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Partidos usam "narrativa incoerente" para atrair jovens

António Cascais
30 de maio de 2023

À DW, o jovem político Lesmes Monteiro diz que quer mudar a forma de se fazer política na Guiné-Bissau: Sem "compra de consciência" e com a apresentação de propostas.

Lesmes Monteiro é presidente do Partido Luz da Guiné-Bissau (PLGB)
Foto: Privat

"Os partidos tradicionais da Guiné-Bissau lembram-se da juventude e dos interesses da juventude só durante a campanha eleitoral. Mas depois de ganharem as eleições rapidamente se esquecem dos jovens", afirma Lesmes Monteiro em entrevista à DW.

O jovem jurista, rapper e líder político guineense resolveu fundar o seu próprio partido, o Partido Luz da Guiné-Bissau (PLGB), em dezembro de 2022 - depois de ter sido ativista político, ter passado por vários outros projetos políticos e até se ter candidatado a líder juvenil do PAIGC.

O presidente do mais jovem partido concorrente às eleições legislativas de 4 de junho na Guiné-Bissau defende o fim do uso de meios para a "compra da consciência".

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Lesmes Monteiro (LM): Compreendemos que não será possível a reforma dentro dos partidos tradicionais na versão de uma transição geracional. Então, decidimos avançar com uma agenda própria. Em cinco meses, conseguimos participar nas eleições. Este é um país que tem quase 50 partidos legalizados e conseguimos estar no grupo de 22 partidos que concorrem a estas eleições legislativas. Para nós, é um motivo de muita satisfação e estamos empenhados em poder ter uma representação jovem na Assembleia Nacional Popular.

DW África: Praticamente todos os partidos concorrentes, os partidos tradicionais, dizem que têm desta vez muitos jovens como candidatos. O que é que vos distingue de partidos como o PAIGC, o MADEM-G15 ou o PRS?

LM: É uma retórica que os partidos usam para poder atrair o voto da juventude. Só um exemplo, quase todos esses partidos dizem que a educação e a saúde constituem as suas prioridades. Mas isso não corresponde à verdade. Quando a pessoa lê o programa do PAIGC, do MADEM ou do PRS não têm a educação e saúde como prioridade. Não têm. Têm outras prioridades. Da mesma forma, usam discursos ligados à juventude e dizem que promovem a juventude.

Mas, por exemplo, o líder da juventude do PRS não é cabeça de lista nestas eleições legislativas. Está no terceiro lugar. O líder da juventude do PAIGC não é cabeça de lista. Então, é uma narrativa incoerente com a realidade.

Nós estamos mesmo a representar a nossa geração e esta nossa agenda está a provocar também uma certa mudança dentro de outros partidos, que estão a tentar englobar os jovens para poder usar justamente esta narrativa de dizerem que eles estão a dar oportunidade.

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LM: Não, em termos monetários não, para ser sincero. Mas como surgimos para sermos diferentes, nós estamos a provar que é possível fazer a campanha sem grandes meios. Não é nada fácil, porque só a logística para deslocamentos já constitui algum custo. E o formato da política na Guiné-Bissau é baseado essencialmente na compra de consciência. Quer dizer, temos partidos que, durante quatro anos, não têm qualquer ligação com a população, não fazem nada em termos de implementação do projeto de desenvolvimento, mas chegam à campanha e roubam do Estado, assumem compromissos com outros atores, até com organizações do crime organizado, para poderem ter meios para financiar a campanha.

Nós, enquanto jovens, uma das nossas prioridades, se conseguirmos chegar à Assembleia Nacional Popular, é provocar a adoção de uma lei que vai proibir o uso de meios excessivos durante a campanha - sobretudo para dar comida, arroz, carros, etc. 

As pessoas têm que vender ideias, têm que apresentar propostas. Podem fazer camisolas, podem fazer panfletos. Mas não nos moldes que fazem aqui. Nós estamos a tentar fazer com o mínimo que nós temos. Não temos nenhum carro. Temos carros pessoais de algumas pessoas do partido, mas estamos a fazer a campanha.

Estamos a usar a tática de falar diretamente com o eleitorado, porta a porta, fazer passeatas, e sentimos que vai surtir efeito. Pode não trazer resultados impactantes nestas eleições, mas somos um partido novo. Daqui há quatro anos, podemos contribuir para a mudança da política na Guiné-Bissau.

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