Nenhum dos outros dois candidatos à presidência do país têm chances nas eleições de 4 de agosto, aponta especialista. Possibilidade de terceiro mandato foi aprovada pelo Parlamento em 2015.
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No dia 4 de agosto, Paul Kagame poderá iniciar o seu terceiro mandato na presidência do Ruanda. A oposição não tem chances, porque o Governo domina quase todos os meios de comunicação social. E estes só têm espaço de antena para Kagame e seu partido Frente Patriótica Ruandesa (FPR).
As autoridades autorizaram apenas mais dois candidatos: Frank Habineza, lider dos Verdes e Philippe Mpayimana, um ex-jornalista independente. Nenhum deles tem a menor hipótese de ganhar, diz o autor Gerd Henkel, que se especializou no Runada.
"A constituição diz que o Ruanda é uma democracia, mas na verdade trata-se de um país governado autoritariamente por Kagame. Este teve êxito económico, mas apresenta graves défices no contexto dos direitos humanos", analisa.
Mudança na legislação
Em outubro de 2015, o Parlamento aprovou maioritariamente uma alteração constitucional para que Kagame pudesse concorrer a um terceiro mandato. Mais tarde a alteração foi aprovada pelo Senado e por um referendo popular. Teoricamente Kagame pode agora ficar no poder até 2024.
O especialista Henkel considera que o risco é grande que Kagame se perpetue no poder. "Também no passado", explica, "ele prometeu varias vezes não ir além de dois mandatos, ou seja, 14 anos, porque até lá conseguiria assegurar a paz no país. Mas não cumpriu a promessa".
Henkel vê o perigo de um vácuo no poder se um dia no futuro longínquo Kagame for obrigado a deixar a presidência. Esse vácuo poderia pôr em perigo a estabilidade do país.
Política económica de Kagame
Apesar da crítica à situação dos direitos humanos no Ruanda, muitos elogiam a política económica do Presidente. Há anos que a economia cresce uma média de sete por cento, 95% da população tem acesso à internet, e mais de 95% têm acesso a cuidados médicos pelo menos rudimentares.
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Em entrevista à DW, o analista congolês Jean-Claude Mputu admite que houve conquistas importantes no país, mas adverte que o êxito económico não oculta os problemas do país.
"O Ruanda não se desintegra por causa dos êxitos económicos e do desenvolvimento das infraestruturas. Mas isso é algo passageiro. Por outras palavras: Kagame construiu castelos na areia", disse Mputu, que também acusa o ocidente de fechar os olhos às violações dos direitos humanos no Ruanda, por causa do desenvolvimento económico do país pacificado.
O genocídio no Ruanda
O genocídio no Ruanda, 25 anos atrás, em 1994, chocou o mundo. Na época, a comunidade internacional assistiu de braços cruzados – sobretudo a França e a ONU – ao assassinato de cerca de 800 mil pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa
O pontapé do genocídio
No dia 6 de abril de 1994, o avião em que viajava o então Presidente de Ruanda, Juvénal Habyarimana, foi derrubado por um foguete quando se aproximava da capital Kigali. O atentado matou Habyarimana, o Presidente do Burundi e outros oito ocupantes da aeronave. No dia seguinte, começam os massacres, que duraram três meses e custaram a vida de pelo menos 800 mil ruandeses.
Foto: AP
Vítimas escolhidas a dedo
Depois do assassinato do Presidente, extremistas hutus começaram a atacar membros da minoria tutsi e hutus moderados. Os assassinos estavam bem preparados e escolhiam suas vítimas entre ativistas de direitos humanos, jornalistas e políticos. Entre as primeiras vítimas, no dia 7 de abril de 1994, estava a primeira-ministra Agathe Uwilingiyimana.
Foto: picture-alliance/dpa
Resgate de estrangeiros
Enquanto nos dias posteriores milhares de ruandeses eram mortos diariamente em Kigali e no interior, forças especiais belgas e francesas retiraram do país cerca de 3.500 estrangeiros. Paraquedistas belgas resgataram em 13 de abril os sete funcionários alemães da Deutsche Welle em Kigali, juntamente com suas famílias. Apenas 80 dos 120 empregados locais da emissora sobreviveram ao genocídio.
Foto: P.Guyot/AFP/GettyImages
Grito de socorro
Já no início de 1994, o comandante das tropas de paz da ONU, o canadense Roméo Dallaire, tinha indícios de um planejado extermínio da população tutsi. Sua mensagem à ONU, conhecida como o "fax do genocídio", enviada em 11 de janeiro, foi rejeitada. Os apelos posteriores do general durante o genocídio também foram ignorados pelo então chefe das operações de manutenção da paz, Kofi Annan.
Foto: A.Joe/AFP/GettyImages
Mídias do ódio
O filme "Hate Radio", do diretor suíço Milo Rau (foto), lembra a estação Radio Mille Collines (RTLM) que, junto ao jornal semanal "Kangura", incitava o ódio contra os tutsis. Kangura, por exemplo, publicou já em 1990 os "Dez mandamentos hutus", com alto teor racista. A Mille Collines, popular pela música pop e pela cobertura desportiva, fazia chamadas diárias pela perseguição e morte de tutsis.
Foto: IIPM/Daniel Seiffert
Refúgio no hotel
Em Kigali, Paul Rusesabagina escondeu mais de mil pessoas no Hotel des Mille Collines. Depois que o gerente belga deixou o país, Rusesabagina o sucedeu no cargo. Com muito álcool e dinheiro, ele conseguiu impedir as milícias hutus de matar os refugiados. Em muitos outros refúgios, as vítimas não conseguiram escapar de seus assassinos.
Foto: Gianluigi Guercia/AFP/GettyImages
Massacres em igrejas
Mesmo igrejas, onde muitos buscaram refúgio, não foram respeitadas. Cerca de 4 mil homens, mulheres e crianças foram mortos na igreja de Ntarama, perto de Kigali, por assassinos portando machados e facões. Hoje, a igreja é um dos muitos memoriais do massacre. Crânios e ossos humanos, além de buracos de bala nas paredes, lembram até hoje o genocídio.
Foto: epd
O papel da França
Paris manteve laços estreitos com o regime hutu. Quando os rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa (FPR) já tinham ganhado terreno sobre os autores de genocídio, em junho, o Exército francês entrou em ação. E permitiu que soldados e milicianos responsáveis pelo genocídio fossem com armas para o Zaire, atual República Democrática do Congo, onde representam até hoje uma ameaça para o Ruanda.
Foto: P.Guyot/AFP/GettyImages
Fluxo de refugiados
Durante os massacres, milhões de ruandeses, tutsis e hutus, fugiram para os países vizinhos Tanzânia, Zaire e Uganda. Só no Zaire (hoje RDC), foram dois milhões de refugiados. Ex-membros do Exército e os autores de massacres fundaram as Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda, que são até hoje um fator de insegurança no leste congolês.
Foto: picture-alliance/dpa
Tomada de Kigali
Diante da Igreja da Sagrada Família, em Kigali, patrulham em 4 de julho de 1994 rebeldes da RPF. Nessa época, eles já haviam libertado a maioria das regiões do país e forçado os assassinos a baterem em retirada. Ativistas de direitos humanos se queixam, no entanto, que os rebeldes também cometeram crimes pelos quais ninguém foi responsabilizado até hoje.
Foto: Alexander Joe/AFP/GettyImages
Fim do genocídio
O general Paul Kagame, líder da RPF, declarou em 18 de julho de 1994 o fim da guerra contra as forças do Governo. Os rebeldes assumiram o controlo da capital e outras grandes cidades. A princípio, empossaram um Governo provisório. Desde o ano 2000, Kagame é o Presidente do Ruanda.
Foto: Alexander Joe/AFP/GettyImages
Cicatrizes permanentes
O genocídio durou quase três meses. A maioria das vítimas foi brutalmente assassinada com facões. Vizinhos mataram vizinhos. Cadáveres e partes de corpos de bebés, crianças, adultos e idosos se amontoavam ao longo das ruas. Poucas famílias foram poupadas. Não só as cicatrizes nos corpos dos sobreviventes mantêm viva a memória do genocídio.