Associação dos Empreiteiros de Cabo Delgado acusa o Governo de favorecer empresas estrangeiras na execução de obras públicas. Autoridades garantem que contratação de empreiteiros respeita o regulamento.
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As empresas do setor da construção na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, queixam-se de falta de acesso às oportunidades de contratação para a execução de obras públicas.
Os empresários acusam o Governo de favorecer empresas de origem estrangeira, mesmo em obras de pequena dimensão, como a manutenção de estradas.
Juvência Saísse, presidente da Associação dos Empreiteiros de Cabo Delgado (ASSECADE) defende, em entrevista à DW África, que o Governo deveria criar mais oportunidades de negócio para as empresas de construção desta região.
"Alguns países estão a correr para o nosso país que está, neste momento, a tornar-se fértil em áreas de serviço", lembra. "Como estão numa fase desenvolvida em relação a nós, quando se apresentam, mostram-se com uma robustez, mais equipamentos e conhecimento e nós acabamos ficando esquecidos".
Adjudicações duvidosas
Para além da priorização de empreiteiros estrangeiros, a ASSECADE diz que há falta de transparência na adjudicação de obras - mesmo em empresas de Cabo Delgado.
"Aquele que tem obras, tem-nas por esperteza", diz Dickson Davis, proprietário de uma firma de construção em Pemba. "Talvez porque o dono da obra conhece ali...é por isso que, muitas das vezes, algumas empresas fazem obras sem placas, sem concurso, por causa de serem conhecidas", considera.
Cabo Delgado: Empreiteiros exigem oportunidades de negócio
Reagindo às reclamações dos empreiteiros, o diretor Provincial de Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos de Cabo Delgado, Venâncio Taimo, negou que haja algum favoritismo na seleção de empreiteiros e garantiu que o seu setor obedece rigorosamente ao regulamento de contratação de obras públicas.
"Temos alguns exemplos, que não são poucos, de empreiteiros locais, incluindo nacionais, que têm obras na província. Infelizmente, alguns desses empreiteiros não honram com os compromissos, alguns mostram fraqueza no sentido de que um pequeno atraso no pagamento de uma fatura é motivo de paralisação total das obras", explica.
Venâncio Taimo recomenda às empresas de Cabo Delgado que apresentem propostas técnicas de qualidade e melhorem a prestação de serviços oferecidos, de modo a competirem em pé de igualdade com outras firmas nacionais e estrangeiras.
Promessa por cumprir
Logo após o ciclone Kenneth assolar a região, o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos reuniu com as empresas do ramo da construção de Cabo Delgado e prometeu que a reconstrução das infraestruturas danificadas pelo mau tempo seria feita preferencialmente por empresas locais. Uma promessa que, aos olhos da Associação dos Empreiteiros de Cabo Delgado, não está a ser cumprida.
Questionado pela DW África, Venâncio Taimo disse que as obras de reconstrução pós-ciclone na província ainda não arrancaram e que, no momento, há apenas intervenções localizadas para garantir o normal funcionamento dos serviços públicos, em projetos cuja maior parte é levada a cabo por parceiros de cooperação do Governo.
"No entendimento com o parceiro, pode ser que ele próprio faça a contratação. O parceiro faz a contratação e nós [Governo] fazemos o acompanhamento. Temos alguns exemplos de parceiros que financiaram algumas obras nestes termos, não se passou por nenhum lançamento de concurso", explica.
Feridas do ciclone Kenneth não cicatrizaram, seis meses depois
O ciclone Kenneth devastou o norte de Moçambique, em abril. 45 pessoas morreram e 250 mil foram afetadas pelo ciclone. Seis meses depois, muito já foi feito, mas muito continua por fazer na província de Cabo Delgado.
Foto: Reuters/OCHA/Saviano Abreu
Salas de aula por reconstruir
Mais de 500 salas de aula ficaram destruídas depois da passagem do ciclone Kenneth. Com apoio financeiro, recuperaram-se cerca de 100 salas. Em alguns casos, foram alocadas tendas às escolas destruídas para permitir o decurso das aulas. Entretanto, há várias escolas por reconstruir. Um exemplo é esta escola primária na Ilha das Quirimbas, distrito do Ibo, cuja cobertura foi arrasada.
Foto: DW
"Comida pelo trabalho"
O Programa Alimentar Mundial (PAM) em Cabo Delgado, chefiado por Enrique Alvarez, continua a prestar assistência alimentar às famílias afetadas pelo ciclone. Em agosto, iniciou uma nova etapa de reconstrução, denominada "Comida pelo trabalho", onde cerca 70 mil pessoas beneficiarão de apoio alimentar ou material de construção, mediante a prestação de trabalhos na comunidade.
Foto: DW
Setor da pesca atingido
O ciclone Kenneth destruiu ou danificou muitos barcos de pesca artesanal, e a atividade piscatória ficou paralisada. O motor deste barco ficou avariado com o ciclone e o proprietário e os seus sete trabalhadores viram-se obrigados a paralisar a atividade durante cinco meses.
Foto: DW/D. Anacleto
Lonas para cobrir as casas
Várias habitações devastadas pelo mau tempo em Cabo Delgado continuam por reabilitar. O Governo ofereceu tendas às famílias que tiveram as casas totalmente destruídas. Para muitas casas onde só o tecto ficou destruído, foram oferecidas lonas.
Foto: DW/D. Anacleto
A longa espera pelo reassentamento
Na cidade de Pemba, depois da passagem do ciclone, em abril, cerca de 300 famílias que tiveram as suas habitações destruídas foram levadas para o centro de trânsito do bairro de Chuiba. Aguardam aqui a distribuição de terrenos para recomeçar uma nova vida. "Ainda não há sinal de luz verde", lamentam estes cidadãos.
Foto: DW
Sistema de drenagem obstruído
Em abril, as chuvas intensas que se fizeram sentir em Pemba durante a passagem do Kenneth alagaram os bairros de Natite, Josina Machel, Eduardo Mondlane e Paquitequite. Uma das causas para o fenómeno terá sido o deficiente sistema de drenagem, que estava obstruído. O edil de Pemba, Florete Simba Motarua, promete melhorá-lo.
Foto: DW
Família pede ajuda
Uma das casas da família de Fernando Fernandes foi destruída pelo ciclone. Com um agregado numeroso, os membros têm de partilhar o pequeno espaço na residência principal. Fernandes renova o pedido de apoio a pessoas de boa-fé: "Se eles realmente sentem pelo desastre que o povo sofreu, que venham dar um apoio, não digo financeiro, mas material, como ferros ou cimento…"
Foto: DW
Lixeira municipal foi transferida
A lixeira municipal de Pemba, que há 60 anos ficava na unidade residencial de Chibuabuare, no centro da cidade, está agora a 22 quilómetros da zona urbana. A lixeira terá soterrado seis pessoas durante a passagem do ciclone Kenneth, em abril passado.
Foto: DW/D. Anacleto
União Europeia apoia reconstrução
A União Europeia ofereceu 3,5 milhões de euros para apoiar a reconstrução da autarquia de Pemba, através de um programa denominado "Mais Pemba". O programa de apoio inclui a melhoria das vias de acesso destruídas, requalificação dos espaços públicos e a limpeza da cidade. A maior parte das estradas danificadas pelo Kenneth em Pemba já foi reconstruída.