Na corrida eleitoral às presidenciais de agosto destacam-se dois candidatos: o atual Presidente, Uhuru Kenyatta, e o seu rival e ex-primeiro-ministro, Raila Odinga.
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Num carro de campanha que percorre as ruas da cidade queniana de Kapenguria, o Presidente do país e candidato à reeleição pelo partido "Jubilee Party", Uhuru Kenyatta, acena para uma multidão de apoiadores. Parece que já venceu a disputa contra o rival Raila Odinga, mas a eleição ainda não está decidida. Ao que tudo indica, as presidenciais de agosto serão acirradas.
Jan Cernicky, diretor da Fundação política alemã Konrad Adenauer, no Quénia, lembra que "as eleições no país sempre foram muito disputadas e isso também deverá acontecer este ano. Serão eleições difíceis e pouco claras".
Linhas étnicas e regionais
As últimas eleições têm mostrado que os quenianos votam segundo critérios étnicos em busca de apoio para as suas regiões. Os maiores grupos étnicos são, nesta ordem, os Kikuyu, os Luhya, os Kalenjin e os Luo. Kenyatta é da etnia Kikuyu e o seu vice-presidente, William Ruto, da etnia Kalenjin; por isso, contam com o apoio desses grupos.
Um desafio para o opositor Raila Odinga, que tem feito alianças com outros grupos em busca de votos, a exemplo da Super Aliança Nacional (NASA).
Por outro lado, numa pesquisa conduzida no final de maio pelo instituto de pesquisa de mercado Ipsos, 47 por cento dos entrevistados disseram que votariam em Kenyatta e 42 por cento em Odinga. Mas há controvérsias sobre os dados; sobretudo, diante das já alegadas acusações de fraudes eleitorais pelo opositor Odinga: "Os membros do partido Jubilee Party mentem e roubam. Eles são inimigos da descentralização", afirmou.
Receio de violência
Perante deste cenário, teme-se que a batalha eleitoral continue nas ruas mesmo após o resultado de agosto. A isso, soma-se o medo da violência, que já marca as eleições no Quénia.
Há 10 anos, mais de mil pessoas morreram numa onda de violência pós-eleitoral - marcada por confrontos entre vários grupos étnicos - provocada por dúvidas sobre a credibilidade da reeleição de Mwai Kibaki, que venceu, por pouco, o oponente Raila Odinga. 600 mil pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas.
14.07 Vorbericht: eleições no Quénia - MP3-Mono
Este ano, Jan Cernicky frisa que"ainda não há motivo para pânico", mas ressalva: "Ambos os lados já se comunicam como se fossem vitoriosos. O candidato que perder poderá alegar que o resultado foi manipulado. Já se prevê que o perdedor diga: se as instituições não contribuem, então contestaremos nas ruas".
O atual Presidente e candidato à reeleição, Uhuru Kenyatta, garante a transição pacífica, caso perca as eleições: "Se a população decidir, a 8 de agosto, que quer um novo líder, eu aceitarei o resultado e assegurarei a transição de poder respeitosa e pacífica. Com pedidos ao meu sucessor que ame e proteja esta nação, tal como eu tenho tentado fazer".
Para já, espera-se uma segunda volta na disputa eleitoral no Quénia.
Política e controvérsia nas eleições do Quénia
A campanha eleitoral no Quénia acaba de se tornar ainda mais complicada do que já era com a formação da Super Aliança Nacional (National Super Alliance – NASA), que almeja derrotar o partido no Governo.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
NASA tenta derrotar o partido no poder
A aliança da oposição, NASA, nomeou o ex-primeiro ministro Raila Odinga candidato à presidência. Trata-se, com grande probabilidade, da última tentativa de Odinga, um opositor veterano de 72 anos, de ser eleito Presidente, após três candidaturas falhadas. A NASA esforçou-se por nomear um candidato passível de angariar votos dos principais grupos étnicos.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
A recruta de novos membros de áreas chave
A NASA quer derrotar o Presidente em exercício, Uhuru Kenyatta, que concorre pela segunda e última vez pela sua formação política, Jubilee Party. Recentemente, a aliança ganhou um novo co-presidente na pessoa do governador de Bomet, Isaac Ruto. O dirigente do sudoeste do país garante à NASA o apoio do Vale de Rift, a maior província do país.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Eleições no décimo aniversário de violência política
As eleições gerais quenianas realizam-se em 18 de agosto de 2017. Este ano, cerca de 19 milhões de quenianos recensearam-se para votar, embora ainda decorra um inquérito para eliminar da lista os eleitores entretanto falecidos. As eleições realizam-se dez anos após um sufrágio que desencadeou uma onda de violência, que resultou em mais de mil mortos e centenas de milhares de deslocados.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Número inesperado de eleitores
O número elevado de eleitores que se apresentou nas mesas de voto para eleger o candidato à presidência do partido governamental, obrigou ao adiamento do voto. O Jubilee Party não estava preparado para tantos eleitores, e teve que providenciar mais boletins de votos, antes de continuar a votação poucos dias mais tarde.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Violência eleitoral
As eleições deste ano para os governos e parlamentos regionais já foram marcadas pela violência. Dezenas de pessoas foram feridas no início do mês de Maio em Nairobi na central do partido de oposição Movimento Laranja Democrático, quando apoiantes de um candidato ao senado atacaram os adeptos da candidata desta formação política.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
Alegações de fraude
Já há alegações de fraude. O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o seu cartão de identidade foi usado para recensear outras pessoas. Em 2013, o equipamento electrónico para a contagem de votos falhou, alimentando suspeitas de fraude eleitoral. Em janeiro, o Presidente Kenyatta aprovou uma lei que impõe um recurso à contagem manual de votos caso o equipamento electrónico não funcione.
Foto: Reuters/M. Eshiwani
O problema das etnias
No Quénia, o voto geralmente é determinado pela etnia. O critério para as alianças políticas é a capacidade de angariar votos dos cinco principais grupos étnicos do país. Kenyatta e o seu vice, William Ruto, formaram uma aliança entre dois grupos étnicos: a maioria kikuyu, da qual origina o Presidente, e os kalenjin de Ruto. Estas duas etnias protagonizaram os confrontos violentos de 2007.