Eleições no Zimbabué: Robert Mugabe não vota no ZANU-PF
Lusa | AP | mjp
29 de julho de 2018
Na véspera das eleições desta segunda-feira, o antigo homem forte do país veio a público afirmar que não vai votar no seu sucessor, Emmerson Mnangagwa, e deixou duras críticas ao partido no poder.
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O ex-Presidente do Zimbabué Robert Mugabe afirmou este domingo que não vai votar no seu sucessor, Emmerson Mnangagwa, e deu a entender que irá votar no opositor Nelson Chamisa nas eleições presidenciais de segunda-feira (30.07).
"Pela primeira vez, temos uma longa lista de aspirantes ao poder", disse o ex-Presidente, de 94 anos, durante uma conferência de imprensa em sua casa, em Harare.
"Não posso votar naqueles que me têm maltratado, farei a minha escolha entre os outros 22 candidatos", acrescentou.
No poder desde a independência do país em 1980, Robert Mugabe foi forçado a sair do Governo em novembro de 2017 pelos outros líderes do regime e substituído por seu ex-braço direito, Emmerson Mnangagwa.
Robert Mugabe deixou a entender que votaria em Nelson Chamisa, líder do principal partido da oposição, o Movimento pela Mudança Democrática (MDC) e seu inimigo histórico.
"Eu não posso votar no ZANU-PF", o partido no poder, disse Mugabe. "O que resta? Chamisa", declarou, referindo-se ao líder do MDC. "Ele parece estar bem nos seus comícios", declarou o ex-Presidente sobre Chamisa.
"Quem vencer, desejamos-lhe bem (...) e vamos aceitar o resultado", garantiu.
Mugabe culpou "personagens malignos e maliciosos" pela sua retirada do poder, referindo ainda que renunciou para evitar um "derramamento de sangue".
A intervenção pública de Robert Mugabe -- a segunda desde novembro - aconteceu na véspera das primeiras eleições presidenciais e legislativas sem o antigo homem forte do país.
Mnangagwa na frente nas sondagens
O favorito nas pesquisas de opinião, Emmerson Mnangagwa (candidato pelo ZANU-PF), de 75 anos, enfrenta uma oposição determinada liderada por Nelson Chamisa, de 40 anos.
Mnangagwa, de 75 anos, que promete um novo começo para o país, é o favorito, com as vantagens de um apoio militar discreto, meios de comunicação estatais leais e um partido no poder que controla os recursos do Governo.
Mas Chamisa, de 40 anos, teve um bom desempenho na campanha eleitoral e espera ter o apoio de uma população jovem que poderá votar pela mudança, num país governado pelo ZANU-PF desde a independência do poder colonial britânico, em 1980.
As eleições durante o regime de Mugabe foram marcadas pela fraude e a violência, mas, desta vez, a campanha foi pacífica, apesar das acusações de possível fraude eleitoral levantadas pela oposição.
Uma sondagem do Afrobarometer coloca Mnangagwa na frente da corrida, com 40%, seguindo-se Chamisa, com 37%. 20% dos 2 mil e 400 inquiridos ainda não sabem em quem vão votar.
Últimos apelos
"O que resta é apenas um passo na segunda-feira – votar no ZANU-PF, para que tenhamos uma vitória retumbante", disse Mnangagwa no seu último comício, no estádio nacional, em Harare, este sábado.
"Hoje desbloqueamos o potencial da nossa pátria amada para construir um novo Zimbabué para todos", afirmou, repetindo a sua promessa de recuperação económica.
Nelson Chamisa lançou vários ataques a Mnangagwa e acusou a muito criticada Comissão Nacional de Eleições do Zimbabué de tentar manipular as eleições. Mas também garantiu que não vai boicotar o pleito, afirmando que o seu partido vai vencer, ainda assim.
"Se perdermos a nossa oportunidade na segunda-feira, estamos condenados, porque o atual Governo é incapaz. Nós somos o próximo Governo, nós somos os vencedores, sem dúvida", disse, perante mais de 10 mil pessoas na última ação de campanha, no sábado.
Com cerca de 5,6 milhões de eleitores registados, os resultados das eleições presidenciais, legislativas e locais deverão ser anunciados a 4 de agosto.
A segunda volta está marcada para 8 de setembro, caso nenhum candidato presidencial obtenha pelo menos 50% na primeira ronda.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.