Moçambique: política de "olho por olho, dente por dente"
13 de abril de 2016 Analistas em Moçambique afirmam que o assassinato de José Manuel, na Beira, do quadro sénior do maior partido da oposição no sábado (09.04.), tem a ver com a tensão político-militar no país.
Segundo eles, o assassinato do membro do conselho de defesa e segurança do partido de Afonso Dhlakama, surge como resposta aos ataques da RENAMO.
Trata-se, segundo Jaime Macuane, de um cenário que a continuar assim, poderá perpetuar as confrontações em Moçambique. O académico explica que “se torna ainda mais inaceitável pensar-se que um padrão que vai sendo adotado de forma sistemática vai haver um período em que tudo vai parar, não. Cistac foi assim, Paulo Machava…”
Jaime Macuane entende ainda que este tipo de assassinato é inaceitável e a pouco e pouco está a ganhar força no país: “temos aqui uma força que não se sabe qual é, ao menos formalmente, que tem o poder de executar os moçambicanos. Então isto não se vai esfumar do nada. Então é preocupante e, isto, eu penso, é uma forma autoritária de resolver o conflito.”
Vale "olho por olho e dente por dente"
Já o jornalista Fernando Lima entende que o Governo e a RENAMO estão a fazer uma política de olho por olho e dente por dente, justificando que “se a RENAMO se der o direito de ir a estrada e dar tiros e matar pessoas, do outro lado há também o mesmo direito de na calada da noite bater à porta da casa de uma pessoa da RENAMO e dar um tiro na testa.”
Fernando Lima diz ainda que esta situação é degradante e que estas mortes devem parar: “É tão degradante que nos põe no mesmo paralelo e no mesmo patamar das ditaduras da América Latina em que os esquadrões da morte eram o dia-a-dia”. Além de José Manuel, outras duas pessoas, que estavam na sua companhia, foram mortas também a tiros na mesma ocasião, quando faziam o trajeto Aeroporto-Mercado Mascarenhas. Desconhecem-se os autores deste crime. Até agora a polícia está sem pistas sobre os atiradores.
O incidente ocorreu no mesmo dia em que dirigentes políticos, incluindo o chefe de Estado, Filipe Nyusi, e religiosos moçambicanos clamaram por paz e reconciliação dos, durante as exéquias fúnebres de Jaime Gonçalves, arcebispo emérito da Beira e mediador católico do Acordo Geral de Roma, em 1992, que pôs fim a 16 anos de guerra civil entre a RENAMO e o Governo da FRELIMO.
Foi também na segunda maior cidade de Moçambique que, a 20 de janeiro, o secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo, foi baleado por desconhecidos, num incidente que continua por esclarecer.