Eleições no Botswana: Batismo de fogo para a democracia
Clarissa Herrmann | Adrian Kriesch | tm
23 de outubro de 2019
Cerca de um milhão de eleitores são hoje chamados a votar nas eleições gerais no Botswana, governado desde 1966 pelo Partido Democrático, a braços com uma disputa interna. O que significaria uma mudança de poder?
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Rico em diamantes, o Botswana é considerado há décadas como uma das democracias mais estáveis do continente africano. Estas legislativas, e uma possível mudança de Governo, trazem novos olhares sobre a democracia deste país. Principalmente por causa de uma disputa que eclodiu no partido no poder, o Partido Democrático do Botswana (BDP).
Em abril de 2018, o então Presidente do Botswana, Ian Khama, entregou o cargo ao seu vice, Mokgweetsi Masisi. A discórdia foi tão longe que, em maio, Ian Khama rompeu com o BDP e apoia agora a Frente Patriótica do Botswana (BPF), partido criado recentemente pelo seu irmão.
"Deixei o partido porque percebi que a nossa democracia está a ser ameaçada. E veremos o que pode acontecer no atual Governo", explicou o ex-Presidente em entrevista exclusiva à DW.
Possível vitória da oposição?
As acusações mútuas entre os ex-aliados envenenaram o clima dentro do partido no poder. Esta discórdia pode levar à vitória da oposição do Botswana pela primeira vez desde a independência do Reino Unido, em 1966.
Eleições no Botswana: Batismo de fogo para a democracia
Mas alguns opositores ficam incomodados ao ver o ex-Presidente Ian Khama a fazer campanha pela aliança de esquerda, a Coligação pela Mudança Democrática (UDC, na sigla em inglês).
"Não há clareza sobre a lealdade de Khama, onde está o seu partido. Ele disse que as pessoas deveriam votar na UDC, mas ele nunca mostrou ser membro do UDC", afirma o politólogo Gladys Mokhawa, da Universidade do Botswana.
"Democracia sairá fortalecida"
Tudo está em aberto. O facto de o resultado das eleições ser tão pouco previsível também se deve ao sistema eleitoral do Botswana, que se baseia no sistema de votação britânico, por maioria. De acordo com este sistema, em cada um dos em 57 círculos eleitorais, só passa o candidato que reúne o maior número de votos. Outros seis deputados vêm do partido no poder.
Na última eleição, em 2014, por exemplo, o partido BDP recebeu a maioria dos assentos no Parlamento, apesar de os partidos da oposição terem conquistado, em conjunto, mais de 50% dos votos. O Presidente é eleito pelo Parlamento, depois das legislativas.
Alguns analistas consideram que é preciso fazer uma reforma institucional com urgência. Outros encaram a situação com outros olhos. Para Matthias Basedau, investigador do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), em Hamburgo, a "democracia sairá fortalecida" depois destas eleições no Botswana. "Alguns politólogos consideram que a democracia é real quando uma, ou até mesmo duas, mudanças de poder ocorrem", lembra.
Diamantes: benção e maldição em África
Recentemente o Governo da Serra Leoa recusou uma oferta de 7,7 milhões de dólares para um dos maiores diamantes jamais encontrados no país. Uma ocasião para ver o diamante africano à lupa.
Foto: picture alliance/AP Photo
Uma bênção para a Serra Leoa?
Nos seus tempos livres o padre Emmanuel Momoh explora uma mina. Em Março encontrou um diamante de 709 quilates, que entregou às autoridades para que a receita da venda reverta a favor de todos. Num leilão o diamante obteve a oferta recorde de 7,7 milhões de dólares. Mas o Governo de Freetown achou-a muito baixa e organizou um novo leilão que deverá decorrer na Bélgica nas próximas semanas.
Foto: picture alliance/AP Photo
A estrela da Serra Leoa
Já em 1972 foi encontrado um diamante gigantesco na Serra Leoa. Com um peso bruto de 969 quilates, a “estrela da Serra Leoa” foi dividida em 17 partes. Apesar da riqueza em recursos naturais, o país ocupa um dos últimos lugares no Índice de Desenvolvimento da ONU. Durante décadas, o comércio ilegal de diamantes financiou uma guerra civil na qual morreram dezenas de milhares de pessoas.
Foto: Imago/ZUMA/Keystone
Botswana: o sítio dos maiores diamantes
Quando se trata do tamanho e do valor de diamantes, o Botswana ocupa o primeiro lugar. O segundo maior diamante jamais extraído no mundo tem o nome “Lesedi La Rona”, ou “a nossa luz”. É do tamanho de uma bola de ténis e tem 1.109 quilates. Foi encontrado em 2015 com a ajuda de raios-X. A iniciativa valeu a pena: mais tarde foram extraídos mais dois diamantes de muitos quilates no mesmo local.
Em Abril o “pink star” foi vendido pela soma recorde de 71 milhões de dólares. O diamante com 132,2 quilates foi encontrado na África do Sul. A lapidação levou dois anos, e produziu o maior diamante rosa do mundo, com quase 60 quilates. A "estrela rosa" foi leiloada uma primeira vez em 2013. Mas o comprador não conseguiu reunir a soma de 83 milhões de dólares e teve que devolver a pedra.
Foto: Reuters
Diamonds are a girl's best friend
A atriz Elizabeth Taylor era famosa pelo seu amor aos diamantes. Quando morreu, em 2011, as suas jóias foram leiloadas por quase 140 milhões de dólares. Durante muito tempo, os negociantes de pedras preciosas queixaram-se da queda de preços. Mas desde o ano passado, os preços recomeçaram a subir e a procura pelo diamante bruto cresce, alimentando a esperança de muitos prospectores africanos.
Foto: picture alliance/dpa/C. Melzer
Nem luxo, nem fascínio
Os prospectores no Zimbabué cavam com pás e com as próprias mãos à procura das pedras preciosas, na esperança de encontrarem um diamante que os redima da pobreza. Mas regra geral os grandes diamantes são encontrados em minas de exploração industrial, onde as máquinas têm a capacidade de peneirar grandes quantidades de minério.