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Empresa quer que Maputo comece a "mopar"

13 de abril de 2017

Todos os dias produzem-se em Maputo mais de mil toneladas de lixo e a recolha dos resíduos é um grande problema da cidade. A empresa UX lançou um projeto que desafia os habitantes a "mopar". Sabe do que se trata?

Uma das empresas em plena recolha de lixo na periferia de MaputoFoto: DW/R. da Silva

Amélia Vangana, de 56 anos, vive no populoso bairro de Maxaquene A, que separa a parte urbana e periurbana no centro da capital. É considerado o bairro mais problemático na gestão do lixo.

De pá na mão e botas de cano alto, junta o lixo para ser removido pelos chamados "tchovas", carrinhos de tração humana de duas rodas usados para a recolha de resíduos sólidos na periferia.

"Vêm estes da carrinha, mas não é agora. Talvez daqui a duas semanas virão recolher o lixo", comenta. Mas duas semanas é muito tempo para o lixo ficar no quintal - Amélia Vangana ainda não sabe que a recolha do lixo pode melhorar através do uso de um simples telemóvel.

O MOPA usa a tecnologia para monitorizar e melhorar a recolha do lixo em MaputoFoto: DW/R. da Silva

O projeto chama-se MOPA (Monitoria Participativa Maputo) e foi idealizado pela UX, uma empresa moçambicana que usa a tecnologia para monitorizar e melhorar a recolha do lixo. A empresa está a trabalhar em parceria com o Conselho Municipal da capital.

Tiago Borges Coelho, um dos fundadores da UX, explica à DW África que o procedimento é simples - basta ter um telemóvel.

Tiago Borges Coelho é um dos fundadores da UXFoto: DW/R. da Silva

"O *311# é um código que se pode digitar em qualquer operadora a nível nacional e que ativa um menu interativo, onde as pessoas podem escolher a sua localização e que tipo de problema estão a ver - lixo fora do contentor ou um contentor que está a arder, por exemplo". Enviam o relatório e este será reencaminhado ao Conselho Municipal e aos operadores de lixo na cidade.

O projeto, testado primeiramente em quatro bairros de Maputo, trouxe uma nova designação para reportar problemas de lixo: "mopar".

Por semana, já "mopam" em média mil pessoas. Mas ainda é pouco, diz Tiago Borges Coelho. "O que nós estamos a fazer é lidar com os secretários dos bairros. Mover campanhas a nível de base e educação das pessoas para que elas comecem a usar este canal", explica.

Contraste: Recolha do lixo em Maputo - MP3-Stereo

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Um problema de todos

Mais a norte da capital, é no bairro de Magoanine C que os munícipes têm estado a "mopar", explica Elsa Manhique. Segundo a fiscal do Conselho Municipal de Maputo, "como certos munícipes ainda não sabem da hora da recolha dos contentores, por vezes 'mopam' fora do horário estipulado pela empresa. 'Mopam' nas primeiras horas, período em que as microempresas entram para o terreno para fazer a limpeza em volta do contentor".

Uma das empresas em plena recolha de lixo na periferia de MaputoFoto: DW/R. da Silva

Segundo Tiago Borges Coelho, o objetivo da empresa UX passa por envolver todos os cidadãos na solução do problema do lixo neste território.

"O que nós queremos é que os cidadãos sejam parte da solução. É dever dos cidadãos, sempre que virem um problema, usar a plataforma para o reportar, para que do lado do Conselho Municipal e dos operadores haja mais informação sobre onde é que estão estes sítios problemáticos nos bairros", explica.

No bairro da Polana Caniço A, na parte este de Maputo, Derque Gomes, de 29 anos, põe sempre o lixo num contentor. À DW África, afirma que sabe que pode "mopar", embora não saiba bem o que isso significa: "Já ouvi falar, mas nunca procurei inteirar-me sobre o assunto", admite.

Também Lídia Augusto, de 42 anos, reside neste bairro e acaba de depositar lixo ao lado de um contentor que já está cheio. Em entrevista, Lídia revela que, às vezes, passa um mês sem que o lixo seja recolhido. O resultado é uma montanha de resíduos sólidos.

Funcionários do Município de Maputo fiscalizam os "tchovas"Foto: DW/R. da Silva

O papel dos fiscais

No local encontramos um funcionário do Município de Maputo que fiscaliza os "tchovas". Em mãos, o fiscal Sebastião Alfeu tem uma longa lista de cidadãos que "moparam", mas os problemas persistem.

"Alguns munícipes têm 'mopado' fora do horário da recolha do contentor por falta de informação. Ou 'mopam' num horário em que o contentor está cheio e as microempresas estão ainda a trabalhar ou a depositar os resíduos nos contentores", conta à DW.

Muitas vezes, os cidadãos depositam o lixo fora do horário estabelecido, às seis horas da manhã. Em resultado, cria-se uma lixeira.

O fiscal Sebastião Alfeu também tem a tarefa de solucionar estes casos. "Alguém 'mopou' que no bairro X tem uma lixeira informal. Então temos de nos deslocar para ver o grau desta lixeira informal e por que é que ela existe, se temos uma microempresa que é responsável pela recolha de resíduos no bairro", explica.

Por semana já "mopam”, em média, mil pessoasFoto: DW/R. da Silva

 MOPA é famosa no bairro de Maxaquene B

Em todos os bairros suburbanos, a partir das seis horas ouve-se o soar de um apito, e no bairro de Maxaquene B, muitos jovens, cada um com o seu carrinho, procuram sacos com lixo.

É neste bairro que o MOPA é mais usado, embora também haja habitantes que pouco sabem sobre como se pode fazer a recolha do lixo usando o telemóvel. Jacinto Zucula, de 29 anos, é um deles. Desesperado, lamenta o fato de os "tchovas" aparecerem poucas vezes nos becos de Maxaquene.

"Há carrinhas que passam, mas na minha casa nunca entraram. Não sei como é que eles trabalham. É regular, semanalmente, acho que é duas vezes por semana”, afirma.

Zucula gostava de saber "mopar" para resolver o problema do lixo."Se eu soubesse, iria reclamar e dizer o que está a acontecer aqui na zona", dá conta o morador.

Jovens integram equipa da empresa UXFoto: DW/R. da Silva

UX afina pormenores do projeto

Nos escritórios da empresa UX, usam-se computadores para identificar áreas com problemas de lixo. Mas a empresa está mais preocupada em reduzir o tempo de espera dos cidadãos quando "mopam".

Depois de reportado o problema, o cidadão espera entre três a quatro dias. Segundo Tiago Borges Coelho, este é o problema que a UX quer atacar.

UX quer reduzir o tempo de espera dos cidadãos quando "mopam"Foto: DW/R. da Silva

"O MOPA permite que o Conselho Municipal consiga saber em tempo real quais são os operadores que estão a trabalhar melhor ou pior nos seus bairros. Sempre que entra um relatório de um cidadão, não só o Conselho Municipal é notificado, como também os SMS são enviados para as microoperadoras. Estas empresas beneficiam de saber no seu bairro quais são as zonas que têm maior problema o que lhes permite trabalhar de maneira mais eficiente”.

Há cinco anos, o maior problema que a cidade de Maputo enfrentava era o lixo. Agora, com o MOPA, é um "mal menor", afirma a UX, acrescentando que "com o progresso do tempo a relação com o lixo está a ser melhorada em grande parte devido ao esforço da direção municipal de resíduos sólidos e de empresas de reciclagem que têm estado a fazer esforços nesse sentido."

O MOPA ganhou um prémio em Accra, a capital do Gana, em 2016, num concurso internacional de inovação onde foram apresentadas 300 ideias. É um projeto que já está a dar frutos em Maputo e a melhorar a vida dos cidadãos.

 

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