Assimi Goita, o líder da Junta do Mali, apelou para uma "união sagrada" e foco no desenvolvimento e estabilidade, em seu primeiro discurso à nação desde que seus vizinhos levantaram as duras sanções pós-golpe.
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"Chegou a hora de uma união sagrada em torno dos interesses superiores da nação", disse Assimi Goita, líder militar do Mali que chegou ao poder em um golpe de Estado em maio de 2021, num discurso que foi transmitido ao vivo.
"A luta pelo desenvolvimento é uma luta que deve envolver todos os malianos".
Os chefes da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) levantaram no último domingo as sanções ao regime militar do Mali, incluindo um embargo comercial e financeiro imposto em janeiro após a junta ter revelado um esquema para restaurar o governo civil dentro de cinco anos.
Sanções
As sanções atingiram gravemente este Estado do Sahel, sem litoral, cuja economia já está sob forte pressão de uma insurgência jihadista de uma década.
Os coronéis no poder haviam cedido às exigências da CEDEAO ao publicar uma nova lei eleitoral e um cronograma que inclui uma eleição presidencial em fevereiro de 2024, uma eleição que o bloco da África Ocidental aceitou.
"Nossa abordagem nunca foi questionar o retorno à ordem constitucional", disse Goita. "Mas isto deve ser feito em condições de segurança e estabilidade".
Ele elogiou seus militares pelo que ele descreveu como sua força crescente contra os jihadistas.
Reformas políticas e institucionais
"Devemos também avançar com determinação e responsabilidade nas reformas políticas e institucionais que estamos empreendendo, bem como nas ações de desenvolvimento para permitir que nosso país volte à estabilidade política e social", disse Goita.
Ele falou depois de ter viajado para a cidade ocidental de Nioro na terça-feira para lançar uma campanha para responder à insegurança alimentar, dizendo que a assistência humanitária era "um dever soberano para as autoridades de transição".
Em seu discurso ontem, o líder da junta agradeceu aos vizinhos Guiné e Mauritânia por sua "solidariedade" durante todo o embargo.
Ao permitir o trânsito de mercadorias através de suas capitais portuárias de Conakri e Nouakchott, a dupla permitiu que Mali contornasse o bloqueio da África Ocidental.
A crise política no Mali tem sido acompanhada por uma grave crise de segurança desde 2012 e pelo surto de insurgências separatistas e jihadistas no norte.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.