Em áudio, irmã instaria Isabel dos Santos a pagar dívidas
Lusa
24 de janeiro de 2020
Tchizé dos Santos teria afirmado que "é hora da cidadã que mais beneficiou das oportunidades de negócio em Angola retribuir". A ex-deputada teria dito que sofre pressões de figuras supostamente ligadas ao Governo.
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Uma declaração atribuída à ex-deputada do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Welwitschia dos Santos, circula pelas redes sociais e revela uma espécie de pressão familiar sobre Isabel dos Santos. No áudio, Tchizé dos Santos - como é conhecida a ex-parlamentar - insta a irmã a devolver "75 milhões" à Angola para pagar pendências legais.
"Como cidadã - esquecendo que sou irmã da engenheira Isabel, sabendo que há ativos em Angola e fora, se estivesse no lugar da cidadã Isabel dos Santos, mesmo que o dinheiro fosse todo lícito - o Estado angolano está a deixar muito claro que precisa urgentemente que a engenheira Isabel transfira algumas divisas para Angola", ouve-se no áudio divulgado pela agência Lusa.
Para a ex-parlamentar, Isabel dos Santos devia retribuir as oportunidades de negócio de que beneficiou em Angola e saldar as dívidas para com a Sonangol, sem referir-se a moeda na qual a transferência poderia ser feita.
"O que está em causa é a dívida de 75 milhões? Pague, então. […] Apesar de um Estado normalmente querer receber na sua moeda… Mas, se precisa de dólares e está a pedir à cidadã - a cidadã que mais beneficiou das oportunidades de negócio em Angola - está na hora de retribuir tudo o que o Estado lhe proporcionou, propiciando que fizesse grandes negócios e tornar-se a mulher que é hoje. Pronto, mande dinheiro para Angola", teria desafiado Tchizé.
Angola é de todos
No áudio, a irmã de Isabel dos Santos teria proposto: "Mais vale dar os 75 milhões de dólares ou euros como o Estado quer e - para além disso, em demonstração de boa fé - faça um investimento. Transfira para o país euros, dólares para fazer investimento. Construa uma Universidade Isabel dos Santos ou um hospital. Por exemplo, através de uma universidade ou de um hospital. Vamos resolver isso, Angola é de todos, vamos resolver o problema do país".
Para a irmã, a empresária devia reconhecer que é o Presidente da República quem tem o poder. "[Isabel devia dizer:] 'Para além de tudo o que já investi e os empregos que já gerei - e apesar de toda esta confusão - é o Presidente da República que manda […]. Já mostrei que não há ilicitude nenhuma'", ouve-se no áudio atribuído a Tchizé dos Santos.
Em áudio, irmã instaria Isabel dos Santos a pagar dívidas
O áudio aborda os supostos contratos de Isabel dos Santos nos Emirados Árabes: "Pronto, há o tal contrato do Dubai, mas aquilo ainda não é prova de ilicitude. A menos que aquilo que a senhora Paula [Cristina Neves Oliveira, administradora não executiva da operadora de telecomunicações NOS] assinou esteja a ser usufruído pela engenheira Isabel dos Santos. Mas acho que a senhora Paula fez o contrato, prestou os serviços, recebeu o dinheiro. Pode haver uma questão moral, mas não é crime".
Supostas ameaças
O áudio atribuído à ex-deputada alega que Tchizé dos Santos está a sofrer pressões por parte de figuras supostamente ligadas ao Governo para vender as suas participações em empresas angolanas.
Segundo a Agência Lusa, a ex-deputada do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) seria vítima de tentativas de silenciamento. No áudio, Tchizé dos Santos disse que teria recebido uma ligação telefónica de uma pessoa não identificada, que teria ameaçado congelar todos os seus ativos caso ela não se cale.
As denúncias apresentadas pela ex-deputada não foram bem vistas pelo canal de televisão Vida TV, da qual detém 25% de participação. A administração da emissora convidou a filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos a afastar-se devido a "reiteradas declarações públicas" que implicam "prejuízo e risco reputacional" para o canal.
Segundo Tchizé dos Santos, os sócios da Vida TV afirmaram que estão a ser ameaçados, assim como os seus anunciantes.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".