Ellen Johnson Sirleaf: "Parem de chamar crise à migração"
Lusa | Reuters | rl
6 de abril de 2019
A ex-Presidente da Libéria e prémio Nobel da Paz falava, este sábado (06.04), no"Ibrahim Governance Weekend", que decorre na Costa do Marfim, e no qual as migrações africanas estão em destaque.
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A Prémio Nobel da Paz e antiga presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, rejeitou, este sábado (06.04), a ideia de "uma crise de migrações" e defendeu uma "aliança entre a Europa e África" para criar "migrações legais e seguras".
"[As migrações] vão continuar a acontecer, por isso temos de aceita-las", disse.
Ellen Johnson Sirleaf falava na sessão inicial do Fórum Mo Ibrahim, que este ano decorre na Costa do Marfim e tem como temas a juventude, o emprego e as migrações africanas. E frisou que "a maior parte dos [africanos] que vão para o estrangeiro fazem-no de maneira legal, levam capitais e melhoram as economias dos países de acolhimento. Recentemente houve muitos movimentos de jovens africanos e isso criou medo em relação a este movimento".
Também o empresário e filantropo Mo Ibrahim contestou a "perceção de que os africanos estão a encher a Europa", sublinhando que os migrantes provenientes de África representam apenas 14% das migrações mundiais.
O também patrono da Fundação Mo Ibrahim frisou ainda que: "olhando para os números, vemos que não é o caso. Há mais europeus e asiáticos a migrar do que africanos", disse.
De acordo com os dados anuais da Fundação Mo Ibrahim, os migrantes africanos que rumam à Europa são na sua maioria jovens e instruídos, e quase metade são mulheres. É por isso importante, entende Mo Ibrahim que se trace um retrato verdadeiro destas migrações e se desmistifique a ideia de ameaça à segurança e estabilidade associada às migrações.
Por sua vez, Stefano Manservisi, diretor para o desenvolvimento Internacional e a Cooperação da Comissão Europeia, sustentou, que a única crise é as das "pessoas que morrem nas águas do Mediterrâneo". Para Manservisi, não se trata de conter os migrantes em África ou na Europa, mas gerir este movimento em conjunto, através de uma política de mobilidade entre os dois continentes.
"Tsunami de juventude"
Outro dos temas abordados por Mo Ibrahim foi o futuro da juventude. O patrono da Fundação Mo Ibrahim entende que África tem de "falar seriamente" sobre planeamento familiar porque os recursos são insuficientes para gerir "o tsunami de juventude" que representa o crescimento demográfico do continente.
"Não podemos continuar nesta espiral de criar milhões de pessoas que chegam ao mercado de trabalho e não têm emprego. Devemos falar seriamente sobre isto", defendeu Mo Ibrahim, lembrando que este é um debate que envolve questões religiosas, sociais e de mentalidade.
Para Mo Ibrahim, prevalece a ideia de que são precisos mais filhos para tomar conta dos pais quando estes forem velhos, mas o empresário defende que se as famílias tiverem recursos para providenciar educação para dois filhos e eles forem bem-sucedidos, assumirão essa função.
Por outro lado, sustentou, ter seis ou sete filhos sem recursos para lhes proporcionar educação aumenta o risco de não terem trabalho, ficarem dependentes e serem aliciados por organizações terroristas como o Boko Haram. "Não temos tempo nem recursos para gerir tantas pessoas", sublinhou.
África deverá concentrar em 2100 quase metade da população jovem mundial, 1,3 mil milhões de jovens qualificados, aos quais o crescimento económico do continente deverá conseguir responder com empregos ou perspetivas de mobilidade.
O "Ibrahim Governance Weekend" reúne todos os anos, numa cidade africana, líderes políticos e empresários, representantes da sociedade civil, instituições regionais e multilaterais, bem como os principais parceiros internacionais de África "para debaterem um tema crucial para o continente", segundo a organização.
África em 2018: Entre a esperança e o medo
Terrorismo em Moçambique e no Mali, combate à corrupção em Angola e na África do Sul, paz entre a Etiópia e a Eritreia, Camarões e RDC em crise. 2018 foi um ano turbulento em África. Uma retrospetiva em imagens.
Foto: Privat
Combate à corrupção e desigualdade social na África do Sul
No início do ano, o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, cede à pressão do Congresso Nacional Africano (ANC) e abandona o cargo, após nove anos no poder. Tem de responder em tribunal por corrupção, lavagem de dinheiro e fraude. O seu sucessor, Cyril Ramaphosa, lança um plano de reforma agrária para lutar contra as desigualdades sociais no país.
Foto: Reuters/N. Bothma
Reconciliação no Quénia
Em março, o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, e o líder da oposição, Raila Odinga, chegam a acordo para o fim da crise política. A oposição tinha boicotado a repetição das eleições do ano anterior, devido a suspeitas de manipulação. Odinga chega a "tomar posse" como "Presidente do povo", mas os líderes decidem pôr as diferenças de lado para dar início ao "processo de construção do Quénia".
Foto: Reuters/T. Mukoya
Sociedade civil sob pressão na Tanzânia
O Presidente John Magufuli torna-se cada vez mais autoritário e a sociedade civil da Tanzânia enfrenta inúmeras restrições. As mulheres grávidas são proibidas de ir à escola e os homossexuais são cada vez mais reprimidos. No final do ano, várias organizações internacionais suspendem os apoios financeiros ao desenvolvimento do país, exigindo ao Presidente que respeite os direitos humanos.
Foto: DW/V. Natalis
Mais de 20 anos depois, paz entre Etiópia e Eritreia
A companhia aérea "Ethiopian Airlines" chama-lhe "pássaro da paz": em julho, um avião parte de Addis Abeba para Asmara. É o primeiro voo direto entre os dois países vizinhos, antigos rivais. Famílias separadas há anos podem finalmente abraçar-se com o início do processo de reconciliação entre a Etiópia e a Eritreia, pela mão do novo primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed.
Foto: Ethiopian Broadcasting Corporation
O fim do nepotismo em Angola?
O Presidente angolano, João Lourenço, combate o nepotismo no país. Em setembro, a luta atinge José Filomeno dos Santos, Zenú: o filho do ex-Presidente José Eduardo dos Santos é detido sob acusações de corrupção. A irmã, Isabel dos Santos, já tinha sido exonerada no ano anterior da presidência do conselho de administração da petrolífera estatal Sonangol.
Foto: Grayling
RDC: Joseph Kabila de saída
Após muitos avanços e recuos, o Presidente da República Democrática do Congo anuncia, finalmente, que não vai candidatar-se às eleições de dezembro. O "delfim" do chefe de Estado é o ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary. Figuras proeminentes da oposição como Jean-Pierre Bemba e Moïse Katumbi são impedidos de entrar na corrida. E a oposição continua dividida.
Foto: Getty Images/AFP/J.D. Kannah
Extremismo islâmico continua a ameaçar o Mali
A situação de segurança no Mali mantém-se frágil, apesar da presença de tropas internacionais, como os soldados do Exército alemão em missão de treino, na foto. Nas presidenciais de agosto, após ameaças de radicais islâmicos, várias centenas de um total de 23 mil assembleias de voto são encerradas. Após alguns protestos da oposição, o Presidente Ibrahim Boubacar Keïta é empossado novamente.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Nobel da paz para Nadia Murad e Denis Mukwege
A defensora dos direitos humanos iraquiana e o médico congolês dedicam a vida à luta contra a violência sexual como arma de guerra. O ginecologista Denis Mukwege trata mulheres vítimas de violência sexual no hospital de Parzi, que fundou no leste da República Democrática do Congo.
Segundo a Amnistia Internacional, 400 pessoas morreram este ano no conflito entre o Governo dos Camarões e separatistas. As escolas estiveram várias vezes de portas fechadas e o mesmo aconteceu com muitas assembleias de voto nas eleições de outubro. Apenas 53% dos camaroneses conseguiram votar. Paul Byia foi eleito para um oitavo mandato na Presidência.
Foto: DW/H. Fotso
Moçambique: Terror em Cabo Delgado
Homens armados desconhecidos atacam esquadras, incendeiam casas e veículos e disparam contra a população na província nortenha. Os atacantes serão maioritariamente muçulmanos, mas as autoridades rejeitam uma ligação entre os ataques em Cabo Delgado e grupos radicais islâmicos. Em outubro, mais de 200 suspeitos de terrorismo são detidos. Onda de violência já fez 100 vítimas mortais.
Foto: Privat
Da Alemanha para África: Revisão das parcerias
Na cimeira de Berlim, em outubro, faz-se um balanço do programa "Compact with Africa" de cooperação alemã com o continente africano. O número de empresas alemãs a investir em África cresce a um ritmo lento. A chanceler Angela Merkel - na foto, entre o Presidente do Ruanda Paul Kagame e Cyril Ramaphosa, da África do Sul - anuncia um novo fundo de investimento de mil milhões de euros.