Eleições no Sudão: Omar al-Bashir deverá manter-se no poder
13 de abril de 2015Foram chamados às urnas 13,3 milhões de eleitores. A votação, que decorre durante três dias, não deve passar de uma formalidade para estender o Governo do Presidente Omar al-Bashir, à frente dos destinos do país há 25 anos, afirma Malek Taha, editor-chefe do diário Al Rai Aam, o jornal mais antigo do Sudão.
"Alguns candidatos sentem que o resultado já é conhecido, que o partido no poder vai voltar a ganhar, e não haverá nenhuma surpresa ou concorrência real". Além disso, acrescenta o jornalista, "o público não está realmente entusiasmado com as eleições deste ano, especialmente a juventude."
De acordo com dados da Comissão Nacional de Eleições (CNE), 16 candidatos concorrem às presidenciais e há 45 partidos na corrida, mas a maioria é pouco conhecida ou até completamente desconhecida pelo eleitorado.
Oposição apela ao boicote
Figuras proeminentes da oposição, incluindo o primeiro-ministro deposto Sadiq Al Mahdi e o ex-líder do partido no poder Ghazi Salahuddin, co-fundador do Partido Congresso Nacional (NCP), pediram aos eleitores para boicotarem as eleições. Alegam que o pleito é ilegítimo, em parte devido a conflitos armados em curso no país e a mudanças constitucionais desleais.
Recentemente, após uma alteração da Constituição sudanesa, os governadores dos 18 estados passaram a ter de ser nomeados pelo Presidente, em vez de serem eleitos. A modificação foi amplamente criticada por concentrar mais poder nas mãos de Omar al-Bashir, com 71 anos de idade.
"Entrámos nesta batalha eleitoral sem qualquer tipo de financiamento contra um partido no poder que tem acesso a muitos recursos", disse Mohammed Awad Al Baroudi à agência de notícias Reuters. O candidato à Presidência acusa também os meios de comunicação social de serem "claramente tendenciosos", uma vez que "quase 90% do tempo de antena serve apenas o partido no poder".
A oposição pediu o adiamento das eleições para dar espaço ao diálogo nacional entre o NCP e a oposição. O Governo, no entanto, rejeitou o pedido de adiamento, alegando que o voto não impede a continuação das negociações.
O diálogo foi pedido pelo Presidente al-Bashir, em janeiro de 2014, para apaziguar as crescentes tensões políticas, em particular após a violenta repressão do Governo aos protestos de rua em setembro de 2013, mas tem dado poucos frutos. As negociações de paz em Addis Abeba, capital da Etiópia, terminaram num impasse em dezembro do ano passado.
Descontentamento público
Esta é a segunda eleição no Sudão desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 2005, que pôs fim a décadas de guerra com o Sudão do Sul, mas deixou conflitos não resolvidos na região dos Montes Nuba (Cordofão do Sul) e no Darfur.
O crescente descontentamento público e os apelos de uma coligação de grupos rebeldes e partidos políticos para que seja encontrada uma solução política integral pressionaram o Governo a empenhar-se mais seriamente nas negociações.
Este ano, a CNE não recebeu qualquer financiamento externo. "Seria uma razão para a oposição boicotar as eleições", declarou um membro da comissão eleitoral. Organizações ocidentais, incluindo a União Europeia (UE) e o Centro Carter, também não irão enviar equipas de observação.
Osman Aldissougi concorre à Assembleia Legislativa de Cartum pelo Exército Popular de Libertação do Sudão (SPLA), cuja ala política era o Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM) - o movimento que lutou contra o regime de Cartum durante décadas e que agora governa o Sudão do Sul.
O presidente do partido, Daniel Kodi, não tem ilusões sobre o ambiente eleitoral, que classifica como injusto. "Nós não estamos à espera de bons resultados, mas queremos deixar claro que estamos aqui para ficar", avisa.