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Em Moçambique, proteger a natureza é fomentar a paz

11 de outubro de 2012

Em entrevista exclusiva à DW África, ex-presidente Joaquim Chissano disse que paz é condição para que parques naturais se desenvolvam. Moçambique pode combinar vários tipos de turismo, mas precisa de mais divulgação.

Em Moçambique, proteger a natureza é fomentar a paz
Em Moçambique, proteger a natureza é fomentar a pazFoto: Getty Images

Moçambique celebra este mês 20 anos de paz. A paz possibilitou também o estabelecimento de parques naturais transfronteiriços com a África do Sul, país que esteve em conflito com Moçambique durante a guerra civil.

O maior deles é o "Great Limpopo Park", que une o Krüger Park, na África do Sul, ao Parque do Limpopo, em Moçambique, e ao Parque do Gonarezhou, no Zimbábue, formando assim uma das maiores áreas de proteção ambiental de África.

A implementação do parque contou com o apoio da cooperação alemã por meio do banco estatal de desenvolvimento (KfW) e da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ).

O parque foi estabelecido há quase dez anos, quando os presidentes dos três países assinaram um acordo na cidade de Xai-Xai, em Moçambique, no dia 9 de dezembro de 2002.

Na altura, Joaquim Chissano era o presidente de Moçambique. Atualmente em visita a Berlim, o ex-chefe de Estado concedeu uma entrevista exclusiva à DW África.

DW África: Diria que depois destes dez anos o parque é um sucesso?

Ex-presidente moçambicano, Joaquim Chissano, apresentou em Berlim o conceito e as vantagens dos parques naturais transfronteiriçosFoto: Johannes Beck

Joaquim Chissano: Sim. Houve algumas dificuldades do ponto de vista institucional e da preparação das pessoas para trabalharem no parque, sobretudo da parte moçambicana, mas de momento posso dizer que todos os obstáculos foram ultrapassados.

DW África: Até que ponto o estabelecimento destes parques realmente ajuda a promover a paz entre os países? Ou será a paz uma condição prévia para o estabelecimento destes parques transfronteiriços?

JC: É verdade que a paz é uma condição para que os parques se desenvolvam, mas também a ideia de estabelecimento destes parques pode promover a paz, porque o interesse em preservar a fauna e a flora - haja ou não entendimento político entre as partes -, a necessidade em preservar os parque é comum.

Portanto, é um ponto de partida para um diálogo são. A promoção do conceito dos parques de paz é também uma promoção dos processos de paz entre países que possam estar em conflito.

DW África: Até que ponto o aumento da caça furtiva, nos últimos dois anos, põe em perigo estes objetivos de unir os parques através das fronteiras - quando, ao mesmo tempo, os caçadores furtivos passam, por exemplo, de Moçambique à África do Sul?

Ideia de construir um porto de águas profundas entre Maputo e a Ponta do Ouro, próxima à reserva dos elefantes, preocupa acologistas e ambientalistasFoto: DW

JC: Sim, esse é um perigo. Mas, o que precisamos é insistir na busca dos remédios contra isso, dar o sentido de pertença aos projetos às pessoas que vivem perto desses parques para que sejam elas próprias os verdadeiros guardas daquele produto que sentem que lhes pertence.

A maneira de fazer isso é o desenvolvimento de atividades económicas que possam substituir a necessidade de se venderem os recursos naturais da região, sejam eles madeira, animais ou carne.

DW África: Será que Moçambique ainda não tem uma fatia suficiente do bolo do turismo de natureza na África Austral? Por exemplo, há muito mais turistas que vão ao Krüger Park do que ao lado moçambicano. Como é possível atrair mais turistas?

JC: Isso é devido, primeiro, à falta de conhecimento dos próprios turistas. O Krüger Park é conhecido já há muito tempo. É desenvolvido, tem mais marketing etc.

Segundo, não tínhamos infraestruturas suficientes para atrair mais turistas. Temos uma coisa que o Krüger Park não tem: podemos combinar vários tipos de turismo.

O turismo das praias e o turismo cinegético, o turismo de paisagem com o turismo da vida selvagem. Temos mais mar perto dos parques que a África do Sul.

DW África: Há alguns projetos de desenvolvimento de Moçambique que, segundo alguns ecologistas e ambientalistas, podem pôr em perigo a preservação da natureza – nomeadamente a ideia de construir um porto de águas profundas entre Maputo e a Ponta do Ouro, que seria muito próxima à reserva dos elefantes. Acha que é viável construir o porto e, ao mesmo tempo, preservar a natureza nessa área?

Para Chissano, Moçambique oferece a possibilidade de combinar o turismo das praias e o turismo cinegético, o turismo de paisagem com o turismo da vida selvagemFoto: Johannes Beck

JC: Há os que defendem que é possível construir o porto sem interferir nas reservas, nos parques de animais e na preservação do ecossistema.

Há os que teem receios, mas que pensam que a discussão tem que ir até o ponto em que esteja garantido que a natureza não vai ser destruída.

A minha posição é que temos que fazer alguma coisa com muita certeza, porque se a coisa falha não seria possível voltar atrás.

Uma vez a natureza destruída, é difícil recompô-la. Desde o meu tempo, é por isso que não facilitamos muito a criação do porto que era para ser na Ponta do Bela e depois foi para outro lugar.

Portanto, é essa a busca de uma solução mais viável. Há as necessidades da economia que fazem pressão do outro lado e vamos ver qual é a melhor coisa para a economia zelar pelo bem-estar da população.

Neste momento, parece que o parque dá mais possibilidades de promoção da vida da população, pelo menos de imediato.

Deixo aos especialistas [a tarefa de] continuarem a estudar para ver como realmente se pode viabilizar a construção de um porto sem nunca prejudicar a conservação.

Autor: Johannes Beck (em Berlim)
Edição: Cristiane Vieira Teixeira / Renate Krieger


Interview Chissano lang - MP3-Mono

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