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Ruandeses reagem ao encerramento de 700 igrejas no país

Friederike Müller-Jung | tm | AFP
2 de março de 2018

O Governo alega que os estabelecimentos religiosos não têm as mínimas condições de segurança e higiene para receber os fiéis. Para especialista, medida visa conter a influência das igrejas.

Igreja em Kigali (foto de arquivo/2016)Foto: Getty Images/AFP/S. Aglietti

No Ruanda, pelo menos 714 igrejas foram encerradas, esta quinta-feira (01.03), na capital Kigali. A medida, que afeta principalmente as igrejas Pentecostais, foi executada pelas Forças de Segurança, funcionários do Governo e da administração municipal. Os estabelecimentos foram inspecionados e fechados sob a alegação de não apresentarem padrões de segurança e higiene mínimos.

Para uma cidadã ruandesa, que preferiu não se identificar, a decisão do Governo foi acertada. "Finalmente as autoridades fizeram algo. Eu sou pentecostal, mas desejava isso há muito tempo, porque muitos de nossos pastores são criminosos. Eles criam igrejas apenas para ganhar dinheiro".

"Encerramento de mais de 700 igrejas no Ruanda é um ato político", diz especilista

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Infraestrutura precária

Não são poucos os casos de "autodenominados" pregadores que enriquecem com o dinheiro dos fiéis em países africanos. E também há críticas à poluição sonora: muitas vezes os pregadores transmitem suas mensagens com megafones. No Ruanda, especialmente, critica-se a infraestrutura.

"As igrejas não cumprem os padrões de higiene e espaço", disse Shyaka Anastase, funcionária da administração ruandesa, acrescentando que em "alguns locais as igrejas reúnem centenas de fiéis, mas não têm sequer saneamento, e as pessoas rezam em barracas ou até mesmo porões".

De acordo com outro cidadão ruandês, "os pastores violam os direitos de seus fiéis, sufocando-os nessas pequenas igrejas sem espaço".

O poder das igrejas

Entretanto, por trás da medida do Governo ruandês, acredita-se haver mais motivos do que a mera "proteção dos fiéis". Trata-se do medo de que o poder crescente dos religiosos possa influenciar a política, relata Phil Clark, pesquisador do Centro de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres (SOAS), que está no Ruanda.

(foto de arquivo/2016)Foto: Getty Images/AFP/S. Aglietti

"O encerramento dessas igrejas é um ato muito mais político do que o Governo diz. Ele está sinalizando às igrejas, e outras organizações sociais do Ruanda, que elas estão sendo vigiadas. Eu interpreto o ato como um claro aviso", pondera.

Até agora, as comunidades pentecostais no Ruanda têm relutado em falar sobre assuntos políticos, diz o especialista. Em outros países, contudo, grupos religiosos já estão influenciando ativamente eventos políticos. Na vizinha República Democrática do Congo, grupos católicos estão organizando manifestações contra o Presidente Joseph Kabila, exigindo que ele deixe o cargo.

É por isso que, num contexto em que o movimento religioso pentecostal no Ruanda não para de crescer política e economicamente, o Governo pode estar a tentar freá-lo com o encerramento das igrejas, acredita o especialista da Universidade de Londres.

"O Governo ruandês notou que essas igrejas também são um 'negócio', com poder económico crescente. Esse poder é visto pelo grande número de fiéis que frequenta igrejas aos domingos de manhã, por exemplo. E esse é o tipo de coisa que o Governo quer conter".

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