta-voz do CHP afirmou que a imprensa estatal turca está a manipular a cobertura das eleições.
Irregularidades e violência
Os observadores eleitorais da província de Sanliurfa, no sudeste do país, foram mantidos longe das assembleias de voto com "golpes, ameaças e ataques", segundo Bulent Tezcan, porta-voz do CHP.
A agência de notícias estatal Anadolu informou que 10 estrangeiros foram detidos por supostamente se apresentarem como observadores eleitorais, incluindo três alemães na província de Sirnak, no sudeste do país.
Uma delegação da França, do Partido Comunista Francês (PCF), também foi detida, incluindo a senadora Christine Prunaud. "As autoridades turcas querem acabar com qualquer crítica à enorme fraude em curso", disse um comunicado do partido.
O porta-voz da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Thomas Rymer, disse à DW que 320 observadores eleitorais da OSCE monitorizaram ativamente o processo de votação. Rhymer disse que a organização fornecerá uma avaliação inicial da situação na segunda-feira.
Além das detenções, três pessoas morreram a tiros num tumulto na cidade de Erzurum, no leste do país. Um dos mortos seria o chefe de um partido da oposição na cidade.
Nova era Erdogan?
O escrutínio acontece depois que mudanças na Constituição da Turquia foram aprovadas no ano passado, reformulando o sistema presidencial do país.
As eleições de domingo devem representar o maior desafio para Recep Tayyip Erdogan e seu partido, de origem islâmica, desde que chegaram ao poder há mais de uma década e meia. Também deve testar a força da oposição, que reuniu seus partidários em grande número nos últimos dias da campanha.
O Presidente Erdogan, que não perde uma eleição há 16 anos, transferiu a votação de novembro de 2019 para este domingo. Sob a nova Constituição, a eleição marca uma nova era de poderes reforçados para o cargo da Presidência para quem for eleito.
Recep Tayyip Erdogan saudou a "transição" para uma república presidencialista consagrada nas eleições deste domingo. "Paralelamente a estas eleições, a Turquia realizou uma revolução democrática. Pela primeira vez, estamos passando por uma transição para o presidencialismo", afirmou o chefe de Estado aos jornalistas depois de votar, no distrito de Üsküdar, em Istambul.
Legislativas
Junto com a votação para eleger o novo Presidente, os turcos elegerão 600 legisladores para o Parlamento. Oito partidos, mas também candidatos independentes, concorrem a cargos de cinco anos.
A nova Constituição expandiu o Parlamento turco em 50 cadeiras e agora permite que os partidos formem alianças na legislatura. Isso permitirá que partidos aliados menores contornem o limite mínimo de 10% que um único partido deve liberar para entrar no Parlamento. Como resultado, cinco dos oito partidos rivais estão concorrendo individualmente e como parte de duas coligações.
Presidentes para sempre
Vários líderes africanos já com muitos anos no poder, se não décadas, procuram prolongar a estadia no cargo através de mudanças na Constituição. Alguns deles são o único Presidente que muitos dos seus cidadãos conhecem.
Foto: picture-alliance/P.Wojazer
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika tem 81 anos, conta com 19 no poder e tudo indica que vai tentar a reeleição em 2019, num país onde não há limite de mandatos. Em 2013 sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde parecem travar o Presidente.
Foto: Reuters/Z. Bensemra
Camarões: Paul Biya
Aos 85 anos, Paul Biya é o Presidente mais velho do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Este ano, deverá concorrer novamente às eleições, depois de uma revisão à Constituição, em 2008, retirar os limites aos mandatos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Guiné-Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Nas últimas eleições do país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Depois de vencer eleições em 2017, poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS.com/G. Dusabe
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder. Em dezembro de 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Com 73 anos, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: Getty Images/AFP/G. Grilhot
Burundi: Pierre Nkurunziza
O terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o TPI, terá causado cerca de 1200 mortos e 400 000 refugiados. Em maio de 2018, terá lugar um referendo para alterar a Constituição que permitirá ao Presidente continuar no cargo que ocupou em 2005 até 2034.
Foto: Imago/photothek/U. Grabowski
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Recentemente, a Constituição do Gabão foi revista e além de acabar com o limite de mandatos, também permite ao Presidente tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/G. W. Obangome
Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016. Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/K.Tiassou
Républica Democrática do Congo: Joseph Kabila
Joseph Kabila sucedeu ao pai no poder em 2001, após o seu assassinato. Deveria ter terminado o segundo e último mandato no final de 2016. Através de um acordo com a oposição, continuou à frente do país. Este prolongamento seria de apenas um ano, mas as eleições que deveriam ter acontecido em dezembro de 2017 não se realizaram. Estão agora previstas para o final de 2018. Será desta?
Foto: Getty Images/AFP/J.D. Kannah
Zâmbia: Edgar Lungu
Edgar Lungu é dos que está no poder há menos tempo, apenas desde 2015, mas já vai no segundo mandato - que deveria ser último. Contudo, Lungu pretende recandidatar-se em 2021. Alega que o seu primeiro mandato não contou, uma vez que apenas substituiu o anterior presidente, Michael Sata, que faleceu em 2014, além de ter sido por um curto período, longe dos cinco anos previstos para um mandato.