Expetativa é que o atual Presidente, Faure Gnassingbé, no poder desde 2005, vença as eleições diante uma oposição inexpressiva e fragmentada. Opositores denunciam falta de transparência.
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Os eleitores do Togo foram às urnas este sábado (22.02) para eleger um novo Presidente. Com a oposição desarticulada, a expetativa é que o atual Presidente, Faure Gnassingbé, candidato a um quarto mandato, vença o pleito com ampla vantagem e garanta o domínio de meio século de sua família na única nação de África Ocidental comandada por uma ditadura familiar.
Os seis candidatos da oposição que concorrem às eleições presidenciais são inexpressivos. A oposição fragmentada do Togo não conseguiu escolher um candidato comum e alguns partidos chegaram a pedir um boicote às eleições deste sábado.
"Houve alguns incidentes menores em todo o país. Mas, em geral, tudo está a correr bem: Há muita participação e tudo está em silêncio. Estou muito confiante, essa é a minha natureza", afirmou Faure Gnassingbé.
Jean-Pierre Fabre, candidato da oposição, disse que não confia na contagem dos votos. "Antes desta eleição, fizemos várias demandas, todas rejeitadas pelo regime, como, por exemplo, a autenticação dos boletins de voto e a publicação dos resultados para cada assembleia de voto. Isto nos deixa muito desconfiados, por isso estamos muito vigilantes. Pessoalmente, não acredito que o Togo tenha eleições transparentes", sublinhou.
Mudanças?
Em Lomé, alguns eleitores saíram cedo para votar na esperança de que a eleição traga as mudanças necessárias. "Sofremos muito no Togo, desta vez tem que mudar", disse o motorista Eric, de 30 anos, perto de um centro de votação. O Togo é um dos países mais mal classificados no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas e mais da metade da população vive abaixo da linha da pobreza.
Faure Gnassingbé está no poder desde 2005, aquando da morte de seu pai Gnassingbé Eyadéma depois de governar o país por 38 anos. As autoridades enfrentaram grandes protestos em 2017 e 2018, exigindo o fim das cinco décadas do regime que falhou em tirar muitos da pobreza. Entretanto, as manifestações esgotaram-se diante da repressão do Governo e das disputas entre a oposição.
O atual Presidente já foi reeleito duas vezes, em 2010 e 2015. Uma emenda constitucional aprovada em 2019 limitou o cargo de Presidente a dois mandatos, mas vai ter efeitos apenas nas eleições subsequentes. Assim, Faure Gnassingbé pode concorrer nesta e nas próximas eleições, com chances de manter-se no poder até 2030. "Não sinto-me um ditador", disse Gnassingbé em entrevista à agência de notícias francesa AFP.
Os resultados são esperados nos próximos dias. Durante a campanha eleitoral, Gnassingbé defendeu a estabilidade e a segurança, devido à violência jihadista que abala a vizinha Burkina Faso ao norte. O Togo conseguiu conter o avanço do extremismo no país, com o exército e os serviços de inteligência a serem considerados os mais eficazes da região.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.