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Em Angola questiona-se a data das autárquicas

Madalena Sampaio 28 de abril de 2014

Em Angola, a institucionalização das autarquias locais e a realização das autárquicas é atualmente objeto de uma reivindicação quase generalizada, tanto de partidos políticos como de organizações da sociedade civil.

José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola, depois da votação nas eleições gerais de 2012Foto: Reuters

O tema está em debate esta terça e quarta-feira (29 e 30.04), em Luanda, numa conferência internacional organizada pelo Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC). Para a jornada de reflexão foram convidados políticos, ativistas, representantes de igrejas e académicos, entre outros participantes.

Em 12 anos de paz, Angola nunca elegeu representantes do poder local. O que falta, então, ser feito para se implementarem as autarquias – como está previsto na Constituição da República de 2010? E para quando a realização das primeiras eleições autárquicas no país, sucessivamente adiadas? Estas são perguntas a que se tenta responder na Conferência Internacional sobre Descentralização e Autarquias.

Os partidos da oposição têm acusado o Governo de falta de vontade política para implementar as autarquias, preferindo perpetuar um sistema de governação centralizador. E dizem que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder, tem medo de ir às urnas.

Se há ou não vontade política para a materialização deste processo é outra das questões em foco na conferência, que sentará à mesma mesa políticos, ativistas, representantes de igrejas e académicos.

Paira a incerteza

O jurista e cientista político Nelson Pestana, que participa na organização do evento, afirma que “não há um programa muito claro sobre as reformas e sobre a implementação das autarquias.”

Bandeira da UNITA numa reunião partidária no HuamboFoto: DW/N. Sul D'Angola

Pestana lembra que ”o líder da bancada parlamentar do MPLA, no princípio do ano, disse a um jornal que uma das prioridades da sua bancada seria a legislação para que se viabilizasse a institucionalização das autarquias e consequentemente, a realização de eleições autárquicas, que estão prometidas pelo Executivo para 2015."

No entanto, o analista político sublinha que "não só até agora não apresentou qualquer proposta nesse sentido, como também chumbaram a proposta da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Isso quer dizer que, efetivamente, há aqui exemplos de que, pelo menos temporariamente, o poder tem estado a bloquear o processo de criação das condições necessárias à implementação das autarquias.”

Recentemente, a bancada parlamentar do MPLA chumbou a proposta de lei sobre o poder local, apresentada pelo maior partido da oposição, a UNITA. A oposição previu, então, mais um adiamento das eleições.

As críticas da oposição

O Executivo tem alegado falta de condições para a concretização das eleições autárquicas, mas a oposição contesta.

Elias Isaac da Open Society em AngolaFoto: DW/Renate Krieger

O vice-presidente da bancada parlamentar da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, aponta outros motivos para a “falta de vontade política” demonstrada pelo Executivo: “Existe um receio do poder político instituído de que o poder local venha a limitar os poderes absolutamente verticais que hoje se exercem no país."

Adalberto da Costa Júnior lembra que "hoje temos em Angola o Presidente da República que é o exclusivo poder. É Presidente da República, é chefe do Executivo. Além disso, tudo o que a Assembleia da Repúblcia produziu até hoje foram iniciatiavas do Executivo."

Na opinião do membro da UNITA "as autarquias são olhadas como um atentado a essa predominância, a esse exercício exclusivo do poder do Presidente da República.”

Adalberto da Costa Júnior acredita que a rejeição da proposta de lei da UNITA “vai expor e obrigar a maioria parlamentar, no espaço máximo de um ano, a aprovar a lei sobre o poder local.”

Além da oposição política, também a sociedade civil angolana acredita que Angola não só tem condições como necessita urgentemente da realização de eleições autárquicas.

Governo conhece o seu povo?

Elias Isaac, da organização da sociedade civil Open Society, em Angola, defende que as autárquicas, neste momento, “não são de conveniência política para o Governo angolano.”

Para ele “o Governo têm receio de descentralizar porque sabem que vão perder algum poder. E esse é o maior receio que o Governo tem. Tenho dito que o Governo central só tem a capacidade de ver a floresta."

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Elias Isaac vai mais longe ao questionar a relação do Executivo com a população: "O Governo central aqui só vê Angola e não vê mais nada, mas um Governo local é um Governo que conhece cada árvore que compõe essa floresta. E isto é que é o mais importante. Aí existe uma maior capacidade porque os governos locais conhecem cada árvore, cada cidadão. Mas o Governo central não tem essa capacidade.”

Na conferência em Luanda serão também apresentadas experiências africanas de descentralização e autarquias, nomeadamente em Moçambique, na Zâmbia e na República Democrática do Congo (RDC).

O ex-autarca Jorge Santos, com mais de vinte anos de experiência na área, também irá falar das autarquias em Cabo Verde. Defende que Angola só tem a ganhar com a descentralização:“Cada país tem as suas prioridades. Nós não podemos avaliar as prioridades de outro país. Mas posso dizer que o poder local é um poder que traz mais-valias em termos de promoção do desenvolvimento. E, como tal, estou em crer que seria um ganho extraordinário [para Angola].”

Os angolanos aguardam há muito por uma descentralizaçãoFoto: AP
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