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Moçambique: mais de metade de pessoas com HIV sem tratamento

Filipa Serra Gaspar14 de janeiro de 2016

Cerca de um milhão e meio de pessoas vivem com o vírus da Imunodeficiência Humana, SIDA, em Moçambique, mas estima-se, de acordo com um relatório dos Médicos sem Fronteiras, que apenas 640 mil procuram tratamento.

Mosambik Friedliche Demonstration
Foto: Ismael Miquidade

O Governo Moçambicano considerou que o combate à epidemia se encontra “numa fase crítica”, devido à atual crise económica e dificuldade de obtenção de recursos. Ainda assim, espera-se que o número de novas infeções possa ser reduzido em 30% até 2019, conforme está previsto no IV Plano Estratégico Nacional de resposta ao HIV/SIDA entre 2015 e 2019.

Kirsi Viisainen, uma das responsáveis pelo Fundo Global de Luta Contra a SIDA, Tuberculose e Malária em Moçambique, afirma que a SIDA é um grande problema no país e alerta para a complexidade do problema.

“Nunca houve tantas pessoas a fazer o tratamento como agora. Mas nem todas as pessoas que estão infetadas podem receber o tratamento. É necessário chegar a um determinado estado clínico para se ter acesso aos tratamantos mas é isso que estamos a mudar e queremos que todos possam ser tratados de imediato. O problema é que o dinheiro aqui representa um papel muito importante porque atualmente não há recursos suficientes no país para tratar toda a gente”, declarou.

Novo Plano Estratégico

O
novo Plano Estratégico está avaliado em 661 milhões de euros e prevê a redução do índice de mortalidade em 40%, o aumento do número de benificiários de antirretrovirais em 80% e a diminuição do abandono do tratamento ao fim de três anos.

Evitar a transmissão de mãe para filho, aumentar a percentagem de homens circuncisados para 80% e expandir o uso do preservativo para 50% para quem teve mais de um parceiro nos últimos 12 meses são medidas que também constam no plano. No entanto, o maior desafio parece ser o alerta e consciencialização das populações.

Viisainen diz que ainda há um estigma: “precisamos mudar as mentalidades e explicar às populações que doença é esta, quais as causas, como se transmite e o que pode ser feito quando já há uma infeção”.

Campanha de sensibilização para o uso de preservativo em MoçambiqueFoto: UAFC/Beatrijs Janssen

Cerca de um terço da população infetada abandona o tratamento no primeiro ano e a responsável salienta que é preciso combater estas taxas de abandono que ocorrem devido à falta de informação, mas também por falta de recursos do Sistema Nacional de Saúde. É, assim, cada vez mais necessário que os pacientes comecem a medicação e que a continuem para se manterem saudáveis e esclareçam todas as dúvidas.

“Estamos a falar de um país, onde por vezes, para chegar a uma unidade de saúde é preciso andar mais de 10 quilómetros em estradas muito debilitadas. Fazer estes percursos regularmente para conseguir tratamento requer um grande compromisso dos pacientes. Manter as pessoas nos tratamentos é um grande desafio para o Governo”, lamenta Kirsi Viisainen.

Segundo estatísticas oficiais cerca de 45 mil pessoas morrem todos os anos devido à SIDA em Moçambique.

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