Embaixador sul-africano expulso dos EUA recebido como herói
26 de março de 2025
Ebrahim Rasool, embaixador da África do Sul nos Estados Unidos da América (EUA), regressou à Cidade do Cabo no passado domingo (23.03), onde foi recebido de forma calorosa por populares. Rasool, que foi expulso dos EUA e declarado persona non grata pela administração do Presidente Donald Trump, foi recebido no Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo por centenas de apoiantes que entoavam canções.
A multidão era tão grande que foi necessária uma escolta policial.
À sua chegada, o diplomata afirmou que a "declaração de persona non grata destina-se a humilhar" os sul-africanos, mas considerou que, com a calorosa receção, usará a declaração de persona non grata como um distintivo de dignidade. "Não foi nossa escolha regressar a casa, mas regressamos sem arrependimentos", disse Rasool à multidão e aos jornalistas, nos seus primeiros comentários desde que foi expulso.
Ao diplomata sul-africano tinha sido dado um prazo até sexta-feira para deixar os Estados Unidos, depois de ter afirmado, entre outras coisas, que o movimento "Make America Great Again" de Trump faz parte de "um instinto supremacista" nos Estados Unidos. Rasool falava num webinar organizado por um grupo de reflexão sul-africano.
O embaixador também tematizou a repressão de Trump aos programas de diversidade e equidade e as políticas de imigração.
Apesar das circunstâncias pouco convencionais que levaram à expulsão de Rasool dos Estados Unidos, o certo é que este episódio marca um novo ponto baixo nas relações entre Pretória e Washington. Porque raramente os Estados Unidos expulsam embaixadores mesmo de países considerados hostis, e muito menos de nações com as quais têm fortes relações comerciais.
Consequência diplomática
O analista político Ntsikelelo Breakfast, da Universidade Nelson Mandela, na cidade sul-africana de Gqeberha, disse à DW que "o relacionamento entre esses países desintegrou-se como uma coisa de consequência diplomática". Mas considerou tratar-se de "um segredo aberto". Para o analista, "é triste que as coisas tenham acontecido desta forma".
O académico sul-africano acrescentou que: "tendo em conta que Trump foi apoiado por cristãos nos EUA e alguns dos seus aliados são próximos a Israel, então era lógico que em algum momento eles nos iriam machucar."
Breakfast considerou, por conseguinte, que vai ser uma tarefa gigantesca remediar as relações bilaterais, porque, depois da China, os Estados Unidos são um parceiro estratégico para o governo da África do Sul.
A este respeito, o analista Daniel Silke, da Cidade do Cabo, em declarações à DW, avalia. "Francamente, a África do Sul é relativamente dispensável para a economia dos Estados Unidos. Se você toma uma posição contra países que você considera hostis ou que têm uma política externa que não está alinhada com a sua política externa e que são vistos como opositores aos interesses dos Estados Unidos, como parte dos BRICs, a África do Sul torna-se uma espécie de alvo."
Em fevereiro deste ano, o Presidente dos EUA, Donald Trump, já tinha emitido uma ordem executiva para cortar todo o financiamento à África do Sul. A administração de Trump acusa o país de apoiar o grupo militante palestiniano Hamas e o Irão. Além disso, a África do Sul apresentou um caso de genocídio contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça, algo que irritou os EUA, um firme aliado de Israel e o seu maior fornecedor de armas.
Sem apresentar provas, Trump também acusa a África do Sul de seguir políticas anti-brancas depois de ter aprovado uma lei que permite ao Estado expropriar terras sem indemnização se tal for considerado de interesse público.