"Em Cabo Delgado há necessidade das mulheres terem voz"
Leonel Matias (Maputo)
26 de maio de 2021
A ONU Mulheres em Moçambique necessita de 10 milhões de dólares para atender às necessidades imediatas e a médio prazo de cerca de 60 mil mulheres e raparigas nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula.
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A diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, apelou esta terça-feira (25.05) em Moçambique, para o reforço urgente da ajuda da comunidade internacional às vítimas dos ataques de alegados grupos jihadistas na província nortenha de Cabo Delgado.
Mlambo-Ngcuka falava em Maputo no âmbito do encontro subordinado ao tema "Mulheres, paz e segurança humanitária na perspectiva do género: perspectivas para a edificação de uma paz sustentável em Moçambique."
A representação da ONU Mulheres anunciou que a organização necessita de 10 milhões de dólares para atender as necessidades imediatas e a médio prazo de cerca de 60 mil mulheres e raparigas, nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula.
O montante seria investido na recuperação sócio económica das mulheres, na proteção e segurança de mulheres e raparigas afetadas por conflitos, no fortalecimento da capacitação nacional e na promoção da inclusão das mulheres e organizações femininas na resposta humanitária e na recuperação pós conflito.
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Desigualdade de género
A Oficial de Programas da ONU Mulheres em Moçambique, Lesira Gerdes, considera que a ausência deste financiamento pode afetar o acesso à educação e saúde, aumentar a insegurança alimentar e a desnutrição crónica, além de aumentar os riscos de violência sexual e a prostituição forçada.
"Milhares de mulheres e raparigas irão continuar num ciclo vicioso em que a desigualdade do género continua e, provavelmente, cresce ainda mais", salienta.
Dados divulgados pela ONU Mulheres em Moçambique indicam que, na sequência da crescente instabilidade no norte do país, cerca de um milhão e trezentas mil pessoas precisam de assistência imediata. Deste número mais de metade, cerca de 663 mil, são mulheres e raparigas. Por outro lado, dos 697 mil deslocados cerca de 380 mil são mulheres e raparigas.
Passar das palavras às ações
A diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, falando para uma audiência que incluiu representantes do governo, organizações não governamentais estrangeiras e diplomatas, reiterou o apoio da sua organização às vítimas da violência em Cabo Delgado, sublinhando que é importante passar das palavras às ações.
A responsável, que é igualmente sub-secretária-geral da ONU, disse que organizações da sociedade civil e femininas em Moçambique, com as quais reuniu-se esta semana defenderam que "em Cabo Delgado há necessidade das mulheres terem voz, serem ouvidas e os seus pontos de vista serem tidos em conta para alguma coisa".
Para Mlambo-Ngcuka "a participação das mulheres nos processos de paz contribui para uma paz duradoura e resiliente, assim como assegura que as sociedades e as comunidades se reconciliam".
Várias organizações da sociedade civil moçambicanas estão a levar a cabo iniciativas com vista a garantir uma participação mais ativa das mulheres nos processos de paz.
"Estamos a fazer ‘lobbies' para que tenhamos mais mulheres nas missões de paz, de modo a que possam atender aquilo que são as necessidades específicas das mulheres, tanto durante o conflito como também nos campos de reassentamento", explica Elisa Muianga, coordenadora da Academia política da mulher no Instituto para Democracia Multipartidária.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.