Os eleitores da Guiné-Conacri foram às urnas neste domingo em eleições presidenciais já conturbadas. O atual Presidente Alpha Condé, de 82 anos, disputa um polémico terceiro mandato.
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Cerca de 5,4 milhões de eleitores foram às urnas na Guiné-Conacri neste domingo para escolher o próximo Presidente do país, em eleições já marcadas pela contestação à recandidatura de Alpha Condé, e pela morte de dezenas de manifestantes. A votação segue meses de agitação política.
No primeiro turno deste domingo (18.10), Condé enfrenta o principal líder da oposição, Cellou Dalein Diallo, e outros dez candidatos.
A polícia esteve em força na capital do país, Conakry, após confrontos entre apoiadores rivais nos últimos dias, mas a votação decorreu em clima de calma.
O ministro da Segurança, Albert Damantang Camara, disse à agência de notícias AFP que "não houve grandes incidentes", embora seu ministério tenha dito que "hooligans" atacaram as forças de segurança na capital.
Em entrevista coletiva, o candidato de oposição, Diallo, pediu a seus partidários que "mostrassem contenção". "Não tenho dúvidas sobre o resultado da eleição, por isso não quero que a violência atrapalhe a votação e prejudique minha vitória", disse ele, acrescentando que acha que Condé pode, no entanto, "trapacear".
Primeiro Presidente eleito
Alpha Condé foi o primeiro Presidente eleito democraticamente em 2010 após décadas de regimes autoritários na Guiné-Conacri, tendo sido reeleito em 2015 para um segundo mandato. O Presidente cessante, agora com 82 anos, tenta um terceiro mandato.
Durante um referendo em março, que foi muito contestado, fez aprovar uma nova Constituição e de seguida considerou, com os seus apoiantes, que o novo texto lhe permitia voltar a concorrer ao escrutínio.
Para os adversários, este foi um "golpe de Estado constitucional".
De acordo com a Amnistia Internacional, entre outubro de 2019 e julho de 2020, pelo menos 50 pessoas foram mortas pelas forças de segurança nos protestos contra Alpha Condé. Mais de 200 pessoas ficaram feridas e muitas foram detidas arbitrariamente.
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Mais de 90 pessoas mortas
O movimento de oposição Frente Nacional para a Defesa da Constituição estima que 92 pessoas foram mortas desde junho de 2019, mas o Governo contesta estes números.
As eleições presidenciais contaram com a presença de 25 observadores enviados pela União Africana (UA).
A missão foi liderada pelo ex-primeiro-ministro da República Democrática do Congo (RDC), Augustin Matata Ponyo, e entre os 25 observadores encontram-se embaixadores acreditados junto da União Africana (UA), parlamentares pan-africanos, representantes de órgãos de gestão eleitoral, organizações da sociedade civil e instituições académicas africanas.
O objetivo da missão é fazer uma "avaliação imparcial das eleições presidenciais de 18 de outubro na Guiné-Conacri, incluindo o nível de cumprimento das normas para eleições democráticas", bem como fazer recomendações para a melhoria dos futuros processos eleitorais no país.
Presidentes a todo o custo
São derrotados nas eleições, mas contestam os resultados. Mesmo depois de esgotarem todos os recursos, estes candidatos à mais alta magistratura continuam a reivindicar a Presidência.
Maurice Kamto: o auto-proclamado "presidente"
O candidato da oposição às presidenciais de 7 de outubro nos Camarões, Maurice Kamto, reivindica a vitória frente a Paul Biya. "Convido o Presidente da República a criar as condições para uma transição pacífica para proteger os Camarões de uma crise eleitoral desnecessária", declarou o líder do MRC - Movimento para o Renascimento dos Camarões.
Foto: AFP/Getty Images
Nelson Chamisa, o "presidente legítimo" do Zimbabué
O líder da oposição zimbabueana contesta a vitória do Presidente Emmerson Mnangagwa nas eleições de 30 de julho de 2018. Considera-se vencedor e reclama a cadeira presidencial numa cerimónia simbólica de tomada de posse, a 15 de setembro.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Cissé rejeita a tomada de posse de Keïta
Soumaïla Cissé não marca presença na cerimónia e fala num vazio de poder no Mali depois da tomada de posse "nula e de efeito nulo" do seu rival, Ibrahim Boubacar Keïta, a 4 de setembro de 2018. A 20 de agosto, o Tribunal Constitucional do Mali declarou Keïta vencedor das presidenciais com 67,16% dos votos na segunda volta de 12 de agosto contra os 32,84% de Soumaïla Cissé.
Foto: DW/K. Gänsler
Raila Odinga, efémero "presidente do povo"
A 30 de janeiro de 2018, o opositor que tinha boicotado as presidenciais de outubro de 2017 contra Uhuru Kenyatta autoproclama-se "presidente do povo" perante milhares de apoiantes, numa cerimónia simbólica em Nairobi. O país é palco de violência pós-eleitoral, mas, a 9 de março, Odinga e Kenyatta surpreendem ao anunciar a sua reconciliação.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/B. Jaybee
Jean Ping : "Exercerei o poder que me confiaram"
Dois anos após as presidenciais de agosto de 2016, o líder da oposição gabonesa continua determinado. A 31 de agosto, numa cerimónia de "homenagem aos mártires" da violência pós-eleitoral, em Libreville, diz que quer continuar a sua "luta" para "libertar" o Gabão. Jean Ping deposita esperanças nomeadamente no inquérito preliminar do Tribunal Penal Internacional sobre a crise pós-eleitoral no país.
Foto: DW/A. Kriesch
Kizza Besigye, o eterno rejeitado
Em fevereiro de 2016, o opositor histórico enfrenta Yoweri Museveni pela quarta vez no Uganda. Quando Museveni é declarado vencedor e se prepara para prestar juramento para um quinto mandato, Kizza Besigye toma posse como presidente numa cerimónia alternativa. Afirma "ter provas" da sua vitória. Detido e condenado por alta traição, é libertado algumas semanas depois.
Foto: DW/E.Lubega
André Mba Obame, o outro adversário de Ali Bongo
Inspirado pelos acontecimentos na Costa do Marfim, o antigo ministro "AMO" autoproclama-se presidente do Gabão, em janeiro de 2011, 17 meses depois de perder as presidenciais frente a Ali Bongo. Acusado de alta traição, refugia-se numa agência da ONU. Os problemas de saúde põem fim às suas ambições presidenciais. A sua morte, em abrir de 2015, aos 57 anos, leva a confrontos em Libreville.
Foto: cc-by-sa Ernest A. TEWELYO
Étienne Tshisekedi, duas vezes "presidente"
Em 2006 e 2011, o líder do principal partido da oposição congolesa (UDPS) declara-se vencedor frente a Joseph Kabila e "presidente eleito". Toma posse na sua residência em Limete, arredores de Kinshasa. O seu estado de saúde deteriora-se em 2014 e em 2017 morre com o eterno opositor o desejo de ocupar a cadeira presidencial.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Roge
Laurent Gbagbo, opositor histórico
No ano 2000, o líder do FPI declara-se vencedor frente a Robert Gueï e pede aos costa-marfinenses que saiam à rua para fazer cair o general. Os manifestantes atacam os agentes de segurança do chefe da junta militar. Os protestos continuam até que a polícia e, mais tarde, o exército, começam a passar para o lado de Laurent Gbagbo.
Foto: AP
John Fru Ndi às portas do palácio presidencial
John Fru Ndi autoproclama-se presidente a 21 de outubro de 1992. Dois dias depois, o Supremo Tribunal declara Paul Biya vencedor do escrutínio presidencial. O fundador do SDF contesta estes resultados nas ruas. É declarado o estado de emergência no nordeste do país e John Fru Ndi fica em prisão domiciliária.