Edil de Quelimane defende maior aproximação entre municipalidades e organismos internacionais na área ambiental. Manuel de Araújo justifica que muitas vezes os edis não estão preparados para lidar com acidentes naturais.
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O Edil da Cidade de Quelimane, na província central da Zambézia, Moçambique, está aqui em Bona a participar de alguns encontros. O primeiro foi organizado pelo ICLEI, uma ONG que congrega organizações da sociedade civil, governos locais e doadores, e o segundo foi na sede do clima da ONU, onde decorre uma conferência preparatória para a Cimeira do Clima a acontecer no final deste ano. A DW África convidou Manuel de Araújo para uma conversa.
DW África: O que traz de Quelimane?
Manuel de Araújo (MA): Viemos cá partilhar a experiência de Quelimane, mostrar o que temos feito, mas também aprender o que os outros têm feito. Por exemplo, aprendemos muito na área da mobilidade, fazendo-se investimentos ou criando-se condições para que haja meios de transportes que não poluam. E nós temos uma vantagem logo de partida, que é o facto de Quelimane ser a capital do ciclismo, temos o taxi-bicicleta, que pode ser aproveitado como uma forma verde [de viver], porque o nosso sonho é transformar Quelimane numa cidade verde.
DW África: Está a partcipar também num encontro preparatório para a Cimeira do Clima que acontece este ano. Colheu algo interessante que possa ser aplicado no seu município?
MA: Sim, e tivemos vários encontros com oficiais e quadros superiores das Nações Unidas, incluindo a senhora Spinoza, que é a diretora executiva da plataforma das Nações Unidas para as mudanças climáticas, nos quais foram expostas as potencialidades que existem e vários aspetos em que o Município de Quelimane se pode envolver. Na sequência desses encontros fomos convidados para fazer a nossa apresentação nesta segunda-feira (08.05.) aqui, perante uma audiência formada pelos negociadores, pelos Estados-parte, incluindo alguns membros da delegação moçambicana, onde mostramos as nossas aspirações e para onde gostaríamos de ver essas negociações se dirigirem. O ideal seria que o nível nacional trabalhasse com o nível internacional, porque quando há um desastre antes do nível nacional somos nós os edis que enfrentamos [a situação], temos de estar lá na hora em que acontece um acidente. E os munícipes estão a nossa espera, nós muitas vezes não estamos preparados e nem temos as condições e muito menos o conhecimento para dar a resposta esperada.
DW África: O Município de Quelimane está abaixo do nível das águas do mar e por outro lado Moçambique vive constantes cheias. O que o seu município tem feito para enfrentar estes dois fenómenos?
MA: Muitas vezes acontece um ou outro, mas há vezes em que temos cheias que advém das chuva e ao mesmo tempo temos marés altas. O nosso sonho era termos uma bacia de proteção que pudesse armazenar pelo menos as águas das chuvas. Ao nível do município temos um sistema de proteção que quando essa situação acontece fecha as comportas para que a água das chuvas não se misture com a do mar em maré alta. Essas comportas tem funcionado convenientemente nos últimos anos, mas há vezes que a pressão é tanta que as comportas não são suficientes.
DW África: Essa é que é a solução ideal para Quelimane?
MA: É uma das soluções possíveis, a ideal era não termos o que está a acontecer, mas temos falta de meios e tendo em conta o que é possível fazer penso que essa seria uma das soluções mais recomendáveis.
ONLINE Manuel de Araujo - MP3-Mono
Bicicletas táxi em Moçambique
Quem em Quelimane se quiser movimentar rapidamente, apanha uma bicicleta táxi. As ruas da cidade são muito más para os transportes convencionais. Para muitos, a bicicleta táxi é uma forma de poderem obter algum dinheiro.
Foto: Gerald Henzinger
Bicicletas em alternativa aos carros
Quelimane é uma cidade na costa de Moçambique. Quem por aqui se quiser movimentar rapidamente, apanha uma bicicleta táxi. As ruas da cidade são muito más para os convencionais táxis e autocarro. Além disso, para muitas pessoas, a bicicleta táxi é uma das poucas formas de poderem obter algum dinheiro.
Foto: Gerald Henzinger
Estradas intransitáveis para carros
Quelimane é a capital da província moçambicana da Zambézia. No entanto, as estradas estão em estado deplorável. As pistas de terra estão cheias de buracos. Quando chove, enchem-se de água e tornam as estradas intransitáveis para os carros e para os miniautocarros. As bicicletas táxi, porém, podem contornar as poças de água.
Foto: Gerald Henzinger
Viajar de bicicleta táxi
Dependendo da distância, uma viagem de bicicleta táxi pode custar entre 5 e 20 meticais (aproximadamente entre 15 e 60 cêntimos de euro). Primeiro, o preço é negociado com o motorista. Depois, ocupa-se o lugar almofadado, que é feito especialmente por medida.
Foto: Gerald Henzinger
A bicicleta como alternativa ao desemprego
Em vez estarem desempregados, muitos moradores de Quelimane preferem conduzir uma bicicleta táxi. No entanto, o mercado está saturado com os vários milhares de bicicletas táxi que existem. Lutam todos por clientes entre os cerca de 200 mil habitantes. Isso faz baixar os preços e, por isso, as bicicletas táxi são um negócio difícil.
Foto: Gerald Henzinger
Samuel, taxista de bicicleta
Quando Samuel não está a trabalhar como motorista de serviço, está a estudar. Quando era criança só frequentou a escola até ao sexto ano. Os seus pais não tinham dinheiro e não podiam continuar a pagar os seus estudos. Agora, o jovem de 27 anos tenta obter o diploma do ensino secundário. “Se não o terminar, não vou conseguir um trabalho decente”, diz.
Foto: Gerald Henzinger
Francis, mecânico de bicicletas
Parafusos soltos e pneus lisos estão entre as preocupações quotidianas de um taxista de bicicleta. Francis arranja bicicletas no Mercado Central de Quelimane. Por cada tubo que remenda recebe cinco meticais (cerca de 20 cêntimos). Ganha cerca de 85 euros por mês. Desta forma, consegue alimentar a sua família.
Foto: Gerald Henzinger
Licença controversa
A Câmara Municipal de Quelimane quer reduzir o número de taxistas de bicicleta nas suas estradas. Por isso, no início de 2010, criou uma espécie de licença para estes condutores. Oficialmente, deveria custar cerca de 12 euros, mas os motoristas protestaram. A Câmara Municipal cedeu e suspendeu a licença.
Foto: Gerald Henzinger
Andar de bicicleta para cumprir um sonho
Para o jovem Francisco Manuel, de 19 anos, a bicicleta táxi é uma forma de financiar a sua formação. O seu trabalho de sonho é ser polícia. “Eu não quero roubar para sobreviver”, diz. Assim, optou pela bicicleta táxi. Com os 2,50 euros que ganha diariamente, consegue manter-se a si e ao seu filho.
Foto: Gerald Henzinger
Uma bicicleta táxi para toda a família
Na sua última viagem, Armando só conseguiu ganhar 80 meticais (cerca de três euros). “Foi um bom turno nocturno”, afirma, em jeito de balanço. Desde que o seu pai morreu, tem de ganhar dinheiro para toda a família com a bicicleta táxi. Armando não aprendeu a ler e a escrever, já que abandonou a escola por causa de uma deficiência visual após a terceira classe.
Foto: Gerald Henzinger
Pouco dinheiro para sobreviver
As bicicletas táxi ajudam muitas pessoas sem formação a obter algum dinheiro de forma legal. No entanto, depois de deduzidos os custos, muitas vezes sobram apenas um ou dois euros por dia. E quando estes taxistas ficam doentes, já não entra mais dinheiro em caixa.