Eleições Nigéria: Há condições para a votação em Borno?
Thomas Mösch | tms
15 de fevereiro de 2019
Os eleitores do nordeste da Nigéria estão ansiosos por votar nas presidenciais e legislativas deste sábado (16.02.). Mas os desafios de segurança naquela região ameaçada pelo grupo jihadista Boko Haram são enormes.
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Maiduguri, a capital do estado de Borno, tem crescido nos últimos anos - uma grande percentagem dos mais de dois milhões de nigerianos que fugiram dos ataques do Boko Haram buscaram refúgio na cidade. São inúmeros os campos de refugiados espalhados por Maiduguri e arredores.
Bakassi, localizado próximo do centro da cidade, é um desses locais. Pelo menos 30 mil deslocados vivem no campo de Bakassi, segundo a Agência de Gerenciamento de Emergências do Estado de Borno, que administra o local. Dias antes das eleições, a Comissão Eleitoral Nacional Independente (INEC) esteve no local para emitir cartões de eleitor.
Os que vivem nos acampamentos de Maiduguri esperam que a situação se acalme após as eleições, para que possam retornar às suas casas. Enquanto isso, eles ainda têm a chance de votar nas assembleias de voto que serão abertas para as eleições gerais nos campos de refugiados.
Logística garantida?
Eleições Nigéria: Há condições para votação em Borno?
Várias comunidades desenraizadas por ataques do Boko Haram transferiram provisoriamente a sua administração para os campos - e a Comissão Eleitoral também está a fazer uso dessas sedes. À luz da atual situação de insegurança em grande parte do nordeste da Nigéria, o cientista político Jibrin Ibrahim avalia positivamente o trabalho das autoridades eleitorais.
"Isso de certa forma tornará a logística eleitoral ainda mais fácil, porque as eleições serão concentradas nos grandes centros urbanos, onde as pessoas estão concentradas e congregadas. Acredito, portanto, que as eleições poderiam ter um nível razoável de credibilidade apesar das dificuldades de segurança que são impostas", entende Jibrin Ibrahim.
O cientista político ajudou a criar uma rede nacional de observadores da sociedade civil nigeriana, que deverá acompanhar a votação em pelo menos 30% das assembleias de voto em todo o país.
As promessas das autoridades
Entretanto, as forças de segurança tentam eliminar qualquer dúvida sobre a segurança das eleições em Borno. O chefe da corporação nigeriana de Segurança e Defesa Civil em Borno, Abdullahi Ibrahim, disse que, juntamente com a polícia e o exército, garantirá a segurança em cerca de 4 mil secções eleitorais no estado.
"As atenções agora estão voltadas para o Boko Haram, porque com a inteligência confiável que reunimos, estamos a aumentar a pressão sobre eles. É por isso que dentro de Maiduguri há relativa paz e também nos arredores. É por isso que a comissão eleitoral vai realizar eleições em todos os distritos do estado", diz Abdullahi Ibrahim.
Mas o especialista em segurança, Kabir Adamu, não está tão convencido disto: "É muito improvável que as eleições sejam realizadas em alguns distritos no norte de Borno em particular. Por exemplo, em Damasak, Mubar é muito improvável. Há um conflito armado em andamento."
No entanto, as autoridades nigerianas garantem que, mesmo em distritos marcados por conflitos, os cidadãos poderão votar em assembleias de voto instaladas em campos de refugiados.
Na corrida presidencial, os nigerianos contam com mais de 70 candidatos. Mas os dois favoritos são o atual Presidente Muhammadu Buhari e o seu rival Atiku Abubakar. Também neste sábado (16.02.) os eleitores vão eleger deputados. A 2 de março, voltam às urnas para as eleições regionais.
Lazer em vez de terror: o jardim zoológico de Maiduguri na Nigéria
Durante anos, o grupo terrorista islamita Boko Haram marcou a vida em Maiduguri. Ainda hoje acontecem atentados ocasionais. Mas o regresso à vida normal já permite prazeres como uma tarde passada no jardim zoológico.
Foto: DW/T. Mösch
Elefantas à espera dum elefante
As elefantas Izge e Juma são muito populares entre os visitantes. Mustapha Pogura (segundo da esquerda) veio da cidade vizinha de Yobe para passar uma tarde no jardim zoológico. "Antigamente teria receado vir por causa da falta de segurança. Mas agora reina aqui a paz." Pogura diz que ainda seria melhor se investissem mais no jardim zoológico. Os tratadores queriam um elefante para as elefantas.
Foto: DW/T. Mösch
Parque e zoológico há quase 50 anos
Chefes tradicionais e patrocinadores privados doaram alguns animais quando o parque foi criado em 1970. Em 1974, após uma visita ao parque, o Presidente queniano Jomo Kenyatta enviou uma série de animais da savana para a Nigéria. O parque transformou-se definitivamente num jardim zoológico. Mas aos poucos os animais foram morrendo de velhice ou porque não se adaptavam ao clima seco e quente.
Foto: DW/T. Mösch
Sombra e sossego no meio da azáfama urbana
Por um bilhete de 50 nairas (dez cêntimos do euro) o visitante pode visitar 17 hectares de parque com jaulas e cercas. Uma mão cheia de quiosques vende refrescos. Os visitantes preferem vir ao fim da tarde para fugir à canícula. Os pares sentam-se nos bancos à sombra e as crianças observam as cobras.
Foto: DW/T. Mösch
Um sítio para as crianças
A estudante Khadija (à direita), de 15 anos, e a sua irmã Aisha (segunda da direita) vieram com amigos. O leão é um dos animais preferidos de Khadija. "Fico feliz por haver um sítio tão bonito para nós, crianças", diz Aisha. Aos fins-de-semana o jardim zoológico enche bastante. Os empregados dizem que nos feriados importantes como a Festa do Sacrifício, vêm milhares de visitantes.
Foto: DW/T. Mösch
Leões comilões
Por detrás de uma grade grossa, o leão parece saciado. O rei dos animais partilha o recinto com duas leoas. Quando Maiduguri vivia o terror do Boko Haram, era difícil alimentar os leões. Foi preciso sacrificar-lhes algumas das cabras do jardim zoológico. Muitos carnívoros não sobreviveram, contam os tratadores.
Foto: DW/T. Mösch
Crocodilos prolíficos
A natureza conferiu aos crocodilos a capacidade de sobreviverem longos períodos sem comer. Estes não parecem ter sofrido nos anos de escassez de Maiduguri. O recinto está quase sobrelotado, porque os répteis reproduzem-se com rapidez. Fotos tiradas há alguns anos mostram o recinto cheio de lixo. Mas hoje os crocodilos dormitam sobre a areia branca e limpa.
Foto: DW/T. Mösch
Um diretor confiante
O diretor Usman Lawal trabalha aqui há mais de 20 anos. Mostra com orgulho o canto onde os crocodilos enterram os ovos. "Os governos passados não estavam interessados no jardim zoológico," conta. "Também por isso perdemos tantos animais”. Mas o atual governador do estado de Borno aumentou o orçamento, diz o diretor: "Pudemos proceder a limpezas e reparação de jaulas e recintos."
Foto: DW/T
Um recomeço com novos escritórios
O diretor Lawal tem grandes planos para o seu jardim zoológico. Fundos adicionais de Borno e o aumento de visitantes permitiram-lhe construir um novo edifício administrativo para os cerca de 40 empregados. Alguns recintos também obtiveram cercas novas.
Foto: DW/T.Mösch
A hiena aguarda uma casa nova
As jaulas para as hienas e os chacais estão na outra margem do pequeno rio que atravessa o parque. Para os ver, os visitantes têm que atravessar uma ponte. No outro lado do rio ainda falta construir e reparar muita coisa. A hiena decerto que agradeceria uma casa nova: a sua jaula é minúscula. Anda em círculos com um ar perdido e agitado.
Foto: DW/T. Mösch
Novos animais para assegurar o futuro
As avestruzes têm um recinto grande, para o qual vieram há pouco tempo. Pertenciam ao governador Kashim Shettima, que os ofereceu ao zoológico. Um gesto que o diretor Lawal agradece e diz que espera conseguir obter mais animais da savana, como zebras e girafas. Talvez o Quénia possa voltar a ajudar, acrescenta: "Brevemente iremos contactar as autoridades em Nairobi."
Foto: DW/T. Mösch
Babuínos no meio de detritos plásticos
Um dos maiores desafios para a administração são os visitantes que desrespeitam as regras. Há pessoas que acham graça atirar garrafas de plástico ou sacos de plástico com água aos babuínos. O lixo fica no recinto. Já em 2014 os peritos se queixavam do mau comportamento dos visitantes. Pelo menos o jardim deixou de ser ponto de encontro para traficantes de drogas e prostitutas e os seus clientes.
Foto: DW/Thomas Mösch
Uma cidade que anseia pela paz
O jardim zoológico fica numa estrada principal que leva ao centro da cidade. Os visitantes no parque estão longe da azáfama que reina lá fora. A vida em Maiduguri regressa lentamente à normalidade. Têm ocorrido alguns ataques suicidas nos arredores. Servem para lembrar às pessoas em Maiduguri que a liberdade ainda está longe de ser um dado adquirido.