Em Inhambane, Filipe Nyusi não fala sobre ataques no norte
17 de junho de 2018
Presidente terminou a sua visita à província de Inhambane, este domingo (17.06). Durante comícios, população apresentou preocupação com situação dos ataques na zona norte do país, mas o chefe de Estado evitou o assunto.
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Durante os três dias em que esteve em Inhambane, o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, foi confrontado com a situação dos ataques e assassinatos na província de Cabo Delgado, no norte do país, mas evitou tocar no assunto. Na tarde deste domingo, no encerramento da visita, o silêncio manteve-se: o Presidente fez uma declaração aos jornalistas sem aceitar, no entanto, que lhe fossem feitas perguntas.
Nyusi reconheceu a consciência sobre a paz e afirmou que este deve ser um valor patriótico.
"Vimos até onde a consciência dos nossos cidadãos existe em relação à paz e às medidas. Deram bastante contribuições e conselhos. As preocupações que colocaram são muito poucas. Poucas, não no sentido de [serem] simples de resolver, mas mais para dizer aquilo que ouvimos" declarou.
Nyusi Inhambane - MP3-Stereo
Desafios para Moçambique
O país debate-se com dificuldades financeiras e calamidades naturais – como "o ciclone, cheias e inundações". Por isso, algumas atividades não estão sendo cumpridas, disse o Presidente.
O chefe de Estado falou ainda da importância do combate aos casamentos prematuros, com a necessidade de maior respeito às raparigas.
"Apelamos ao não casamento prematuro, as pessoas tem que respeitar a menina," alertou Nyusi.
Num outro contexto da sua declaração, o Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, incentivou à maior produção de comida para acabar com a desnutrição crónica no país, mas também acentuou ser preciso produzir alimentos de qualidade.
"Estamos habituados sim a comer mandioca. Mas temos que diversificar - não só para comer, mas também vender arroz, milho, tomate e cebola, ganhamos mais. Então, devemos as nossas hortas, o nosso arroz para os nossos indicadores melhorarem também em qualidade, não só em quantidade," concluiu.
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.