PAIGC celebra 60 anos e espera coesão interna do partido
19 de setembro de 2016O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) celebrou nesta segunda-feira (19.09) 60 anos de fundação. Em Bissau, capital guineense, membros do partido participaram de uma série de eventos alusivos à data, que foram acompanhados também por líderes e representantes de entidades políticas dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
O porta-voz do partido, João Bernardo Vieira, disse que a data precisa marcar a reconciliação e a coesão da força partidária. “O 60.° aniversário do partido é um marco importante para a mudança do partido. Apelou-se à reconciliação e à coesão interna, mas nunca cedendo nos princípios e valores do PAIGC”, afirmou Vieira.
O partido que esteve sempre nas rédeas de governação da Guiné-Bissau foi fundado por Amílcar Cabral, considerado pai das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, em 1956.
Para vários observadores em Bissau, apesar de ser um partido que lutou pela independência da Guiné-Bissau, o PAIGC foi o principal responsável pelo subdesenvolvimento do país. Domingos Simões Pereira, atual Presidente do partido, disse à DW África que na política nem tudo dá certo.
“Penso que os dois dias de reflexão que tivemos à volta do legado do Amílcar Cabral, face aos desafios da ética contemporânea, demonstraram claramente que os pensamentos de Amílcar Cabral mantêm-se atuais. Como a maior parte dos conferencistas fizeram questão de afirmar: quem tem uma história, tem uma responsabilidade. O PAIGC tem um partido criado numa altura em que era fundamental em ter uma ideologia, e Cabral foi capaz de conceder essa ideologia, de formatar todo o processo de uma sociedade livre, justa e desenvolvida”, disse.
Crise política
O partido comemora o seu aniversário depois de ter vencido as eleições de 2014 com maioria absoluta. Mas, apesar disso, o PAIGC amarga o fato de ter perdido o controlo do Parlamento devido à dissidência de 15 deputados que se juntaram à oposição – o Partido para a Renovação Social (PRS), para formar o atual Governo liderado por Baciro Djá.
Domingos Simões Pereira acredita que haverá um entendimento para desbloquear o país só se forem obedecidas as leis da República da Guiné-Bissau.
“Nós realizamos eleições, não simplesmente como uma figura de estilo. Nós realizamos eleições para, com base na Constituição, nós sermos capazes de verificar quem é que está mandatado para em nome do povo guineense exercer a governação. E, portanto, perante isto, você tem sempre duas opções: ou devolvo o poder ao povo, ou, enquanto não devolvo o poder ao povo, tem que respeitar a vontade do povo, e neste caso, tem conceder a competência ao PAIGC”, destacou Pereira.
União dos guineenses
Apesar da crise que toma conta do país, Domingos Simões Pereira está otimista que os guineenses vão se encontrar para viabilizar o equilíbrio político necessário. O antigo primeiro-ministro lança uma mensagem para que os guineenses acreditem em dias melhores.
Ouvida pela DW-Africa, a ativista guineense e cantora Karyna Gomes afirma que os ideais que nortearam a criação do PAIGC ainda estão vivos na atual liderança do partido.
Karyna, fez um balanço positivo dos 60 anos e afirma que todos os guineenses são responsáveis pela situação em que se encontra o país.
“O que se passa com o país, atualmente, é exatamente o que Cabral já havia previsto. Cabral tem frases célebres, como ‘nem todos são do partido', que quer dizer que nem todos estão nesta luta, nesse compromisso para libertar o povo e melhorar a qualidade de vida das populações”.